Normalmente, nós os cidadãos somos representados por organizações não governamentais (ONG) nos assuntos que nos dizem respeito. Se a maioria destas ONG não fossem estruturadas, geridas e financiadas por governos estrangeiros, com objectivos claramente políticos, não haveria nada errado.
Os propósitos dos seus registos oficiais até são positivos, entretanto, o resultado produzido deixa muito a desejar. Para o caro leitor ter uma ideia, a maior parte dos países que patrocinam as ONG em Moçambique e em Africa no geral não permitem a abertura de ONG nos seus países e, quando o fazem, obrigam-nas a um escrutínio apertado, com licença de funcionamento limitado. Por exemplo, a directiva da União Europeia 2015/849 ou a Lei 35/98 sobre as ONG em Portugal, na Suécia, UK e USA não é diferente.
O cerne de fundo deste artigo são as verdadeiras Sociedades Civis que, historicamente, se organizaram desde 1914. Refiro-me às diferentes Associações como a dos engraxadores, enfermeiros, comerciantes, Grupos Religiosos e Culturais, como Centro Associativo Negrófilos, Associação Africana, Os Comorianos, Clubes, jornais, etc.
Estas e muitas outras Associações pelo País cumpriram o seu papel, na promoção dos sentimentos patrióticos das sociedades, que representavam respectivamente. Esta representatividade marcou as agendas sócio-políticas e económicas do nosso País, incluindo a Luta pela Independência. Uma grande maioria dos governantes, pós-independência, provinham ou eram descendentes desta Sociedade Civil. Provavelmente, a Sociedade Civil, sentindo-se representada, no Governo Nacionalista, baixou a guarda.
A evolução política nacional, como não podia deixar de ser, foi alienada nas guerras Geopolíticas, perdendo-se no objectivo último, que era o Desenvolvimento Nacional.
O fim do Samorismo, a queda da União Soviética, a Globalização do Liberalismo, mudaram radicalmente as características e objectivos dos nossos governantes e, consequentemente, dos nossos objectivos. Estas mudanças radicais, cuja missão clara era de empobrecimento dos nossos Países Africanos, com consequências graves na perda da qualidade de vida dos moçambicanos, apanhou em contrapé a verdadeira Sociedade Civil.
Adormecida ainda, foi aproveitada pelo novo fenómeno das ONG estrangeiras, pela utopia da democracia multipartidária e pelas falsas promessas de desenvolvimento do sistema liberal.
Passaram-se 35 anos desde que se iniciou o fim de um governo representativo social, para um modelo político-partidário.
Felizmente, não há nenhuma noite escura que não acabe na madrugada, com o nascer do sol.
É com agrado que vejo Patriotas, alguns Octogenários, outros muitos próximos, como Joaquim Chissano, Armando Guebuza, Joaquim Chipande, Luís B. Honwana, Óscar Monteiro, Hermenegildo Gamito, Marina Pachinwapa, Padre Couto, Fernando Fazenda, Lourenço do Rosário, Ivo Garrido, Castel Branco, Elísio Macamo, Fernando Lima, João Mosca, Yussuf Adamo, e outros com menos idade, como Eduardo Mondlane Jr., Mia Couto, Paulina Chiziane, Severino Ngwenha, Marcelo Mosse, Matias Guente, Daniel David, Edson Cortez, Ismael Mussa, Hélder Naiene, Yok Chan, Adelino Buque, Yassine Amuji, Paulino Macaringue, Felix Machado, Arnaldo Ribeiro, Arnaldo Tembe, Almeida Tomás, Jorge Ferrão, Narciso Matos, Gilberto Correia, Ericino de Salema e Tomás Vieira Mário, instituições como Rádio Moçambique, Savana, Teatros Gungu e Mutumbela Gogo, AEM, Conselho Islâmico, Conselho Cristão, Igreja Presbiteriana, UEM, OAM, bem como muitas outras inúmeras individualidades, instituições e organizações, que lamentavelmente não cabem neste artigo de opinião, boa parte dos quais reapareceram, tentando recolocar o “comboio Patriota nos carris”, bem hajam.
A importância da atitude destas individualidades, instituições e movimentos é de importância capital na defesa social, que um País pode ter. Cabe à Verdadeira Sociedade Civil iluminar os caminhos a serem trilhados pelos governantes, escrutiná-los, premiá-los ou puni-los, através da opinião pública e orientação do voto. Quem governa tem que sentir que foi eleito porque apresentou um compromisso programático, coerente, teve o benefício da dúvida, porém, será vigiado e cobrado ao longo da governação, a par e passo.
O Poder é inebriante, uma vez investido, temos a tendência de esquecer os fundamentos e, facilmente, abusamos dos seus limites, se não formos recordados permanentemente.
Um Sábio Milenar definiu o poder “como uma corda com duas pontas, de um lado está o governo e do outro a sociedade civil. Quando a sociedade civil puxa a corda, o governante deixa a corda fluir, quando a sociedade para de puxar, o governo puxa.”
A Verdadeira Sociedade Civil é pragmática, sábia, paciente, rica em conhecimento e insubstituível. Juntos podemos levar Moçambique a bom porto, em benefícios de todos.
O desenvolvimento de uma Nação é como o crescimento do músculo, se não causar dor, não está a crescer. Ninguém consegue governar, para desenvolver em benefício dos cidadãos, se não tiver a Verdadeira Sociedade Civil como aliada.
A democracia ocidental torna-se desadequada no contexto de empobrecimento, em que Moçambique se encontra, pelo simples facto de que devemos ser criteriosos, com a Despesa Pública, intransigentes na defesa do Património do Estado e cegos no cumprimento da Lei.
Governar para o desenvolvimento de um País subdesenvolvido ou empobrecido é como educar uma criança - impregnação de princípios e valores através do exemplo, com os olhos postos no futuro.
Diz o velho ditado “mais vale levar uma bofetada em casa com amor, do que uma bofetada lá fora por castigo”.
Vamos trabalhar juntos, para produzir, porque…
A Luta continua!
Amade Camal
Como empresário, tenho visto de perto as oportunidades e desafios que surgem para os jovens na transição do ambiente acadêmico para o mercado de trabalho. Respondendo ao desafio colocado pelas famílias e sociedade, tentarei partilhar algumas reflexões e propostas, afim de construirmos a ponte essencial para a profissionalização dos recém graduados e licenciados, que, inevitavelmente, serão o futuro do País e do mundo.
Ser futuro não é garantia de desenvolvimento ou progresso. Poderá ser bom ou mau, rico ou pobre, feliz ou triste. Para que os nossos jovens tenham o futuro risonho, o que têm direito, depende de como os responsáveis educacionais irão equipá-los com princípios e valores (soft skills), de conhecimento teórico e/ou saber fazer. Estes responsáveis devem colocar os seus pés no chão, serem pragmáticos e valorizar o que de facto tem valor. Todavia, esse valor só o será no futuro. Este é o maior desafio dos responsáveis, ensinar aos nossos jovens o que são virtudes - são hábitos que permitem ao indivíduo o caminho do bem.
Normalmente, os benefícios das virtudes são visíveis a longo prazo, o que para os nossos jovens não faz muito sentido, já que estão habituados à velocidade das tecnologias. Vivemos numa era de rápidas transformações tecnológicas, sociais, culturais e económicas. Os casos de sucessos de ontem poderão não o ser amanhã. O mercado não tem empatias, é intolerante, instável e cruel.
As empresas têm que se adaptar, inovar, ser competitivas, ou seja, oferecer produtos com o binómio preço/qualidade. As ameaças e oportunidades vêm de geografias inesperadas, onde o factor humano é fundamental para as vencer. Para o efeito, esse indivíduo terá que estar capacitado de conhecimento à altura dos desafios.
O capital mais valioso das empresas são os Recursos Humanos. Esse capital tornar-se-á efectivo, se estes indivíduos tiverem como sua fundação, virtudes, Saber Fazer e integrarem-se profissionalmente, com adaptabilidade e inovação permanente. Ser portador de diplomas, no mundo real ou empresarial, a partir do segundo dia de trabalho, conta muito pouco.
Como disse o Líder Chinês, Mao Zedong, século XIX (19) passo a citar: “a teoria é um produto da observação da prática” fim de citação.
Em outras palavras, partilhar teorias, sem exercícios práticos, laboratórios, estágios, projectos de pesquisas, socialização profissional, constitui um grande desafio para o aprendiz, bem como para o docente que muitas vezes, ele próprio, não tem experiência, aumentando o seu grau de dificuldade na transmissão do conhecimento.
Ninguém dá o que não tem, nem mais do que tem.
A maioria dos recém graduados não sabem que não sabem, o que eleva o grau de dificuldade na integração profissional. Este desconhecimento entre a teoria e a prática normalmente causa experiências traumáticas aos recém-chegados, nos locais de trabalho.
Afim de incorporarmos conhecimentos, que facilitem a vida destes indivíduos pós-graduação como trabalhador e ou empreendedor, proponho que:
- Os sistemas de ensino dêem prioridade ao saber fazer e, para o efeito, terão que actualizar os currículos e corpos docentes, de acordo com as necessidades dos mercados.
Quem são esses cruéis mercados?
Somos nós que contribuímos na construção do PIB, produzimos alimentos, transformamos matéria-prima, recebemos salários, prestamos e compramos serviços e produtos, pagamos propinas e impostos e recebemos assistência social, entre outros.
Nós os produtores e consumidores, pagadores de impostos e taxas, os transportados, usuários dos serviços públicos, estaremos satisfeitos com a generalidade dos serviços, produtos, salários, infra-estruturas, educação, saúde, segurança, justiça, etc.?
A maioria de nós critica e com razão a qualidade dos nossos políticos. Mas afinal de onde vêm estes políticos?
Serão extraterrestres?
Os políticos que conheço, e são muitos, vêm das nossas famílias, comunidades e escolas, o que pode querer dizer que, como sociedade, não temos cumprido com as nossas obrigações, na formação de indivíduos virtuosos.
Rudolf Steiner pedagogo e filósofo do século XIX (19) desenvolveu a teoria dos septénios:
Dos 0 aos 7 anos ensina-se princípios e valores;
Dos 7 aos 14 ensina-se as bases teóricas;
Dos 14 aos 21 ensina-se a saber fazer.
Toda a gente ralha e ninguém tem razão!
Quando fazemos uma avaliação, estamos a comparar se o que está em questão é bom, é menos bom, ou é mau. Como fazemos frequentemente, em relação ao nosso modelo e sistema de educação. Contudo, uma comparação exige um coeficiente ou Standard. Podemos comparar o sistema de educação, por exemplo, com os impostos que (não) pagamos?
Podemos comparar o nosso sistema de educação com os salários dos professores?
Podemos comparar o nosso sistema de educação com o nível de destruição das carteiras escolares e degradação das escolas, nomeadamente casas de banho?
Podemos comparar os resultados obtidos pelos nossos estudantes com o nível de ausência dos pais ou educadores?
Senhoras e Senhores, temos que ser mais sérios, se quisermos mudar o rumo alarmante da ignorância da maior parte dos nossos alunos.
A minha experiência de 45 anos de trabalho ensinou-me que o maior capital que um profissional deve ter são os Princípios e Valores,ou seja, Virtudes. Muitos colegas com quem trabalho há mais de 30 anos têm em comum nessa longevidade são os princípios e valores.
A tecnologia aprende-se, adequa-se e adapta-se. As virtudes são transversais a todas as épocas, profissões, comunidades, sociedades do Universo.
Podemos ser mestres, especialistas, graduados, dirigentes, políticos, jornalistas, empresários, operários, camponeses, endinheirados, etc., entretanto, se não tivermos princípios e valores, será como caminhar num chão que não nos pertence e que a qualquer momento pode nos ser retirado.
A Luta Continua!
Amade Camal
Riqueza é o estado de satisfação que um indivíduo tem. Muitos ficam satisfeitos e felizes com o estado e quantidades que, para alguns, é pobreza.
É o acto de transmitir conhecimento natural dos progenitores e genitores, aos seus infantes, antes que estes atinjam a maturidade.
Para o efeito, os progenitores não precisam de formação específica, é conhecimento inato, ou seja, natural. Quem ensina o cabritinho, passarinho, o pinto, acabado de nascer, a comer, andar, berrar ou a piar respectivamente?
Da mesma maneira que os animais na selva ou no mar sabem que não devem interferir nos territórios e na alimentação uns dos outros, independentemente do seu volume, força ou capacidade.
Se Deus diz nos Livros Sagrados que fez o ser humano à sua semelhança, dotando-o de competências racionais e de livre-arbítrio, só podemos esperar dos seres humanos uma responsabilidade maior na educação dos seus descendentes, comparativamente com os animais ditos irracionais.
A Escola era originalmente o local onde os cidadãos, durante o ócio, conversavam, discutiam, trocavam ideias e experiências, cultivando-se mutuamente.
Pela sua relevância, decidiu-se institucionalizar a Escola de forma a maximizar a transmissão de conhecimento como forma de dotar os infantes de competências para saber fazer. Para o efeito, seleccionavam-se os melhores missionários entre os cidadãos para se encarregar dessa tão nobre tarefa.
Em todas as sociedades do mundo, o professor foi sempre considerado um cidadão Nobre, Digno e Admirado. As virtudes do professor não se limitavam no conhecimento, aliás, na modernidade, os professores estão muito dependentes do programa de ensino oficial.
O professor era o Modelo de cidadão a copiar, pelos seus princípios e valores. Através do exemplo de ser e estar, o senhor professor tinha autoridade Ética, Social e Profissional. Os seus alunos estar-lhes-iam gratos pelo resto da vida.
Comemoramos a Semana do Professor, com discursos politicamente correctos pela ocasião, numa altura em que o País despertou, de um sonho ilusório, de que bastava tornar a educação obrigatória e acessível, que os cidadãos aprenderiam nas escolas e seríamos uma sociedade a caminho do desenvolvimento. Paradoxalmente, ficamos a saber que, no Ministério da Educação, os responsáveis pela elaboração dos livros e manuais não os liam, nem antes, nem depois da sua produção, confiando as respectivas tarefas a entidades contratadas.
Mais grave é que os professores também não leram, de tal forma que alguns erros graves prevaleceram anos.
Como foi possível, já que existem dezenas milhares de professores que consomem a maior fatia do OGE. Será que os nossos professores também são iletrados? (sabem ler e escrever, mas não sabem interpretar), ou não cumprem com os requisitos básicos para instruir infantes, nomeadamente Princípios, Valores, Ética e Conhecimento.
“Ninguém dá o que não tem, nem mais do que tem”.
Como é possível haver inúmeros alunos na sétima classe que não sabem escrever o seu próprio nome?
Parafraseando ilustres professores e profissionais de ensino superior, “muitos alunos chegam às universidades iletrados”, de tal sorte que o ensino superior não pode fazer milagres, ou seja, as universidades não podem corrigir as anomalias consequentes de um ensino primário deficiente.
É obvio que o professor não é o único responsável nesta calamidade. Os professores ou alguns professores (muitos) são o elo mais fraco desta cadeia da suposta transmissão de Valores, Princípios e Conhecimento de saber fazer. Em última análise, quem gere o Sistema Nacional de Educação é o Governo, cuja maior herança degradativa foi dos Governos após o multipartidarismo.
Porque será que as instituições do Estado estão a comportar-se de forma irresponsável?
“Quem não sabe é como quem não vê”.
Os nossos gestores públicos, apesar de terem licenciaturas, não devem ter princípios, nem valores e muito menos conhecimento para compreenderem a destruição social e económica dos moçambicanos, incluindo os seus próprios filhos.
Porque será?
Os nossos supostos líderes, governantes, gestores do aparelho estatal, professores, forças de defesa e segurança, magistratura, políticos e, de forma geral, os moçambicanos não são extraterrestres, nasceram numa família.
Desde 1994, com as eleições multipartidárias, o engajamento político-ideológico dos nossos governos no Neoliberalismo, cujos promotores (Banco Mundial, FMI e ONU) convenceram-nos que desde que houvesse dinheiro o desenvolvimento estaria garantido.
Despejaram (endividando-nos) centenas de milhões de dólares americanos, corromperam os nossos princípios e valores, convenceram-nos para cumprirmos com os Objectivos de Desenvolvimento do Milénio (2000-2015), a passagem obrigatória na educação primária (apelidaram de acesso à educação) traria a base para uma sociedade evoluída.
Resultado: construímos uma sociedade medíocre, de cima para baixo.
As nossas famílias ensinam-nos que é preciso termos dinheiro, não importa como, se o conseguirmos, um futuro risonho aguarda-nos.
Consequências?
Somos cada vez mais empobrecidos e dependentes.
Ninguém é responsável, as famílias responsabilizam as escolas, as escolas os professores, os professores o governo e vice-versa, tipo “pescadinha com rabo na boca”.
Gostaria de ter escrito um artigo diferente, enaltecer, reconhecer e agradecer os professores, pela Honrosa Missão de educar os nossos filhos, netos e bisnetos, mas esta é a realidade lamentavelmente.
Não desanimem senhores professores, vocês são a nossa última esperança, comecem por educar os vossos filhos, eduquem os pais dos vossos alunos que devem cuidar dos seus filhos em casa, partilhem esses ensinamentos com os vossos superiores no Sistema Nacional de Educação e no Governo.
Se forem competentes e persistentes, resultados estarão visíveis na campanha eleitoral de 2043, em que teremos candidatos e eleitores letrados, uma oportunidade para invertemos o actual rumo ao abismo.
A Luta Continua!
Amade camal
Define-se cidadania como a qualidade de um cidadão com um vínculo jurídico, que traduz a condição de um indivíduo enquanto membro de um Estado, constituindo-o como detentor de direitos e obrigações, perante esse mesmo Estado. A cidadania é exercida através da participação na vida pública e política de uma comunidade, (dicionário infopedia).
Moral define-se como um conjunto de valores, individuais ou colectivos, considerados universalmente como norteadores das relações sociais e da conduta dos homens, (dicionário Oxford).
Impostos são os valores que o Estado cobra, pagos pelo cidadão-contribuinte para custear as despesas desse mesmo Estado, em benefício dos cidadãos. Com a cobrança de impostos, o Estado visa diminuir as desigualdades sociais, sendo a tributação uma das ferramentas para a redistribuição de renda.
Desde que existem as civilizações que os cidadãos contribuem através de impostos, taxas e outras diversas formas para garantir a existência do Estado.
Sem o cumprimento dos cidadãos, nenhum Estado poderá subsistir na sua função, afim de atingir a igualdade de oportunidades no acesso à educação, saúde, segurança pública e territorial, pelo que a cidadania e moralidade fiscais são a base da civilização e do desenvolvimento sustentável.
Soberania define-se como o direito de um Estado ter o domínio e poder sobre si, que não e delegável nem renunciável. Sempre ouvi dizer: “quem paga, escolhe a música”. Se o Orçamento Geral do Estado de Moçambique é neste momento constituído aproximadamente com 40% entre ajuda e dívida externa, é caso para perguntar, como podemos ser soberanos?
Uma certa “moda” impregnada pelas agências multilaterais e ONGs veio branquear a economia ilegal, apelidando-a de paralela ou informal (não confundir com o sector familiar), além de atribuir-lhe a indevida dignidade, fazem acreditar que têm direitos como agentes económicos. Como a maioria dos nossos dirigentes dançam a música de quem paga, acabam massacrando os poucos contribuintes que cumprem com os seus deveres (matando a galinha dos ovos d’ouro).
Imoral e insustentável é tolerar e defender ou considerar como parte da “economia” os sistemas paralelos ou ilegais. Estas são algumas das formas que os países que dominam as instituições supostamente multilaterais encontraram pós-colonização, para perpetuar o empobrecimento dos nossos países em seu benefício.
Mais grave é que usam essas mesmas instituições para acusar o nosso Governo de inconformidades fiduciárias e monetária (lavagem de dinheiro). Como é possível combater o contrabando e a fuga ao fisco, quando 60% da nossa economia é ilegal (informal), patrocinada pelas agências de desenvolvimento e cooperação.
Aceitar este tipo de cooperação é uma violação ao juramento que os nossos dirigentes dos três poderes fizeram, aquando da sua tomada de posse, em “cumprir primeiramente com a Constituição da República e demais leis”, fazendo tudo em sua capacidade para preservar a soberania e servir os cidadãos.
Desmotivante é um contribuinte cumprir com as suas obrigações e verificar que o Estado não lhe respeita nem lhe dignifica, distribuindo parte dos seus contributos para o sector ilegal que causa disrupção económica e social, razão pela qual muitos cidadãos e agentes económicos desistem da actividade formal, optando pelos negócios informais ilegais. Porquê?
Porque é muito confortável ser-se informal, ninguém fiscaliza, não há regras, tão pouco leis, até os agentes do Estado mais corruptos não aparecem. Por outro lado, os cidadãos e empresas formais estão registados, localizáveis, alvo fácil para os sanguessugas que não medem a sua agressão, atropelando todos os valores de servidor público e de cidadania.
Mais grave é que o contribuinte que tenta cumprir com as suas obrigações, pagando os seus impostos e taxas, é convidado por agentes tributários a pagar efectivamente menos (com documentos carimbados com o valor oficial) desde que a diferença seja paga em benefício destes agentes corruptos, para não dizer coisa pior. Precisamos de mudar radicalmente a forma como o Governo gere a política tributária.
Precisamos de uma mudança paradigmática da forma como as instituições tributárias fiscais, aduaneira e sociais lidam com os poucos contribuintes, tratando-lhes como criminosos, devendo estes contribuintes estarem constantemente a provar a sua inocência. Mais de 75% das inspecções do sistema tributário visam ameaçar os visados, para alimentar a cadeia de corrupção de cima para baixo, uma cópia ampliadíssima da polícia trânsito.
Se as instituições de anti-corrupção não vêem estes crimes devem fechar as portas, porque estes bandidos não são discretos, nem modestos, actuam com maior descaramento. Para reduzir a corrupção no sistema tributário e aduaneiro, adopte-se modelos digitais de pagamento, de verificação e de inspecções, como acontece no resto do mundo.
Contrate-se empresas privadas para fiscalizar os sistemas contributivos, com benefícios recíprocos sobre a receita adicional. Não pode haver país soberano sem sustentabilidade fiscal, aduaneiro e social. Mais grave ainda é que as vítimas da corrupção tributária (empresas contribuintes) são também vítimas das dívidas, que o Estado não paga às empresas. O Estado é o maior devedor da praça.
Quando o Estado mata as empresas, está a suicidar-se a médio prazo, porque está a destruir a “machamba” que lhe alimenta e que garante a criação de postos de trabalho, estabilidade social e desenvolvimento sustentável. Falamos muito de direitos fundamentais, democracia, eleições, mandatos, para quê?
Se não tivermos cidadãos e soberania, deixamos de existir!
Indivíduos qualificados fiscalmente que não cumprem o seu dever deveriam ter os seus direitos suspensos. Se não contribui para o sistema tributário de forma proporcional não é cidadão! Os agentes tributários corruptos deveriam ser julgados e castigados severamente, como traidores à Pátria.
Nenhuma instituição, incluindo as multinacionais e ONG’s, ou indivíduo deveriam estar isentos da contribuição fiscal proporcional, enquanto o Estado não tiver contas públicas sustentáveis.
Os nossos líderes têm de separar o “trigo do joio” não se deixarem entreter com “faits divers” ou seja, factos diversos, sobre hipotética democracia e direitos fundamentais, quando na verdade os cidadãos supostamente beneficiários quase não existem.
A Luta continua!
Amade Camal
A mesma quantidade de líquido num mesmo copo é vista de forma diferente: para os optimistas é meio copo cheio, para os pessimistas é o meio copo vazio. Este detalhe pode ser definido como atitude.
Esta introdução deve-se ao facto de estarmos a ser bombardeados com políticas de natalidade descontextualizadas da nossa realidade:
- Africa tem 60% de área agrícola disponível (mas não cultivada) do globo; (WEF)
- Em 2050 vamos ter 2 biliões de pessoas; (FAO)
- Temos potencial hídrico suficiente para 3 biliões de pessoas; (FAO)
- Temos a maior percentagem de população jovem do globo, 65% têm menos de 20 anos; (INE)
- Os nossos índices de produção são baixos, maior parte da população está na produção primária, contribuindo somente com 20% do PIB. (INE)
O resto do mundo, em particular a Europa, está num processo de envelhecimento rápido, sendo a União Europeia o caso mais grave, com índices demográficos negativos há 30 anos. Diga-se, atingiu o ponto de não retorno, por mais alterações políticas que se façam para reverter a negatividade demográfica dos caucasianos, nada mais há a fazer.
As estatísticas da UNFPA dizem que a média de natalidade na Europa é de 1.3%, por família caucasiana. Os Árabes e Africanos europeus têm uma média de natalidade de 4,5% por família.
Os Livros Sagrados dizem que Deus criou o Universo com recursos suficientes para humanidade, e eu acredito. Se foi este mesmo Deus que criou a sincronização dos diferentes sistemas no Universo, porquê estaria errado nesta premissa?
A Europa Ocidental pós-recolectores começou a usar a agricultura 5000 anos após a sua descoberta, através de emigrantes idos, há 7.000 anos, do Oriente Médio e Sul do Mediterrâneo, nomeadamente: Árabes, Persas e Africanos, respectivamente. (BBC)
Esta Europa, como a conhecemos hoje, é o continente mais conflituoso do mundo, tendo protagonizado os maiores genocídios, as maiores e mais cruéis guerras jamais vistas, como sejam: a Inquisição, a Guerra dos 30 anos, a Primeira e a Segunda Guerra Mundial.
Depois da Segunda Guerra “mundial” em 1946, a Europa viveu um longo período de ausência de conflitos, tendo subscrito um modelo social democrático, assente na Previdência Social: o cidadão trabalha, contribui com aproximadamente 50% dos seus ganhos em forma de impostos e outras taxas contributivas. Nestes pressupostos, o Estado garantiria um bom sistema de educação, saúde e pensão na reforma, correspondente à qualidade de vida de cada contribuinte.
Este modelo de governação funcionou com sucesso até que os seus beneficiários se tornaram egoístas, ao ponto de não quererem constituir família, ou fazendo-o mais tarde possível, em nome de uma carreira profissional ou o prazer da qualidade de vida. Os bons serviços de saúde proporcionam uma vida longa, falando-se actualmente na quarta-idade.
Este egocentrismo dos europeus reduziu o número de famílias, o índice de natalidade e propiciou o abandono dos seus pais e avos, nos lares da quarta-idade.
Esta baixa natalidade e a longevidade para quarta-idade, destruiu a sustentabilidade da Social Democracia. Neste momento, os actuais contribuintes na União Europeia não irão receber as reformas para as quais descontam, porque há mais beneficiários do que contribuintes.
O envelhecimento da população tem vários impactos negativos, porém, podemos destacar, dentre eles: A baixa competitividade, a falta de criatividade e de inovação e a insustentabilidade económica.
Vale lembrar que o binómio oferta e procura determina a evolução. A natureza ensina-nos, como os velhos leões (fora do núcleo familiar), a caçar vítimas fragilizadas (africanos) para sobreviver.
Esta é a razão pela qual os governos e dirigentes africanos, incompetentes e fragilizados, deixam as ONGs (velhos leões) difundirem propaganda provadamente errada, com consequências catastróficas. Esquecem-se que, se não houver seres humanos, não haverá vida racional.
Neste momento, para sobreviver, a Europa está a regressar ao tempo da “pirataria”, colonização, imposição de conflitos, para se apropriar dos recursos humanos e naturais.
Quando a Rússia bloqueou a rota dos cereais, vindos da Ucrânia no Mar Negro, os líderes europeus discursaram nos diversos fóruns, inclusive nas Nações Unidas, que Africa iria passar fome, devido ao bloqueio dos portos no Mar Negro.
Até 24 de Setembro de 2022 saíram desses portos 211 navios com cereais, carregando 4.7 milhões de toneladas a coberto da Bandeira das Nações Unidas. Destes, só 14 navios vieram para África, o que representa 7% dos navios com cereais.
Africa passou fome? Não! Porquê? Porque a alimentação básica dos africanos é a mandioca, a banana e os vegetais, felizmente. Continuamos (africanos) a cometer os mesmos erros e a esperar resultados diferentes.
A luta Continua!
Amade Camal
06.Dez.2022
Valores são um conjunto de características de uma certa pessoa ou organização, que determinam o comportamento e a forma como interage com outros indivíduos e com o meio ambiente. (significados.com)
Valor para Filosofia é uma relação entre as necessidades do indivíduo e a capacidade das coisas e de seus derivados, objectos ou serviços, satisfazerem o pensamento racional do indivíduo. (wikipedia. Org)
Como todos sabemos, os valores alteram-se com o tempo, local, hábitos e costumes. Contudo, não deixam de reflectir o Bem Social.
Os indivíduos, famílias, comunidades e sociedades definem os seus valores influenciando-os de forma ascendente e descendente.
Os indivíduos influenciam as famílias, as famílias influenciam a comunidade, a comunidade influencia a sociedade e a sociedade influencia os indivíduos através da ética.
Valores éticos são o resultado de um conhecimento construído com base na reflexão, sobre as acções humanas e na determinação de princípios que promovem o Bem comum.
Princípios são regras éticas inegociáveis.
Uma sociedade movimenta-se, (sub)desenvolve-se, de acordo com menos ou mais valores, ou seja, se os seus princípios estão claramente estabelecidos, socializados e supervisionados, é garantido que essa sociedade irá desenvolver-se, independentemente dos seus recursos, calamidades, posição geográfica, etc. Ao contrário, também é válido. Ou seja, quando não há princípios haverá subdesenvolvimento.
Diz o provérbio que “ninguém dá o que não tem, nem mais do que tem”.
Todavia, temos vindo a assistir, impávidos e serenos, à degradação sistemática dos valores sociais por parte das organizações políticas, nacionais e estrangeiras, que nos levarão ao abismo.
Paradoxalmente, demitimo-nos de governar para o superior interesse dos moçambicanos, afim de obedecer e satisfazer os interesses da “comunidade internacional” cuja consequência desse servilismo é o empobrecimento a que estamos expostos.
Por outro lado, temos países que seguem o percurso ético de governação, impondo os seus valores e a sua cultura e o resultado é o desenvolvimento que testemunhamos.
Mais grave se torna quando a tal “comunidade internacional” apesar de todas as conspirações, explorações, expropriações, desonestidade intelectual e comportamentos inéticos, contra os nossos ingénuos povos e governos, ela própria (comunidade internacional) caminha para o empobrecimento, “ninguém dá o que não tem, nem mais do que tem”.
Pelo que, estimado leitor, nacional moçambicano, ou nacional da “comunidade internacional” saiba que estamos a ser geridos longe dos valores éticos que produzem o Bem social
O Bem gera benefícios, o Mal gera malefícios, como é óbvio.
A maldade, a mediocridade e o crime nunca compensaram, razão pela qual, os diferentes impérios, os malfeitores, independentemente da sua dimensão, sucumbiram quando menos esperavam.
O capital das sociedades são a Educação (na família e na escola) e os valores.
“Certa vez perguntaram a um sábio, quanto valia um dirigente com ética? O sábio respondeu vale 10.
Perguntaram a seguir, e se o dirigente tiver conhecimento?
O sábio respondeu, acrescente um zero à direita.
E se for jovem? voltaram a perguntar ao sábio que respondeu, acrescentem mais um zero à direita.
A última pergunta foi, e se o dirigente violar a ética?
E a resposta foi, tirem o número 1, que só vão sobrar três zeros”.
A falta de ética de alguns países supostamente desenvolvidos, defensores do modelo democrático ocidental, está patente na guerra dos USA/NATO-Rússia. Os Ocidentais fazem a “prova dos nove” da sua mediocridade, associada a uma gritante falta de princípios.
Como consequência, o povo ucraniano está a ser chacinado da mesma forma que os palestinos e os europeus a se empobrecer entre eles, para servirem interesses (entre outros, venda de equipamento bélico) esquizofrénicos dos USA, e atrasarem a nova centralidade geo-estratégica do mundo, a Ásia e aliados.
Em Moçambique, não estamos melhor por (in)decisão nossa, destruímos de forma acelerada os nossos princípios e valores éticos.
Já não chega ter muitos professores, médicos, polícias, agentes secretos, magistrados, inspectores fiscais, políticos, funcionários públicos, empresários, ONG`s, religiosos entre muitos outros, desmotivados, incompetentes, e corruptos.
Agora temos sabotadores, que se divertem a destruírem os maiores valores de uma sociedade “o livro escolar, as leis, o fisco, a segurança pública e a justiça”.
Não há Direitos sem Obrigações.
A “democracia”, por si só, não garante uma sociedade justa e desenvolvida.
Todos os modelos políticos têm os seus prós e contras, a democracia tem como base o poder do voto da maioria. Se essa maioria não lê, quando lê não compreende o que lê, significa que as decisões estarão disponíveis à mediocridade e manipulação.
Neste mundo prolífico em oportunistas e populistas ter este modelo Ocidental de democracia interessa-nos?
Nenhum recurso, seja ouro ou gás, irá reverter o caminho do subdesenvolvimento, se nós não valorizarmos o que tem Valor.
A Luta Continua!
Amade Camal
Correlação define-se como sendo a relação ou dependência mútua entre pessoas, coisas, ideias ou ainda, uma relação de semelhança entre dois factores.
Frequentemente ouvimos falar sobre a relação de causa e efeito, ou seja, de origem/motivo e seu efeito/consequência, é um exemplo de uma correlação.
O Estado Social dos Africanos na actualidade está directamente ligado às causas que geram o efeito (negligente, ignorante) - quem não sabe, que não sabe - e empobrecido.
Mia Couto criticou: “uma sociedade que produz ricos, mas não produz riqueza”, eu acrescentaria; uma sociedade que produz endinheirados, mas não produz riqueza está condenada ao fracasso.
Como iremos ultrapassar os inúmeros desafios que o mundo global nos impõe, quando não damos conta da nossa própria história? Aceitamos, contentes e felizes, deturpações, supostamente científicas e antropológicas, como por exemplo:
Após esta introdução do contexto histórico, torna-se necessário questionar:
- Numa simples resposta, dir-se-ia, nenhuma. Os factos históricos dizem que os africanos foram e são uma civilização marcante universalmente, na ciência, cultura e no desenvolvimento.
- Naturalmente a atitude (mindset) tem um impacto directo no (sub)desenvolvimento.
- Porque perdemos a educação, para perceber que o bem comum é sustentável.
- As evidências dizem que não.
Japão, Coreia, Singapura e Cabo Verde não possuem recursos naturais, porém, os seus rendimentos per capita são dos mais elevados, no mundo e Cabo Verde tem o seu rendimento superior à maioria dos países africanos.
Por outro lado, a região do Médio Oriente tem o maior PIB de matérias-primas, do universo, todavia, o seu povo é empobrecido.
- Pela sua mediocridade social, consequência da ausência de liderança.
Só para citar três casos de lideranças de sucesso em países vizinhos como; a África do Sul do Mandela, Tanzânia do Magufulli, o Ruanda do Kagamé e Moçambique de Samora Machel. Foram lideranças que deixaram marcas profundas, no desenvolvimento dos seus povos, no contexto histórico.
Aristóteles, o sábio dos sábios do Ocidente, disse há 2.500 anos que a filosofia é a ciência que nos ensina a viver. Deixou ainda um ensinamento para educação e instrução do ser humano:
A soberania do indivíduo, família, empresa, comunidade, sociedade e país depende dos valores impregnados nos cidadãos, no domínio do conhecimento (não nos certificados ou diplomas), na disciplina e no trabalho para criar desenvolvimento.
Quem (povo) não tem Visão desconhece a Missão e terá os Valores invertidos, como diz Mia Couto.
A COVID-19 ensinou-nos, entre muitas lições, que:
Podemos concluir que o empobrecimento dos africanos se tornou uma Epidemia?
Se sim, porquê?
Porque existe uma correlação entre a ausência de liderança, dos nossos governos e a criação do bem comum.
Liderança significa criar e partilhar uma Visão inspirando os liderados (não submissos) para juntos cumprirem a Missão através do exemplo, cujas acções estão enquadradas nos Valores Sócio- económicos-políticos.
Nesta Correlação, ...
A Luta Continua!
Amade Camal
Imediatismo - o que tem tendência a agir em função do que oferece vantagem imediata, sem considerar as consequências futuras.
A Mãe Natureza reflecte a base do conhecimento a que os seres humanos se podem inspirar no seu desenvolvimento cognitivo.
Nada nasce por acaso (biodiversidade), a existência de uma espécie tem influência num todo.
Ensina-nos, a Mãe Natureza, que, mesmo quando a inserção é adequada, todos os seres passam por dificuldades durante a aprendizagem e antes da maturidade.
“Aprendizagem é toda a mudança de comportamento, em resposta a experiências anteriores, envolvendo o sujeito como um todo, considerados todos os seus aspectos; os psicológicos, biológicos e sociais. Se algum desses aspectos estiverem em desequilíbrio haverá dificuldade de aprendizagem” (Piaget 1973).
Para que o estimado leitor tenha uma ideia do imediatismo que praticamos quotidianamente, cito alguns exemplos da chamada Escola de Inteligência:
- Sentimo-nos na obrigação de saber ou, pelo menos, ter conhecimento de tudo;
- Desenvolvemos relações sociais superficiais;
- Tomamos decisões sem planejar e priorizar;
- Quando os resultados imediatos se tornam superiores aos valores e princípios. Fim de citação.
Assinalo ainda o uso exagerado nas redes sociais, do Imediatismo, ao se pretender resultados e satisfação instantânea, em questões que levam tempo a dar frutos, como: educação, profissão, saúde, bem-estar e amizade.
Este longo introito deve-se ao facto de cada vez mais nós querermos obter resultados positivos, sem que antes, tenhamos feito um trabalho aturado de estudar, planificar, projectar, construir, fiscalizar, corrigir, adequar e manter de acordo com o contexto.
Porque muitos de nós, cidadãos de países em vias de desenvolvimento, vivemos com a ilusão de que estamos no mesmo ciclo de evolução que outros cidadãos de países tecnologicamente desenvolvidos. Só porque partilhamos canais de televisão, porque estamos em directo nas redes sociais, temos em comum acesso aos motores de busca, consumimos os mesmos hábitos, mesmo que sejam em segunda mão, a exemplo de roupas “de calamidades ou veículos usados” ou porque outros têm de roubar, para comprar esses bens originais.
A mesma ilusão parece estar a acontecer entre os académicos que, tendo adquirido conhecimento teórico e diplomas, em escolas superiores nacionais e estrangeiras, querem aplicar esse conhecimento, sem tomar em conta os ensinamentos da Mãe Natureza, ou seja, sem a adequação ou contextualização de acordo com o meio ambiente.
Os políticos-governantes não podiam estar mais em contra-mão, já que, da sua parte adoptam modelos e ideologias de governação desajustados à realidade dos cidadãos, das infra-estruturas e das instituições. Para exemplo posso citar o INE segundo o qual “só 5% dos casamentos nacionais são formalizados em Conservatória”.
Cá entre nós, fala-se muito de Direitos e Obrigações. Porém, quando verificamos os beneficiários desses Direitos, como: a Educação, Saúde, Segurança, Liberdade de Expressão, do Direito à Informação, da Igualdade do Género, Justiça, do Direito de Eleger e de ser eleito, entre outros estabelecidos pela Constituição, constatamos que tais direitos servem,a menos de 5% da população nacional.
Chegamos ao ridículo de querer normalizar ou legislar particularidades da vida social, em especial dos cidadãos rurais, criminalizando hábitos e tradições.
Em contra senso, fazemos campanhas para legalizar anormalidades, hábitos e tradições de outros povos como sejam: o homossexualismo e o desnudamento da mulher, como símbolos da liberdade. Porquê?
Provavelmente porque estamos ansiosos para sermos reconhecidos como evoluídos, civilizados, desenvolvidos, modernos, etc., etc., por vezes, muito por culpa de um complexo de inferioridade e dependência.
Segundo Piaget, “Aprendizagem é o processo pelo qual as competências, habilidades, conhecimentos, comportamentos, ou valores são adquiridos ou modificados, como resultado de estudo, experiência, formação, raciocínio e observação”. Fim de citação.
O imediatismo de que temos vindo a falar tem a ver com políticas influenciadas, por supostos parceiros, paradoxalmente não aplicáveis nos seus países:
- Aplicar um modelo educacional inadequado - para atingir os objectivos do milénio entre outros;
-Promover a exportação de matéria-prima e importar produtos manufacturados provenientes dessa mesma matéria-prima;
- Erradicar e criminalizar cultura, hábitos e tradições porque “outros países” não praticam e desconhecem a antropologia em questão;
- Aceitar, de olhos fechados, recomendações e conselhos de “especialistas” que não conhecem a realidade dos factos;
- Admitir que 50% da sua população é “marginal ou informal” porque não se encontra registada no sector formal. Porém, casos similares nesses mesmos países “evoluídos” tratam esses marginais ou informais de “incubadoras” como um exemplo a seguir. Como exemplo nos USA, menores com 14 anos podem trabalhar um mínimo de horas (FLSA) de acordo com lei de trabalho justo.
Sinais de uma sociedade imediatista está também entre outros, na ansiedade de sermos mais do que somos, de rapidamente ascender a um patamar sócio-económico superior, infringindo as regras, violando a lei, desviando bens públicos e privados, roubando, pensando apenas, num resultado imediato, ignorando as consequências para si, para sua família e para a sociedade no geral, mais grave quando praticado por políticos e governantes ou afins.
Nunca o mundo teve índices tão elevados de doentes com depressão, (os medicamentos antidepressivos estão entre os mais vendidos no mundo) causados por falsas expectativas, ou pela ilusão de que todos os conteúdos nas redes sociais são verdadeiros, e que estamos ligados ao mundo, quando, cada vez mais isola-nos desse mundo real em que muito queremos estar.
Vamos respeitar as regras, os processos, os retrocessos como parte do crescimento. Vamos aceitar sem complexos, de onde viemos, como somos e tomemos as virtudes e defeitos como partes integrantes do sucesso.
Nenhuma cultura é superior a outra. Nenhum povo está imune a dificuldades. Nenhum governo satisfaz, integralmente, os seus cidadãos. Nenhuma família é perfeita. Nenhuma rosa de qualidade vem sem espinhos. Nenhum sábio sabe tudo.
Temos de conviver com realismo. O tempo das profecias milagreiras já passou há milhares de anos.
Paciência, sacrifício, tolerância, compromisso, são algumas das virtudes para uma coexistência pacífica consigo mesmo.
Devagar se vai longe!...
Correr não é chegar!....
A Luta Continua!
Amade Camal