As aulas do ensino geral começaram ontem, em todo o país, estando prevista a inscrição de 1,6 milhões de alunos na 1ª classe. Tal como nos anos anteriores, o início das aulas foi marcado por dificuldades na distribuição do livro escolar, uma vez que algumas províncias, como Nampula e Tete, ainda não receberam o material. Outras províncias, como Inhambane, receberem pouco mais de 100 mil livros.
Numa breve investigação, “Carta” apurou que várias escolas continuam as matrículas, mas outras sequer têm os resultados do ano lectivo de 2024. Carmínia Munheque, mãe de duas educandas que estudam na Escola Secundária de Gwaza Muthini, no município de Marracuene, província de Maputo, manifestou o seu descontentamento em relação ao actual cenário da educação.
“Desde Dezembro último não tenho paz na minha casa, porque ainda não sei se as minhas meninas transitaram de classe ou não. Até aqui, não foram divulgadas as pautas, entretanto, a direcção apela para que façamos a matrícula como forma de garantir que as aulas comecem no dia 10 de Fevereiro. Como fazer matrícula sem saber se as minhas filhas passaram de classe?”, questionou.
Outro caso semelhante foi relatado pelo encarregado de educação Lirope Manuel Manunca. O seu educando estuda na Escola Secundária de Nhongonhuana, em Bobole, mas até hoje não sabe se passou ou reprovou, uma vez que as pautas ainda não foram publicadas.
“Este governo já não se preocupa connosco. Os filhos deles já estão a estudar há uma semana, porque frequentam as escolas privadas, enquanto nós, os pobres, temos de depender da boa vontade dos governantes. No ano passado, o meu filho estava na 9ª classe e este ano, mesmo sem conhecer a sua situação pedagógica, a escola disse que ele se deveria matricular na 10ª classe, mediante o pagamento de uma taxa de 1.500 meticais. Como matricular o meu filho sem ter acesso à pauta? E se ele tiver reprovado, vão devolver o meu dinheiro? A educação já está podre. Estamos entregues”, lamentou.
Na Escola Básica da Matola Gare, os primeiros alunos que chegaram à escola esta terça-feira não tiveram aulas, pois, a secretaria estava lotada de alunos e encarregados tentando matricular-se. Depois de algumas horas, os alunos foram dispensados e informados que deveriam voltar à escola na próxima segunda-feira (10 de Fevereiro) para o início das aulas.
“Nós só tivemos aula de Geografia e só apareceu um professor na sala de aula. Ele apresentou-se, pediu que fizéssemos o mesmo, deu-nos um trabalho para fazer em casa e depois mandou-nos sair. Alguns alunos que estudam à tarde nem chegaram a ver os seus professores, alguns porque não vieram e outros estavam ocupados na secretaria”, relatou um dos alunos da 7ª classe.
Vários encarregados de educação reclamaram o facto de os seus filhos terem sido mandados de volta para casa sem ter aulas nalgumas escolas da província e cidade de Maputo. Enquanto isso, na Escola Primária 16 de Junho, na cidade de Maputo, o início do ano lectivo foi marcado por turmas superlotadas, sobretudo para alunos iniciantes.
“É muito complicado dar aulas a uma turma superlotada, principalmente para alunos iniciantes. Para a 1ª e 2ª classe, a atenção deve ser redobrada, mas é bastante difícil dar atenção a mais de 50 crianças numa sala de aula. Vai ser difícil lidar com essa situação”, frisou uma das professoras.
A fonte relatou que esse cenário se deve ao facto de haver poucos professores na escola e uma das soluções adoptadas pela Direcção Distrital de Educação foi o alargamento da carga horária.
Vale destacar que, em várias escolas, os alunos lotaram as secretarias com os seus encarregados logo nas primeiras horas para matrícula [que terminou na semana passada] e muitos outros ainda não sabem para que classe se devem matricular. A matrícula escolar da primeira à nona classe é gratuita em Moçambique. (M.A.)