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28 de Fevereiro, 2025

A crise pós-eleitoral e a guerra dos números: Afinal, quantos morreram nas manifestações?

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Tornou-se um ditado popular a icónica frase atribuída ao senador norte-americano Hiram Johnson, proferida num discurso no Congresso dos Estados Unidos da América, em 1917, segundo a qual, “na guerra, a primeira vítima é a verdade”.

O introito vem a propósito dos dados estatísticos que vêm sendo publicados por diversas entidades em torno do número de óbitos registado durante os protestos pós-eleitorais, que iniciaram a 21 de Outubro passado e que se prolongam até hoje.

Num contexto em que o Governo (tanto o liderado por Filipe Nyusi, assim como por Daniel Chapo) esforça-se para mostrar os impactos causados pela vandalização de infra-estruturas públicas e privadas que os danos causados pela acção brutal da Polícia, aliado a um aparente protagonismo das organizações da sociedade civil, os moçambicanos têm sido impingidos por dados contraditórios do número de pessoas mortas durante os protestos.

Em meados do mês de Fevereiro em curso, o Centro para Democracia e Direitos Humanos (CDD) publicou um relatório sobre os direitos humanos, no qual refere que os protestos pós-eleitorais causaram a morte de pelo menos 600 pessoas, entre 21 de Outubro de 2024 e 15 de Janeiro de 2025.

Por sua vez, a Plataforma de Monitoria Eleitoral DECIDE contabilizou, até à última terça-feira, 353 mortos desde o início das manifestações. Trata-se de uma diferença de 247 óbitos em relação aos relatados pelo CDD. Destes, 33 foram registados nos últimos 41 dias.

Já a Polícia da República de Moçambique (PRM), apontada como principal responsável pelas mortes registadas durante as manifestações, reportou, até ao dia 22 de Janeiro, a morte de pelo menos 96 pessoas, das quais 17 eram agentes da Polícia.

Esta semana, o Governo anunciou a morte de 80 pessoas desde 21 de Outubro, o número mais baixo de todos os reportados até ao momento. O Executivo, que divulgou os números a partir da cidade de Pemba, não revelou a sua fonte de dados. Trata-se, na verdade, de uma diferença de 16 mortes em relação ao número fornecido pela Polícia no fim de Janeiro e uma diferença de 273 mortes em relação aos dados da Plataforma DECIDE e de 520 óbitos em relação ao levantamento do CDD.

“Carta” contactou a Associação Médica de Moçambique para apurar o número de pessoas que perderam a vida registadas nos hospitais, vítimas dos protestos pós-eleitorais. Ao nosso jornal, Napoleão Viola disse não ter dados para partilhar com a imprensa acerca do tema, porém, até 05 de Novembro, os médicos contabilizavam pelo menos 16 óbitos, vítimas de baleamento nas manifestações.

Quem também disse não ter dados para partilhar com os jornalistas em torno dos danos humanos causados pelas manifestações é Zenaida Machado, pesquisadora sénior da África na Human Rights Watch, uma organização humanitária internacional que relata abusos dos direitos humanos que acontecem em todos os cantos do mundo.

Com informações contraditórias em relação ao mesmo assunto, a pergunta que não cala é esta: quantas pessoas (entre civis e membros das Forças de Defesa e Segurança) morreram durante os protestos? E quem são os responsáveis? (A. Maolela)

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