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10 de Abril, 2025

Jornalistas sentem-se cada vez mais inseguros e vulneráveis a ataques ao fazer jornalismo investigativo – estudo

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Um estudo apresentado esta quarta-feira (09), em Maputo, indica que, de uma forma geral, os jornalistas experimentam uma forte sensação de insegurança quando abraçam o jornalismo investigativo em Moçambique. O relatório resulta de um trabalho de três pesquisadores, nomeadamente, Luca Bussotti, Armando Nhantumbo e Laura Nhauleque.

Apresentado pelo jornalista do MISA Moçambique, Armando Nhantumbo, durante uma mesa-redonda multissectorial sobre “Mídia em Tempos de Crise: uma reflexão a partir das eleições gerais de Moçambique de 2024”, o estudo teve como objectivo avaliar a situação da mídia no país, focando particularmente nas questões de segurança ligadas ao jornalismo investigativo, uma área considerada crítica. O foco principal da investigação foram as rádios comunitárias.

No âmbito da pesquisa, um dos aspectos considerados prioritários foi o papel da mulher no jornalismo, especialmente no contexto do jornalismo investigativo. Dos resultados obtidos, foram identificadas duas principais fontes de insegurança sentida pelos profissionais da área, sendo a primeira o poder político.

“Estes foram os relatos recolhidos nos grupos de discussão. Os jornalistas dizem que há cada vez mais interesse, por parte das autoridades, em vigiar, condicionar e controlar a forma como se reportam os acontecimentos, especialmente os mais sensíveis, relacionados com o jornalismo investigativo”, explicou Armando Nhantumbo.

Um exemplo de baixo nível de ameaça diz respeito à cobertura da inauguração de uma fonte de água, mas quando o trabalho envolve a monitoria das acções de governação ou desvios de fundos, o cenário de insegurança aumenta consideravelmente.

Realizada entre os meses de Junho e Agosto – antes do pico da crise pós-eleitoral, a pesquisa já indicava que quase todos os jornalistas entrevistados apontavam os períodos eleitorais como os mais críticos em termos de violações da liberdade de imprensa.

“Só tivemos de esperar mais dois ou três meses, até ao início da crise pós-eleitoral, para confirmar que o receio manifestado pelos jornalistas era justificado, pois as ameaças voltaram a verificar-se”.

A segunda fonte de insegurança é o poder económico. “Os grupos económicos também impõem ameaças ou instabilidade aos jornalistas, sob várias formas. Uma das mais conhecidas é a manipulação dos órgãos de comunicação através da pressão económica, como o corte de anúncios e publicidade, como forma de chantagem”, destacou Nhantumbo.

O estudo também analisou o contexto de Cabo Delgado, que nos últimos anos se tornou um exemplo paradigmático de violação da liberdade de imprensa. “Basta ver os relatórios sobre a liberdade de imprensa. Desde 2019, com as detenções de jornalistas, como Amade Abubacar, esta província tornou-se num ambiente hostil para o exercício do jornalismo”, acrescentou.

A equipa de pesquisa também procurou compreender como Cabo Delgado se diferencia do restante território nacional, como se fosse uma “outra república” no que toca à liberdade de imprensa.

“Em Cabo Delgado encontrámos um cenário ainda mais extremo. Existe uma sensação muito mais acentuada de que não é possível realizar investigação jornalística de forma independente e segura. E este receio não se limita à classe jornalística, nota-se também entre as próprias fontes de informação”.

Por fim, o investigador salientou que, em alguns casos, as ameaças partem dos próprios jornalistas, devido a fragilidades técnicas e profissionais. “Histórias sensacionalistas, sem o devido rigor profissional e deontológico, acabam por criar armadilhas dentro da própria classe”.

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