O Governo moçambicano esteve, esta quarta e quinta-feira, na Assembleia da República a prestar informações em torno das perguntas formuladas pelos deputados das três bancadas, nomeadamente, a Frelimo, a Renamo e o Movimento Democrático de Moçambique (MDM). No segundo, dos dois dias de interacção com o Executivo, as bancadas apresentaram-se divididas no que à apreciação dos esclarecimentos prestados diz respeito, pontificando as que perfazem a oposição que se mostram, verdadeiramente, contrariadas.
As bancadas da Renamo e do MDM foram unânimes ao afirmar que o Governo de Filipe Nyusi não respondeu cabalmente as perguntas por elas endereçadas. Para a bancada da Frelimo, a maioritária, o Governo foi pragmático e deu respostas esclarecedoras, ou seja, respondeu plenamente as questões que lhe foram enviadas pelas três bancadas parlamentares que compõem o órgão.
A bancada do MDM foi a primeira a dar cara a favor da apreciação negativa das informações. Pesaram, segundo Fernando Bismarque, os ataques armados que têm estado a ocorrer na província de Cabo Delgado que, para além de mais de 1.000 óbitos, provocaram mais 435 mil deslocados. Para a bancada do “galo”, o Executivo fez “vista grossa” sobre o tema ao, por exemplo, não ter conseguido explicar se o que se vive naquela província é uma situação de ordem pública ou de ameaça externa, acreditando que seria um bom ponto de partida para definir a forma de actuação.
“O governo tem de classificar a situação, em Cabo Delgado. Se é uma situação de ordem pública ou se é uma agressão externa. Se for ordem pública, tudo bem. É a polícia, sim. Se for agressão, julgamos que deve ser o exército a trabalhar no teatro das operações. A polícia tem os seus homens no campo de guerra e ontem (quarta-feira) ouvimos o Ministro do Interior a dizer que solicitou o apoio dos antigos combatentes da luta de libertação nacional. Quer dizer que há uma falta de confiança, inoperância, falta de capacidade nas FDS até ao ponto de o Governo ter recorrido a pessoas da terceira idade. Portanto, este é o certificado de incompetência que é emitido às nossas forças”, disse Fernando Bismarque, porta-voz da bancada do MDM.
No mesmo diapasão, Arnaldo Chalaua, porta-voz da Renamo, disse que a pergunta da Renamo foi contornada. Por este facto, saíam dos dois dias de sessão insatisfeitos porque esperavam que o Governo, com a responsabilidade que se lhe é exigida, explicasse aos moçambicanos sobre as acções em curso para acabar com os ataques armados em Cabo Delgado, bem como, nas províncias de Manica e Sofala.
Arnaldo Chalaua disse ter plena ciência de que a estratégia militar não se revela e que, na verdade, não é isso que a sua bancada parlamentar pretendia saber. Queriam sim, disse Chalaua, ouvir o que de concreto o Governo está a fazer para pôr fim aos ataques armados.
“A questão que a Renamo colocou foi contornada. Nós saímos insatisfeitos porque esperávamos que o Governo, com alguma responsabilidade, iria falar aos moçambicanos sobre quais são as acções que estão sendo levadas a cabo para pôr fim a esta questão (ataques armados). Nós compreendemos que a estratégia militar não é publicada e não é isso que a bancada da Renamo queria saber. Nós queríamos saber das acções em curso para trazer a paz aos moçambicanos”, disse Arnaldo Chalaua.
Por outro lado, a bancada da Frelimo, na voz do seu respectivo porta-voz, Feliz Sílvia, começou por dizer que estava satisfeita. Disse que partilhava tal sentimento (satisfação), precisamente, porque o Governo de Filipe Nyusi, imbuído do seu sentido responsabilidade, foi extremamente esclarecedor, isto nas informações apresentadas à magna casa, tanto nas perguntas por si formulada, como nas das outras bancadas.
Feliz Sílvia disse que o Executivo foi ao detalhe nas informações prestadas e que, volvidos os dois dias de interacção, não restava outra via senão atribuir nota positiva.
“Damo-nos por satisfeitos. Já havíamos dito isso ontem (quarta-feira) e hoje (quinta-feira) reafirmamos. O Governo de Moçambique, como sempre nos habituou, com o seu elevado nível de responsabilidade, trouxe as informações que nós solicitamos, mas também as solicitadas por outras bancadas. Foi extremamente esclarecedor sua excelência o Primeiro-Ministro, no seu discurso de abertura quando falou para além daquelas que eram as informações solicitadas. Também falou de forma muito detalhada sobre as informações solicitadas pelas outras bancadas. E nós, como bancada da Frelimo, damos nota positiva”, disse Feliz Silvia.
Concretamente, a bancada da Renamo queria que o Governo apontasse as acções que está a levar a cabo para a reposição da ordem e tranquilidade públicas, os contornos do pedido de ajuda solicitada à União Europeia, bem como a contratação de empresas de segurança e mercenários que têm estado na linha da frente no combate aos ataques terroristas, em Cabo Delgado.
Por seu turno, a bancada do MDM exigia explicações em torno das acções em curso para a normalização da situação nas províncias de Sofala e Manica. O grupo parlamentar do “galo” queria também esclarecimentos à volta da situação dos ataques em Cabo Delgado. As razões por detrás do fracasso na conservação da paz.
Já bancada da Frelimo solicitava informações sobre as acções, actualmente, em curso no sector agrário, visando elevar a produção e produtividade de modo a assegurar a disponibilidade de alimentos para os moçambicanos. (I.B.)