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23 de Maio, 2022

A Juventude da Frelimo e o futuro de Filipe Nyusi, escreve Marcelo Mosse

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No último fim de semana, Filipe Nyusi. Presidente da Frelimo, partido no poder, recebeu um aplauso de unanimidade logo que Anchia Talapa, a Secretaria-geral cessante da OJM (a organização juvenil partidária) deixou claro seu apoio para a permanência do actual timoneiro por mais 5 anos, depois do Congresso de Setembro, que também vai escolher um novo Comitê Central.

 

O discurso de Anchia Talapa foi claro: “Camarada Presidente queremos aqui e agora reafirmar o nosso voto incondicional para que continue na Direcção do nosso Partido por mais cinco anos. Estamos consigo rumo ao 12° Congresso”, disse ela.

 

Esta mensagem foi amplamente deturpada na comunicação e redes sociais. Foi tida como um apelo para que Nyusi assuma um terceiro mandato na Presidência da República. Talapa foi cautelosa, evitando esse debate. Mas o repto para a continuidade de Nyusi na direção do partido por mais 5 anos abre espaço para uma interpretação: a de que, se essa ideia vingar, Nyusi continuará a controlar um relevante centro de poder em Moçambique, que é a direcção do Partido Frelimo.

 

Ou seja, a OJM toma uma posição distinta da realidade recente da Frelimo: o partido sempre fez questão que o seu presidente coincidisse com o Presidente da República. 

 

Quando Armando Guebuza subiu ao poder em 2004, Joaquim Chissano era o Presidente da Frelimo e teve de renunciar meses depois, entregando as rédeas do partido à Guebuza. O mesmo sucedeu com Guebuza e Nyusi: quando Nyusi subiu ao poder na Ponta Vermelha, Guebuza era o Presidente do partido, mas teve de renunciar meses depois.

 

A Frelimo reúne-se, em Setembro, em Congresso que vai eleger novos órgãos sociais (incluindo o Presidente, o Secretário Geral e o Comitê Central). Nyusi vai ser candidato à sua própria sucessão. O futuro candidato presidencial do partido Frelimo só será eleito no próximo ano, pelo novo Comitê Central. É de crer que se o candidato presidencial da Frelimo ganhar as presidenciais, ele queira assumir também o controle do partido, como manda prática, fazendo cair as pretensões da “juventude”.

 

A não ser que Nyusi consiga colocar na Ponta Vermelha um seu “delfim”, completamente leal a si. Só assim é que se pode conceber os “5 anos” que a OJM quer que Nyusi se mantenha na Presidência da Frelimo, controlando este centro de poder e, à distância, a Presidência da República, inaugurando-se uma nova configuração do poder político em Moçambique. Seria uma espécie de “terceiro mandato” de Nyusi sem estar na Ponta Vermelha. Será mesmo que Nyusi quer mais 5 anos à frente dos destinos da Frelimo?, eis a questão de fundo. (Carta)

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