Chama-se Nivaldo Macie, residente no bairro de Tchumene 2, no município da Matola, província de Maputo, e é o dono do cão da raça pitbull que, na última quarta-feira (23), tirou a vida de uma criança de cinco anos de idade, que em vida respondia pelo nome de Atin Samundine.
Após o sucedido, “Carta” entrou em contacto com Macie para perceber o que teria acontecido para que o animal escapasse da sua residência, mas este recusou-se a falar, afirmando: “Não estou autorizado a falar, a não ser com a Polícia”. Na manhã desta segunda-feira (28), entrámos novamente em contacto com o proprietário do cão, que apenas disse estar a gerir uma situação e que não tinha cabeça para falar à imprensa.
Segundo um dos vizinhos, o dono terá esquecido de trancar o cão e, ao abrir o portão de casa, o animal que não estava amarrado fugiu. Terá então começado a perseguir outro cão, que também se encontrava na mesma casa. Já na rua, assustado com o movimento das pessoas, o cão atacou a criança que brincava com outras duas, próximo da sua residência.
Pai da criança descreve o drama que viveu ao ver o filho ser morto por um cão
Em conversa com a nossa reportagem, Samundine Nwula, pai do menor Atin Samundine, descreveu com lágrimas nos olhos o que viveu naquele dia: “Naquela quarta-feira, eu estava dentro de casa a descansar, porque trabalho durante a noite, e de repente comecei a ouvir os vizinhos a gritar na rua que um cão estava a devorar uma criança. Decidi aproximar-me para acudir, sem saber que se tratava do meu filho”, frisou.
Mais adiante, Nwala explica com angústia o profundo trauma e sofrimento em contexto de intervenção para salvar o seu filho, mas que terminou em fracasso. “Ao aproximar-me, levei alguns segundos para perceber que era o meu filho. Logo que o vi, entrei com tudo para tentar que o cão largasse a criança. No meio da luta, enquanto batíamos no cão com pedras, blocos, ferros e paus, vi que o animal não largava o meu filho. Afastei-me e vi o cão a matar o meu próprio filho. Eu e a minha esposa assistimos à morte do nosso filho. Afastei-me porque percebi que o cão, de tão raivoso, também podia atacar-me”.
Nwala relata ainda que, depois que o cão matou o seu filho, algumas pessoas da zona saíram no encalço do animal para descobrir a sua proveniência e teve ainda de aguardar mais de três horas pela chegada do Serviço Nacional de Investigação Criminal (SERNIC) para a remoção do corpo.
“O cão atacou o meu filho por volta das 13h00 e só por volta das 16h00 é que o SERNIC apareceu e retirou o corpo para o Hospital Provincial da Matola. Depois da autópsia, confirmou-se a tortura que o meu filho sofreu, inclusive a língua foi encontrada enrolada no pescoço da criança”, lamentou com lágrimas nos olhos, recordando o sofrimento da criança.
Neste momento, a família vive um misto de dor e revolta, não só pela perda do filho, mas também pelo silêncio e falta de solidariedade do proprietário do cão. “Temos um sentimento de revolta, porque o dono do cão devia, pelo menos, aproximar-se para mostrar solidariedade à família. Sei que ele não pode trazer o nosso filho de volta, mas devia ter vindo falar connosco. Agora, tudo está nas mãos das autoridades, só espero que seja responsabilizado para que possamos ter alguma paz”, disse.
Nwala conta que, desde que o incidente ocorreu, apenas viu o rosto do proprietário do cão à distância, na esquadra de Tchumene. “Quando tudo aconteceu, a única pessoa que apareceu para prestar solidariedade foi o pai ou tio do dono do cão (não sei ao certo quem era, pois tudo estava muito conturbado). O próprio dono do cão nunca deu a cara”.
Calisto Machava, chefe do quarteirão 25C, no bairro de Tchumene, lamentou o sucedido: “aquela criança foi estrangulada pelo cão. É uma fatalidade que lamentamos profundamente. Espero que as autoridades responsabilizem o dono do cão para que tragédias destas não voltem a acontecer no nosso bairro”.