Entre 13 a 15 por cento do total de 12.500 amostras de água submetidas, no ano passado, ao Laboratório Nacional de Higiene de Águas e Alimentos (LNHAA), foram reprovadas por não corresponderem aos padrões mínimos aceitáveis para o consumo humano, alerta o Observatório Cidadão para a Saúde (OCS).
A água subterrânea fornecida por operadores privados, seguida pela da rede pública, lidera a lista das análises reprovadas por se apresentar com níveis elevados de contaminação por materiais fecais e bactérias causadoras de cólera e diarreias. Maior parte das amostras são da cidade e província de Maputo.
De acordo com uma pesquisa conduzida pelo OCS, os fornecedores privados são responsáveis pelo abastecimento de água a milhares de clientes em vários bairros onde a rede pública não chega.
Os fornecedores admitiram haver reclamações de alguns clientes sobre a qualidade da água e dizem que o problema varia de uma zona para outra, mas não assumem a culpa. Ao OCS, o presidente da Associação dos Fornecedores de Água de Marracuene (província de Maputo), Agradecido Sitoe, justificou que na sua área de jurisdição os casos de contaminação da água acontecem durante o percurso de distribuição devido à fraca qualidade da tubagem que sofre perfurações, não no processo de captação nem no tratamento/purificação do líquido.
Por outro lado, o presidente da Associação dos Fornecedores de Água da Machava Norte, no município da Matola, Suleiman Rufino, disse que os casos de fornecimento de água imprópria têm a ver com o incumprimento dos parâmetros de perfuração dos solos por parte de alguns operadores, problema agravado pela fraca fiscalização por parte das autoridades. Contudo, explica que a associação que dirige tem sensibilizado os operadores a cumprirem com os padrões estabelecidos no exercício da actividade.
De acordo com o Relatório do OCS, as doenças de origem hídrica estão entre as principais causas de mortalidade infantil no país, reflectindo falhas estruturais no acesso à água potável e saneamento adequado. Apesar de a água ser essencial à vida, defende a organização, ela pode transportar substâncias e micro-organismos prejudiciais para a saúde.
Em Moçambique, por exemplo, dentre vários tipos de doenças de origem hídrica destacam-se a diarreia, cólera, disenteria, além da malária que está directamente ligada à deficiência do tratamento da água de esgoto.
Sobre esta última doença, o país registou, só em 2024, cerca de 11.622.191 casos que resultaram em 350 mortos. A diarreia ocupou a segunda posição no contexto de doenças de origem hídrica, tendo afectado 479.774 pessoas, das quais 99 perderam a vida.
Dados do MISAU indicam que no ano passado foram registados 8.160 casos de cólera, com 46 mortos, maioritariamente da Província de Nampula. Por outro lado, a disenteria matou cinco pessoas dos 77.248 casos registados.