Balama: Instalado clima de tensão entre as comunidades e FDS

6 de May, 2025

Escrito por Carta

As relações entre as Forças de Defesa e Segurança (FDS) e a população de Balama, sul da província de Cabo Delgado, deterioraram-se desde sábado (03), após a detenção de alguns membros da comunidade, que estavam acampados nos arredores da empresa de exploração de grafite, exigindo uma indemnização justa das suas terras.

Fontes relataram à “Carta” que, na madrugada de sábado, agentes da Unidade de Intervenção Rápida (UIR) dispararam balas reais para o ar, para dispersar representantes das comunidades de Balama-sede, Pirira, Mualia, Ntete, Ncuite, Marica, 7 de Setembro e Nacole, acampados na parte exterior da empresa desde Dezembro passado.

Segundo as fontes, a intenção é expulsar os manifestantes (que nunca recorreram à violência) do local e permitir a retoma das actividades.

A mina de grafite em Balama é operada pela Syrah Resources, uma multinacional australiana. É uma das maiores fontes de grafite natural do mundo, com um depósito estimado em 110 milhões de toneladas.

“Foram lá de madrugada, dispararam várias vezes e outras pessoas estão detidas na PRM”, disse uma testemunha, acrescentando que se trata de “uma tentativa de intimidar os lesados para não receberem os seus valores”.

Outro residente de Balama-sede contou que nas condições actuais os manifestantes não podem regressar devido ao elevado número dos agentes das FDS.

“Queimaram quase todas as palhotas, incluindo os bens. Foram as FDS que fizeram isso e os populares tiveram de sair. A polícia usou até blindados para se posicionar no local”, relatou fonte.

Além das detenções, o movimento das FDS tem sido frequente desde sábado nas principais ruas da vila de Balama, uma acção vista como estratégia para dissuadir qualquer tentativa de manifestação popular.

Há duas semanas, após uma negociação, parte dos que alegavam não ter recebido indemnização pelas suas terras assinou um memorando com uma comissão de mediação para permitir a retoma das actividades de extracção de grafite, enquanto a maioria (obrigada a sair por meio de disparos) se recusou a assinar, exigindo a presença dos dirigentes da empresa.