Os motoristas de táxi por aplicativo, filiados à plataforma Yango, decidiram paralisar as actividades durante três dias esta semana, em protesto contra os preços actualmente praticados. No período em causa, que cobre a última segunda-feira (26), hoje (28) e sexta-feira (30) será observado um “switch off” (apagão) do aplicativo da Yango, das 5h00 às 18h00.
De acordo com informações recolhidas pela Carta de Moçambique, os motoristas pretendem realizar a reivindicação de forma faseada. Nesta primeira etapa, a paralisação ocorrerá durante três dias e, na segunda fase, o aplicativo será desligado por uma semana.
“Decidimos reivindicar desta forma porque a Yango tem sido protegida pelo partido Frelimo. Sempre que tentamos sair às ruas, há Polícias espalhados em vários locais para defendê-los e nós não temos armas para lutar. Mas, desta vez, queremos chamar a atenção da Yango, até que estejam dispostos a dialogar com os motoristas”, afirmam.
Segundo Dércio Moisés, um dos motoristas da plataforma Yango, a paralisação é justa. Ele apela à redução da taxa de cobrança do aplicativo dos actuais 15% para 10%, à aplicação de um preço mínimo de 100 meticais por viagem, à eliminação dos descontos para os passageiros, à definição de um preço especial para pedidos com mais de dois passageiros e à aplicação de tarifas diferenciadas entre as 23h00 e as 4h00.
Rassul Conceição, outro motorista da Yango, contou que alguns colegas filiados a várias associações desligaram os seus aplicativos e decidiram não sair à rua. No entanto, o grupo teve de retomar a actividade ontem (27), mesmo sem resposta às suas exigências.
“Não está a ser fácil trabalhar nos últimos dias. Quem paralisou na segunda-feira teve de voltar ao trabalho na terça porque não é fácil ficar dois dias sem rendimento, especialmente porque muitos de nós somos pais de família e temos de sustentar os nossos filhos”, explicou Conceição.
“Há muita insatisfação da nossa parte, mas também há fome. A Yango sabe disso e por isso se mantém relaxada. Acredito que 90% dos motoristas estão insatisfeitos com os preços e com a taxa cobrada pela Yango, mas sem emprego não temos muitas alternativas”, acrescentou Danilo Lourenço Castro, outro operador por nós contactado.
Por outro lado, Armínia Cavele, motorista da Yango que abraçou esta actividade para sustentar os filhos, relatou viver momentos muito difíceis, mas não desiste. “O aplicativo tem exagerado nos preços aplicados. Para não abandonarmos os clientes, perguntamos primeiro qual foi o valor apresentado e, se for inferior a 100 meticais, tentamos negociar. Se o cliente não aceitar, pedimos que cancele a viagem. Até onde sei, não existe combustível de 56 meticais. O que se pode fazer com esse valor numa viagem do Hospital Central ao Ponto Final? A Yango precisa rever urgentemente os preços. Eles não sentem a dor porque somos nós que estragamos os nossos carros enquanto eles ganham dinheiro sentados numa cadeira de escritório”, desabafou.
Mais adiante, e em carta enviada à nossa redacção, os motoristas expressam repúdio aos preços actualmente praticados pelos serviços da Yango, que consideram injustos e desproporcionais face ao esforço e dedicação diária dos motoristas parceiros.
O grupo afirma que os valores cobrados aos passageiros muitas vezes estão abaixo do custo operacional e não reflectem as condições reais do mercado, como o preço elevado dos combustíveis, a manutenção dos veículos, as despesas com comunicação, alimentação e outras necessidades. “Estes preços estão a empurrar-nos para uma situação de precariedade insustentável.”
Além disso, os motoristas destacam que a falta de transparência na definição das tarifas e a ausência de diálogo agravam ainda mais o clima de insatisfação e revolta. “Carta” tentou ouvir a reacção da Yango, que prometeu dar esta quarta-feira (28).