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quinta-feira, 17 dezembro 2020 04:37

Terrorismo em Cabo Delgado: Nyusi diz que Governo acompanha a situação desde 2012

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O Presidente da República, Filipe Jacinto Nyusi, revela que o Governo moçambicano acompanha as manifestações do grupo terrorista – que actua em alguns distritos da província de Cabo Delgado – desde 2012, ano em que os destinos do país eram conduzidos por Armando Emílio Guebuza, tendo a figura do actual Chefe de Estado o Ministro da Defesa Nacional. Entretanto, não avançou as razões que levaram ao nascimento dos ataques terroristas e muito menos sobre a sua consolidação e expansão.

 

A revelação foi feita na manhã desta quarta-feira, durante a apresentação do seu Informe Anual sobre o Estado Geral da Nação, acto que teve lugar na Assembleia da República, na capital moçambicana.

 

Num discurso que se configurava uma resposta aos estudos, notícias e artigos de opinião que avançam a possibilidade de as autoridades moçambicanas não terem levado a sério os sinais de insurgência que foram testemunhados e reportados nos anos anteriores a 2017 (ano em que iniciaram os ataques terroristas), o Chefe de Estado avançou que a situação já vinha sendo monitorada desde 2012 e, como forma de conter o seu avanço, foram criadas bases militares na região.

 

“As manifestações dos grupos que se intitulavam islâmicos iniciaram em 2012. O Governo deste país já sabia, em 2012, e começou a seguir, incluindo quando começou a criar algumas bases no local, e conseguiu conter até Outubro de 2017”, disse Filipe Nyusi, apontando os distritos de Mocímboa da Praia, Palma, Quissanga e Nangade, como os primeiros palcos da “insurgência”.

 

Segundo o Comandante-em-Chefe das Forças de Defesa e Segurança (FDS), as acções eram promovidas por um cidadão de nacionalidade tanzaniana, identificado por Abdul Shakulo. “Nessa altura, esse cidadão incitava à desobediência à Constituição da República, proibição de frequência de crianças nas escolas públicas e obrigatoriedade de frequência às madrassas”, caracterizou.

 

“Enquanto recrutava jovens e crianças, estes terroristas promoviam entradas nas mesquitas com sapatos, calções e objectos contundentes. Todas estas práticas são contrárias ao islão. O modus operandi destes terroristas caracterizava-se por incendiar aldeias, assassinar, decapitar e esquartejar as populações. Ao mesmo tempo, promoviam a pilhagem de produtos agrícolas para o seu auto-abastecimento”, acrescentou Nyusi, descrevendo as primeiras características do grupo.

 

Refira-se que dois estudos conduzidos por pesquisadores nacionais e estrangeiros apontam para 2015 e 2007, como anos em que se registaram as primeiras manifestações de insurgência. O primeiro foi realizado pelo Instituto dos Estudos Sociais e Económicos (IESE), em parceria com a Fundação MASC (Mecanismo de Apoio à Sociedade Civil) entre Novembro de 2017 e Fevereiro de 2018, tendo avançado que os primeiros sinais de insurgência foram testemunhados, em 2015, primeiro, como um grupo religioso e depois passou a incorporar células militares.

 

Já outro estudo, conduzido pelo professor sénior de história africana e imperial na Queen's University de Belfast, na Irlanda do Norte, Eric Morier-Genoud, entre 2018 e 2019, revela que as primeiras manifestações de insurgência tiveram lugar no distrito de Balama, no ano de 2007.

 

Grupo liderado por estrangeiros

 

De acordo com o Presidente da República, dos terroristas capturados ou mortos em combate, destacam-se tanzanianos, congoleses, somalis, ugandeses, quenianos e, claro, moçambicanos, que são a maioria. Sublinha que os jovens moçambicanos são recrutados nas províncias de Cabo Delgado, Nampula, Zambézia, com realce para a zona litoral, sendo que as suas lideranças são maioritariamente estrangeiras, destacando-se os tanzanianos Sheik Ibrahim (já morto), Sheik Hassan Muzuzuri e o Sheik Abdul Aziz.

 

“Para além destes líderes, contam-se também os líderes Sheik Hagy Hulathuli e Faraghi Nakalaha, que foram mortos em combate. Actualmente, as fontes de financiamento conhecidas são: a pilhagem de produtos das populações, transferências monetárias de colaboradores via electrónica e rendimentos provenientes do crime organizado”, adiantou.

 

Entretanto, os dados sobre o perfil dos membros do grupo terrorista não constituem novidade. No estudo conduzido pelo IESE e Fundação MASC, publicado em Setembro de 2019, os pesquisadores avançam que os líderes do grupo tinham ligações com certos círculos religiosos e militares, da Tanzânia, Quénia, Somália e região dos Grandes Lagos.

 

Sublinham ainda que parte importante dos recrutas eram provenientes dos distritos costeiros das províncias de Cabo Delgado (Mocímboa da Praia e Macomia) e Nampula (Memba, Nacala-a-Velha e Nacala-Porto), sendo que o dinheiro usado para financiar as actividades era proveniente da economia ilícita local (tráfico de madeira, carvão vegetal, rubis e marfim) e doações, através de transferências electrónicas.

 

Refira-se que os ataques terroristas já causaram a morte de mais de duas mil pessoas, entre civis, membros do grupo e das FDS e causou a deslocação de mais de 570 mil pessoas. (A. Maolela)

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