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quarta-feira, 17 junho 2020 06:47

Terrorismo em Cabo Delgado: “A prioridade do exército não é proteger as populações civis” – defende Relatório

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“Do el dorado do gás ao caos – quando a França empurra Moçambique para a armadilha do gás” é o título do mais recente relatório lançado pela organização “Amigos da Terra Internacional”, que aborda várias matérias sobre a situação de Cabo Delgado.

 

O documento, de 38 páginas, defende, entre outros pontos, que “a prioridade do exército não é proteger as populações civis”. Segundo o estudo, “enquanto os ataques dos insurgentes forçam os habitantes da região de Cabo Delgado a deixar os seus lares, as comunidades concentradas em torno da Península de Afungi receiam fugir das suas aldeias, com medo que a Total ou um dos seus sub-empreiteiros aproveite a sua ausência para se apoderar das suas terras. Foi isso mesmo que aconteceu na aldeia Milamba, aquando de um ataque em Janeiro de 2019, perto de Maganja, a 7 Km do Parque de Afungi”.

 

De acordo com os pesquisadores, no referido ataque, em que não foram mobilizados soldados, com o argumento de que estes estavam encarregues de proteger as instalações de exploração de gás, a comunidade fugiu para Palma e a empresa Portuguesa BTP Gabriel Couto, contratada pela Anadarko (depois Total), aproveitou a oportunidade para tomar posse das terras e começar as obras de construção do aeródromo.

 

Para os “Amigos da Terra Internacional”, “quase todos os campos militares identificados pela Justiça Ambiental ficam perto das terras alocadas as dos agentes contratados pela Total – o que demonstra bem que o exército moçambicano dá prioridade à protecção das populações. Nada de novo, uma vez que uma parte dos salários das forças especiais é paga pelas grandes empresas de exploração de gás”.

 

De acordo com a organização, as Forças especiais moçambicanas não só são omnipresentes em torno da península de Afungi, mas também garantem a protecção dos representantes das empresas que se reúnem com as comunidades – presença essa que as populações entendem como forma de intimidação para evitar que expressem as suas preocupações. Com a aceleração dos ataques, o exército moçambicano recrutou um número maciço de jovens soldados que enviou para Cabo Delgado sem qualquer formação, mas dotados de uma forte sensação de poder.

 

A organização avança que os soldados não são pagos atempadamente nem providos dos devidos abastecimentos alimentares, observou-se que as populações civis já foram vítimas de vários roubos. As mulheres estão especialmente em risco, ameaçadas, por um lado, pelos grupos insurgentes – registaram-se vários casos de rapto – e, por outro, pelo exército – muitas foram vítimas de abusos sexuais por parte dos soldados, mas têm medo de denunciá-los. (Carta)

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