Continua um verdadeiro enigma o desaparecimento do jornalista, político e activista social Arlindo Chissale, supostamente sequestrado no passado dia 07 de Janeiro, quando saía da cidade de Pemba, na província de Cabo Delgado, com destino à cidade portuária de Nacala, na populosa província de Nampula.
Informações partilhadas até ao momento por pessoas próximas à família indicam que Chissale foi forçado a descer da viatura em que seguia para Nacala-Porto por indivíduos até aqui desconhecidos, mas que se suspeita que sejam agentes da Polícia da República de Moçambique. Após nove dias de angústia, a família decidiu participar o caso na Polícia, no dia 16 de Janeiro.
Ontem, as redes sociais voltaram a estar inundadas de informações dando conta da morte de Arlindo Chissale, uma morte que é anunciada pela segunda vez em menos de uma semana. A mesma informação foi divulgada por alguns órgãos de comunicação social. No entanto, à “Carta”, a família disse não estar em condições de confirmar tal informação, pois, para confirmar teria de nos mostrar a campa onde o seu ente-querido foi sepultado.
“Não posso confirmar se o meu irmão morreu ou não, porque para te confirmar, teria de te mostrar a campa onde está enterrado. O que posso confirmar é que está desaparecido”, afirmou Macário Chissale, irmão de Arlindo Chissale, em conversa com a nossa reportagem.
A fonte conta que a família tentou, de todas as formas, obter informações sobre o paradeiro do proprietário do portal Pinnacle News – uma das fontes fiáveis dos ataques terroristas, em Cabo Delgado –, mas sem sucesso. Aliás, nesta maratona, a família afirma que já foram envolvidos médicos tradicionais, mas debalde!
O caso de Arlindo Chissale assemelha-se à estória do desaparecimento do jornalista Ibraimo Mbaruco, da Rádio Comunitária de Palma, cujo paradeiro é desconhecido desde o dia 07 de Abril de 2020. Na altura do seu desaparecimento, Mbaruco disse aos colegas que estava cercado de militares, porém, as Forças Armadas nunca confirmaram a informação. As autoridades judiciais também nunca conseguiram esclarecer o caso. Aliás, em Agosto do ano passado, a Procuradoria-Geral da República arquivou o caso, alegadamente por falta de falta de provas.
A família de Arlindo Chissale narra que o ex-Assessor de Imprensa de Raul Novinte, ex-Edil de Nacala-Porto, tinha o hábito de “sumir do mapa”, mas nunca levava muito tempo para regressar à casa. Acredita que o seu desaparecimento tenha motivações políticas. Refira-se que Chissale era um dos seguidores de Venâncio Mondlane, o rosto político dos protestos que caracterizaram o país entre Outubro de 2024 e Janeiro corrente. O político ainda não se pronunciou em torno do caso.
Lembre que, a 25 de Outubro de 2022, Arlindo Chissale foi detido pela Polícia, no distrito de Balama, província de Cabo Delgado, depois de ter fotografado edifícios de instituições públicas daquele distrito, um acto interpretado como sendo “obscuro” pelas autoridades locais.
Na sua acusação, a Procuradoria da República, em Cabo Delgado, disse que Chissale recolhia informações para a prática de actos terroristas, um argumento que foi rejeitado pelo Tribunal Judicial de Balama, que ordenou a sua soltura. Durante o seu período de reclusão (11 dias), Chissale esteve incomunicável. (Carta)