A tensão perto da fronteira do Zimbabwe entre o partido Frelimo e a principal oposição naquele país está a ameaçar romper a paz no leste do território zimbabueano. O principal partido de oposição no Zimbabwe, a Coligação de Cidadãos para a Mudança (CCC na sigla em inglês), liderada por Nelson Chamisa, afirmou que o partido Frelimo, no poder em Moçambique, destacou um grupo de choque em algumas partes da província de Manicaland, onde supostamente está a ameaçar empresas e apoiantes da oposição.
O candidato parlamentar da CCC pelo círculo eleitoral de Chipinge Sul, Clifford Hlatshwayo, acusou um membro da Frelimo, identificado apenas como Magarabota, de liderar um bando que está a aterrorizar alguns empresários e membros do seu partido por apoiarem a oposição.
Um vídeo que se tornou viral nas redes sociais mostra Magarabota a ameaçar que Moçambique cortaria o abastecimento de combustível ao Zimbabwe se os habitantes de Chipinge votassem na oposição. A Frelimo disse que os empresários devem apoiar fortemente a Zanu-PF, e se não o fizerem, morrerão. Hlatshwayo disse aos seus apoiantes no centro empresarial de Chingove, a cerca de 20 quilómetros da fronteira entre o Zimbabwe e Moçambique, que Magarabota ameaça a paz que actualmente prevalece na região oriental.
Outro membro da oposição, Reuben Bvunzawabaya, que mora perto do Hauna Business Center, no distrito de Mutasa, disse ao Daily Maverick que a "gangue terrorista" de Magarabota estava a ameaçar com violência.
“Temos sido ameaçados aqui por pessoas lideradas por um grupo terrorista moçambicano liderado por Magarabota da Frelimo. Eles estão a lembrar-nos a violência de 2008 e agora temos medo de que, se eles executarem o que estão a dizer, podemos perder nossos entes-queridos”, disse Bvunzawabaya.
Os esforços para obter comentários da Frelimo e Magarabota resultaram infrutíferos até à publicação da notícia. Em 2008, Zimbabwe viveu uma onda de violência patrocinada pelo Estado, na qual centenas de membros do movimento de oposição, designado Mudança Democrática, na época liderado pelo ex-primeiro-ministro Morgan Tsvangirai, foram mortos.
Tsvangirai derrotou o seu rival Robert Mugabe na primeira volta das eleições presidenciais, mas não conseguiu votos suficientes para ser declarado presidente, e desistiu da segunda volta para a eleição presidencial, declarando: “não posso caminhar até à Presidência da República andando sob cadáveres.”
Desde que Mnangagwa proclamou a data das eleições presidenciais e legislativas para o próximo dia 23 de Agosto, numa altura em que o país continua a lutar contra uma grave crise económica, vários apoiantes da oposição alegaram que estão a ser alvos do partido no poder. As alegações surgem após o presidente Emmerson Mnangagwa ter emitido um alerta aos estrangeiros para não interferirem nos processos eleitorais do Zimbabwe.
“Como povo do Zimbabwe, não permitiremos que o Ocidente nos imponha. A gente não impõe nada a eles, essa interferência de fora é inaceitável. Nós, como Estado soberano e membro das Nações Unidas, temos o direito soberano de realizar nossas eleições [sem interferência].
Mnangagwa, eleito presidente em 2018, candidata-se a um segundo mandato. A sua eleição seguiu-se a um golpe militar que depôs Robert Mugabe em 2017. O principal rival de Mnangagwa, de 80 anos de idade, é o advogado e pastor Nelson Chamisa, de 45 anos, que lidera a recém-formada Coligação de Cidadãos para a Mudança (CCC).
O partido de Chamisa exige o acesso e uma auditoria aos cadernos eleitorais, bem como o acesso público aos meios de comunicação social, o que, segundo ele, ajudará a nivelar as condições de concorrência antes das eleições. Os comentadores políticos afirmam que o fracasso na implementação das reformas eleitorais pode levar o Zimbabwe a mais uma eleição disputada.
A economia do Zimbabwe ainda não recuperou de décadas de declínio e de crises de caos financeiro sob a liderança de Mugabe, com a oposição a culpar o governo pela crescente corrupção e má gestão económica.
Mnangagwa afirmou que o seu governo fez bem em reatar relações com os países ocidentais e culpa as sanções ocidentais pelos problemas económicos do país e pela incapacidade de pagar o serviço de uma dívida crescente.
Nelson Chamisa, da oposição, afirma que, se for eleito, irá restaurar o Estado de direito e desbloquear o financiamento estrangeiro.
Diamantes do Zimbabwe saqueados?
Muitos moradores da província de Manicaland dizem estar preocupados com a possibilidade de perder os seus recursos naturais para estrangeiros, neste caso para moçambicanos, que agora os ameaçam com violência antes das eleições. Uma dessas pessoas é Nixon Sithole, que mora perto dos campos de diamantes de Chiadzwa.
“Vimos muitos estrangeiros aqui em Chiadzwa na companhia de altos funcionários da Zanu-PF; o nosso medo é que estejam a saquear os nossos diamantes e isso pode ser uma razão pela qual os membros da Frelimo não querem que apoiemos a oposição.
“Alguns helicópteros estão sempre a aterrar nos campos de diamantes e talvez estejam a transportar os nossos diamantes para outros países, via Moçambique. Os helicópteros são sempre vistos voando para Moçambique”, disse Sithole.
O ministro das Minas, Winston Chitando, que concorre para a sua reeleição como parlamentar na província de Masvingo, disse que não estava informado sobre essas reivindicações.
“Estou a ouvir isso consigo pela primeira vez. Tudo o que posso dizer por enquanto é que, como governo, seguimos procedimentos estabelecidos e transparentes quando se trata da venda e comercialização de todos os nossos minerais. Não estou a par do que você está falando,” disse Chitando. O porta-voz da Zanu-FP, Christopher Mutsvangwa e o director de informação do mesmo partido, Tafadzwa Mugwadi, não responderam às perguntas enviadas pelo Daily Maverick sobre o assunto.
Ainda em vida, Robert Mugabe chegou a afirmar que o tesouro do Zimbabwe perdeu mais de US$ 15 biliões em dinheiro de diamantes por causa da corrupção, mas nada foi feito para responsabilizar os perpetradores. O seu sucessor Emmerson Mnangagwa, que prometeu uma série de reformas, incluindo lidar com a corrupção, falhou em lidar com o fenómeno, e seus críticos acusam-no de aplicar uma estratégia de “pegar e soltar” para fazer parecer que ele está a agir.
Algumas fontes do sector de segurança alegaram que alguns recursos usados para financiar a transição militar que levou Mugabe a renunciar em Novembro 2017 foram derivados de vendas ilegais de diamantes, embora isso não possa ser verificado de forma independente. (DM)