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23 de Janeiro, 2025

Tensão Pós-Eleitoral: Bernardino Rafael reconhece 96 mortos, mas…não conhece seus autores

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Contrariamente aos dados apresentados pela sociedade civil, que apontam para a morte de mais de 303 pessoas, na sua maioria civis, a Polícia da República de Moçambique (PRM), na voz do seu Comandante-Geral, reconhece apenas a morte de 96 indivíduos, dos quais 17 eram membros da corporação.

 

Falando ontem, em Maputo, durante a apresentação do novo Ministro do Interior, Bernardino Rafael garantiu que a PRM conhece a identidade dos mortos e os locais onde foram enterrados, porém, não disse quem tenha sido o autor desta chacina, que começou no dia 21 de Outubro de 2024, data em que iniciaram os protestos de repúdio aos resultados eleitorais e ao assassinato do advogado Elvino Dias e do mandatário do PODEMOS, Paulo Guambe.

 

“O número de registros da Polícia mostra que tivemos 96 óbitos decorrentes das manifestações violentas. Este é o número da Polícia, que não tem relação com números paralelos. Cada um pode apresentar os seus números, mas nós temos o número das pessoas, com os nomes e os locais onde foram sepultadas. E, desses, 17 são membros da PRM”, anunciou o chefe da Polícia.

 

No discurso, no qual defendeu que a Polícia apenas impôs “ordem e disciplina” entre os cidadãos moçambicanos, Bernardino Rafael não explicou em que circunstâncias perderam a vida as 96 pessoas mortas, incluindo os agentes da Polícia. Também não disse quem foram os responsáveis pela morte dos civis, alguns assassinados nas suas próprias residências pela Polícia (através da Unidade de Intervenção Rápida) que, na opinião do Comandante-Geral da Polícia, é o espelho da unidade nacional.

 

O Inspector-Geral da Polícia disse ainda que 210 casas foram incendiadas pelos manifestantes, das quais 50 pertencem a membros da Polícia. Aliás, neste ponto, Bernardino Rafael fez questão de sublinhar que as casas incendiadas “não são aquelas, mas residências”, dando a entender que não estava a falar das casas precárias da maioria da população, mas de habitações luxuosas. “Tivemos ainda 13 cadeias destruídas, forçadas e arrombadas, com mais de 1.780 detidos libertados, que se juntaram às manifestações”, sublinha.

 

Segundo o Comandante-Geral da PRM, a Polícia registou ainda 952 pessoas feridas, das quais 187 são membros da PRM. Registou ainda 118 viaturas incendiadas, das quais 66 pertencem à PRM. Anunciou ainda a destruição total de 77 Comandos Distritais da PRM e o roubo de 53 armas de fogo, suspeitando que “possam estar com os manifestantes”.

 

Refira-se que o país viveu, entre Outubro e Janeiro corrente, a pior crise pós-eleitoral, marcada por manifestações populares convocadas pelo candidato presidencial Venâncio Mondlane em protesto aos resultados eleitorais oficiais, que deram vitória à Frelimo e à Daniel Chapo com mais de 65% dos votos.

 

A Plataforma Decide contabilizou durante o período das manifestações mais 303 mortes, das quais três foram registadas no dia 15 de Janeiro, data da investidura de Daniel Chapo como novo Chefe de Estado.

 

“Vamos deixar de alimentar os nossos assuntos nas redes sociais. A PRM tem sido um exemplo de unidade nacional. Portanto, queremos declarar o fim da nossa operação Maré, bem como da operação da quadra festiva”, afirmou Bernardino Rafael. (Carta)

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