Desde as primeiras horas de hoje, 24 de Fevereiro de 2025, manifestantes estão a vandalizar e saquear estabelecimentos comerciais na vila de Morrumbene, enquanto na cidade da Maxixe, o comércio está encerrado, incluindo os bancos. Em causa está o alegado custo de vida, por um lado, e, por outro, as exigências de devolução do valor das matrículas escolares e das contribuições monetárias para o pagamento dos guardas nas escolas. Pelo menos duas pessoas perderam a vida na vila de Morrumbene, entre os quais, um técnico de saúde, vítima de bala da Polícia.
Este é o retrato de mais uma semana que inicia com protestos na zona sul de Moçambique, desta vez, a atingir a capital económica da província de Inhambane (Maxixe) e a pacata vila de Morrumbene, um importante corredor logístico, atravessado pela Estrada Nacional Nº 1. Tanto em Morrumbene como na Maxixe, o transporte semi-colectivo de passageiros está parado. Maior parte dos operadores parquearam as suas viaturas.
Fontes baseadas na cidade da Maxixe contaram à “Carta” que o bloqueio da cidade iniciou antes das 07h30m, quando um grupo de manifestantes colocou barricadas na EN1, junto à zona limítrofe entre os distritos da Maxixe e Morrumbene.
De seguida, o grupo dirigiu-se à cidade da Maxixe, onde bloqueou três pontos, no centro da cidade, um junto ao edifício do INAS (Instituto Nacional de Acção Social), outro junto à saída para a vila de Homoíne e um próximo à Escola Secundária 29 de Setembro. Em todos os pontos, os manifestantes queimaram pneus e noutros obrigaram automobilistas a parquear as suas viaturas, em particular camiões, em plena via pública.
Segundo as fontes, após esta acção, o grupo, constituído na sua maioria por jovens, dirigiu-se à sede da Frelimo, na Maxixe, onde partiu os vidros das janelas do edifício, atirou bens do partido no poder pela janela e, no fim, ateou fogo. Continuando com as suas acções, o grupo escalou as instalações do Fundo de Investimento e Património do Abastecimento de Água (FIPAG), onde partiu os vidros das janelas do edifício. As fontes garantiram que não houve pilhagem de bens.
A Polícia foi mobilizada ao terreno para conter os ânimos, tendo efectuado alguns disparos. Não há relatos de mortos ou feridos pela acção da corporação. Algumas fontes da Maxixe dizem que os integrantes do grupo não são daquela cidade e desconfiam que seja o mesmo que causou tumultos nas vilas de Panda e Homoíne, na semana finda. No entanto, há quem confirma ter identificado alguns residentes da Maxixe entre os manifestantes.
Saque em Morrumbene
Já no distrito de Morrumbene, cuja proveniência dos manifestantes é desconhecida, houve um festival de saque. Dezenas de estabelecimentos comerciais foram saqueadas pelos manifestantes.
O agente económico Alexandre Naife interagiu com “Carta” a partir daquela vila e narrou o cenário de terror que viveu esta manhã. “Nunca vi e nem contava ver isto na minha vida. Estão a saquear estabelecimentos comerciais aqui na vila de Morrumbene. Até crianças estão a roubar. Nem sei como isto vai terminar”, disse Naife, que temia pela destruição do seu mini-bar, o Quiosque Tropical, e do seu salão de eventos.
Um agente da Polícia da República de Moçambique (PRM) foi gravemente ferido, quando tentava dispersar os manifestantes e encontra-se internado no hospital local. Pelo menos duas pessoas perderam a vida, em Morrumbene, incluindo um técnico da saúde, vítima de uma bala perdida.
Alguns pontos ao longo da Estrada Nacional Nº 1, entre Morrumbene e Massinga, estão bloqueados. O Administrador de Morrumbene está em parte incerta e a Sede distrital do Partido Frelimo foi vandalizada. A Polícia, em Inhambane, continua fechada à imprensa. (Carta)