As autoridades em Cabo Delgado estimam que perto de um milhão de pessoas regressaram às suas zonas de origem, mercê do restabelecimento de segurança nos distritos afectados pelo terrorismo.
O governador de Cabo Delgado, Valige Tauabo, reiterou esta terça-feira que o regresso das famílias não é obrigatório, mas alguns investigadores alertam para a necessidade de reforço de segurança e de condições para a sobrevivência da população que vai regressando.
O Observatório do Meio Rural (ORM), num estudo apresentado esta quarta-feira (08) em Pemba, pelo pesquisador João Feijó, observa que em muitas zonas onde a população tende a regressar, não há serviços básicos e são reportadas ainda situações de fome, para além de fraca presença do Estado.
No mesmo encontro, Fidel Terenciano, investigador do IDES, defendeu que o fim do conflito em Cabo Delgado passa pela valorização das soluções locais que muitas vezes não são levadas em consideração, alertando que a população local não é ignorante.
Disse ainda que sempre haverá ataques esporádicos protagonizados pelos terroristas ou mesmo por indivíduos que se fazem passar por elementos das Forças de Defesa e Segurança para protagonizar assaltos.
Para Fidel Terenciano, é crucial a ligação entre as Forças de Defesa e Segurança e a Comunidade, à semelhança do que acontece com as ruandesas, lembrando que muitas denúncias feitas pelas populações no passado têm sido ignoradas.
Por seu turno, o professor Paulo Israel, também presente no encontro, observou que a resposta do governo face às incursões terroristas não deve ser apenas de intervenção militar, havendo países, como Somália, onde a estratégia fracassou e os ataques prevaleceram. (Carta)