A detenção de Alberto Lário, treinador português que se encontrava no país ilegalmente desde 2019, está a causar muita indignação e protestos por parte da família do atletismo, que agora pede a demissão do Presidente da Federação Moçambicana de Atletismo (FMA), Kamal Bradú.
Esta quinta-feira, um grupo de 15 elementos da família do atletismo, entre treinadores e atletas, lançou uma campanha de solidariedade com o técnico “caça talentos”, exigindo a sua libertação e consequente legalização da sua situação no país.
O movimento começou no Parque dos Continuadores, na zona nobre da cidade de Maputo, local onde também funciona a sede da FMA, e desaguou no edifício-sede do Serviço Nacional de Migração (SENAMI), na avenida Ho Chi Min, também na capital do país.
Nos dois locais, os manifestantes empunhavam dísticos contendo mensagens de conforto ao técnico, mas também de repúdio à postura do Presidente da FMA, que alegam ter tomado a iniciativa de denunciar o técnico às autoridades migratórias, devido ao desentendimento que existia entre ambos.
A novela da detenção de Alberto Lário teve seu início no passado dia 14 de Julho, quinta-feira, quando Kamal Badrú solicitou, através de uma publicação na sua conta pessoal no Facebook, contactos telefónicos do SENAMI e do Ministério do Interior para denunciar um ilegal.
“Peço contactos de denúncia da Direcção Provincial De Migração De Maputo ou do Ministério do Interior. Quero denunciar um ilegal no país sem visto de residência. Urgente”, escreveu Badrú, quando eram 13:12 horas daquele, sendo que, na altura, poucos internautas levaram a sério o pedido.
No entanto, com a detenção de Alberto Lário, na tarde de última terça-feira, os internautas e a família do Atletismo concluíram que o facto se deveu às acções “maléficas” de Kamal Badrú, que preside a FMA desde Setembro de 2021.
As autoridades não confirmaram quem terá feito a denúncia, mas Alberto Lário não tem dúvidas que a mesma tenha sido feita por Kamal Badrú. “Não tenho dúvidas de que a minha detenção tem ligação com a actual direcção da Federação do Atletismo, visto que o próprio Presidente Kamal Badrú publicou no seu Facebook que me ia denunciar aos Serviços de Migração”, disse Lário aos jornalistas.
Verónica José, atleta que em Agosto próximo participa no Campeonato Mundial de Atletismo de Juniores, em Cáli, na Colômbia, fazia parte do grupo de manifestantes e disse à imprensa, esta quinta-feira, que a detenção de Alberto Lário mudou por completo a sua vida e a dos seus colegas.
Aos jornalistas, contou que Alberto Lário não só era responsável pelo treinamento dos atletas, mas também pelo seu dia-a-dia. “Estou muito triste (…) porque a minha preparação, sem ele, está a ser um desastre porque ele é que dá o acompanhamento. Estou a viver com ele já há cinco anos. Ele cuida de nós [são quatro atletas que residiam com ele, provenientes de diversos pontos do país]”, disse Verónica José, para quem “estão a destruir o nosso sonho, levando-o de volta a Portugal”.
“Kamal, demita-se, rua, rua!”, “Kamal, rua FMA” e “Kamal fora da FMA” são algumas das mensagens que preenchiam os dísticos empunhados pelos manifestantes. O mesmo coro de indignação inunda a longa lista de comentários à publicação de Kamal Badrú nas redes sociais.
“Assim estás mesmo feliz… podias muito bem ter ajudado a legalizar a situação dele não senhor «presidente»”, escreveu Nélia Guizado, enquanto Sérgio João diz ser “muito triste!”. “Um dirigente de uma Federação de um país, pensar apenas no seu umbigo e não nos seus compatriotas! Aliás, declarar guerra contra a instituição que ele mesmo dirige. Demita-se pahh!”, defende.
Refira-se que Kamal Badrú encontra-se nos Estados Unidos da América, onde a campeã olímpica e mundial dos 800 metros, Maria de Lurdes Mutola, será homenageada, esta semana, no Estado de Oregon, pela organização dos “Mundiais” de Atletismo que decorrem naquela região. (Carta)