A localidade de Bobole, na zona norte do distrito de Marracuene, província de Maputo, tornou-se, desde princípios de Dezembro do ano passado (no auge das manifestações), num “mini Estado autónomo” dentro da República de Moçambique, onde a população impõe suas regras de convivência, sobretudo na mobilidade de viaturas e pessoas.
Inspirada pelos actos ocorridos na vila fronteiriça de Ressano Garcia, na terceira fase das manifestações populares, a pacata e agitada localidade de Bobole, que se localiza na zona limítrofe com o distrito da Manhiça, entrou nos anais da história do país no dia 07 de Dezembro, quando a população local decidiu bloquear a Estrada Nacional Nº 1, com recurso às máquinas de construção de estradas, por mais de 30 horas, motivada alegadamente pela tentativa de assassinato do ex-candidato presidencial Venâncio Mondlane.
O bloqueio da estrada aconteceu na vigência da denominada “Fase 4X4” e começou às 08h00 de sábado com previsão inicial de abertura às 15h30, horário estabelecido por Venâncio Mondlane para o desbloqueio das vias, na altura.
No entanto, uma informação posta a circular nas plataformas digitais dando conta de uma tentativa de assassinato do ex-candidato presidencial, que se encontrava na parte incerta no estrangeiro, precipitou o prolongamento do bloqueio da estrada. Os manifestantes, na sua maioria jovens, condicionavam a abertura da via à prova de vida de Venâncio Mondlane, através de uma transmissão ao vivo.
A EN1 só foi desbloqueada depois das 21h00 de domingo, após negociações entre as Forças de Defesa e Segurança (FDS) e os manifestantes. Milhares de viaturas e pessoas ficaram retidas naquela localidade por mais de 30 horas, numa situação que colocou em causa a saúde pública, devido à falta de balneários.
Desde esse dia, o bloqueio da Estrada Nacional Nº 1 e o saque de bens tornaram-se comuns e frequentes naquela localidade. Só nas últimas duas semanas, dois camiões de transporte de carga, carregados de cimento de construção, foram imobilizados e saqueados pela população que, em obediência aos novos comandos de Venâncio Mondlane, não aceita comprar aquele material de construção por um valor acima de 300,00 Meticais. Aliás, várias ferragens, em Bobole, não estão a vender cimento de construção por receio de roubos e vandalização.
Esta semana, a Estrada Nacional Nº 1 sofreu dois bloqueios (segunda e terça-feira) naquela localidade, primeiro, em protesto contra o custo de vida (exigia redução dos preços do arroz e do cimento) e depois contra o baleamento de civis pela Polícia, resultante dos protestos da segunda-feira. Um dos bloqueios foi feito com recurso à areia de construção.
Nos tumultos da terça-feira, dezenas de viaturas ficaram sem os vidros, em resultado dos confrontos entre a população e a UIR (Unidade de Intervenção Rápida), a força antimotim da Polícia da República de Moçambique (PRM). (Carta)