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8 de Abril, 2025

Clientes da Águas da Região Metropolitana de Maputo consomem água contaminada – revela estudo do OCS

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O Observatório Cidadão para Saúde (OCS) denuncia o consumo de água turva em vários bairros abastecidos pela empresa pública Águas da Região Metropolitana de Maputo (AdRMM), como é o caso do Alto Maé, Minkadjuine, Munhuana e Bagamoyo no Município de Maputo, e Tchumene, Malhampsene e Zona Verde na autarquia da Matola.

Em relatório divulgado no dia 01 de Abril, a organização, que trabalha na monitoria da saúde, disse que a água abastecida pela AdRMM, além de turva, às vezes, jorra com odor, contrariando dessa forma os parâmetros (biológicos, físicos e químicos) do índice de qualidade para o consumo humano.

A situação, considera o Observatório, deixa os consumidores receosos em relação à qualidade do precioso líquido, o que faz com que muitos optem por não beber, preferindo comprar água purificada.

Igualmente, revela o relatório, os casos têm sido frequentes no período chuvoso, o que torna os consumidores vulneráveis a doenças devido ao consumo de água imprópria, sobretudo para as famílias que não têm condições de comprar água tratada.

“Várias pessoas queixaram-se de doenças após o consumo da água (vômitos, diarreias e dores estomacais). As suspeitas em causa surgem pelo facto de o mal-estar acontecer logo após consumirem água. Por exemplo, uma menor de nove anos de idade, residente no bairro Luís Cabral, na cidade de Maputo, sofreu com dores estomacais e diarreia no passado mês de Março, logo após consumir água da rede pública, que na altura jorrava com algum nível de turvação, após sequência de chuvas torrenciais, segundo relatos da mãe.

Água turva da AdRMM tem dimensão nacional

De vários pontos do país surgem relatos preocupantes sobre abastecimento público com águas turvas. Por exemplo, moradores de vários bairros da cidade de Tete e Moatize têm denunciado que das suas torneiras jorra água turva.

Aliás, segundo alguns estudos consultados pelo Observatório, trata-se de água contaminada com metais (manganés e ferro) devido à exploração de minérios naquela província. Esta denúncia sobre abastecimento de água imprópria para o consumo humano consta também de um estudo realizado em Tete pelo académico Paulo Marcos Sebastião, Doutorado em Energia e Meio-Ambiente.

O estudo em causa, produzido em 2022, também refere que parte dos poços onde a água da rede pública é captada está localizada em zonas contaminadas por bactérias fecais, bem como em áreas onde a prática da agricultura com recurso a adubos químicos e deposição de resíduos sólidos é recorrente.

Entretanto, para o académico, estas situações colocam em causa a qualidade da água, tendo em conta que a forma de tratamento/purificação é deficiente.

Acesso à água em Moçambique versus saneamento básico

Dados do Instituto Nacional de Estatística (INE, 2013), por exemplo, indicam que a taxa de cobertura de abastecimento de água chega a 84% nas zonas urbanas e 37% nas zonas rurais (Fonte: INE-IDS 2011). Contudo, a investigação feita pelo OCS revela que, embora o número de fontes de abastecimento de água tenha aumentado, a qualidade da água disponível para a população continua comprometida.

Em muitos casos, os novos pontos de abastecimento não garantem um fornecimento contínuo, forçando as comunidades a recorrerem a fontes alternativas não seguras. Já para o sector do saneamento, os dados oficiais apontam uma cobertura de 44% nas áreas urbanas e apenas 12% nas zonas rurais, números que ainda estão muito distantes das metas sectoriais que preconizam o acesso universal até 2030 (ODS 6.3). A situação torna-se ainda mais crítica quando se observa que muitos dos sistemas existentes para atender as cidades e vilas são inadequados para garantir serviços contínuos e seguros.

Análises laboratoriais indicam que a água da AdRMM consumida pela população não é potável

Há casos em que a olho nu é possível perceber que a água que jorra é um risco à saúde pública. Neste contexto, o OCS interagiu com uma estudante do ensino superior que explicou, por exemplo, que submeteu cinco análises ao Laboratório Nacional de Higiene de Alimentos e Águas, localizado na cidade de Maputo, cujas amostras da água foram extraídas em mercados localizados em vários bairros da cidade de Maputo.

Deste número (05), três confirmaram que a água da rede pública fornecida nos mercados de Zimpeto, Xipamanine e Xiquelene não oferece condições para o consumo humano, apesar de estar a ser consumida pelos utentes.

Devido à gravidade da existência de poluentes nas águas, mais de 3 milhões de pessoas morrem anualmente no mundo, sendo a maioria crianças com menos de cinco anos de idade, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). Neste caso, a principal doença causada pelo consumo de água imprópria é a diarreia.

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