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sexta-feira, 14 outubro 2022 07:46

Estudantes do 6° ano da Faculdade de Medicina da UEM denunciam maus tratos, assédio sexual e reprovações em massa

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Estudantes do 6° ano do curso de medicina na Faculdade de Medicina da Universidade Eduardo Mondlane partilharam uma carta em que denunciam assédio sexual e moral, reprovações em massa, maus tratos, insultos, entre outros, perpetrados pelos seus docentes.

 

De acordo com o documento enviado à “Carta”, o grupo de Estágio Integrado do 6° ano no Hospital Central de Maputo (HCM) reclama o facto de ser forçado a estudar como se estivesse em guerra com docentes, alegadamente porque estes sofreram no seu tempo.

 

Segundo os estudantes, a carga horária é desumana, os docentes proferem respostas ofensivas, rasgam histórias clínicas e trabalhos que os estudantes fazem, insultam, avaliam sem critérios definidos e dão sempre notas baixas mesmo com esforço.

 

“Nossos certificados são horríveis pela forma como somos avaliados, pois, o mais importante é reprovar o maior número possível de estudantes”, refere o grupo

.

Ainda no mesmo documento, os estudantes referem que os departamentos de Cirurgia, Ginecologia e Obstetrícia e Medicinas são os campeões no assédio sexual e moral a estudantes.

 

No documento lê-se ainda que os médicos especialistas e residentes costumam constranger as alunas em frente dos pacientes para se desculparem posteriormente por mensagens e chamadas nocturnas. “Andam atrás das colegas a todo o custo, humilham, querem ficar nas salas de procedimentos sozinhos com as meninas, chamam-nas de burras em frente de pacientes e depois pedem contacto para "Explicar Ciência" e se desculparem com sugestões de saídas para tomar um café, lê-se no documento.

 

Os estudantes acusam os médicos de chantagistas e as alunas saem de casa com muito medo de alguns (muitos) médicos famosos em encurralar estudantes e assediar. Ameaçam reprovar e repetir o estágio caso não se cumpram as suas vontades.

 

Mais adiante, o grupo diz que há alunas que repetem o estágio (de cirurgia principalmente) porque os senhores doutores querem ter objecto de apreciação.

 

“Os piores assediadores estão na Cirurgia, Ginecologia e Obstetrícia e Medicinas, em ordem decrescente. Senhores casados, barrigudos com aliança na mão, têm a coragem de se despedir de seus filhos e esposas e mentir que vão exercer medicina enquanto vão caçar estudantes”, escrevem.

 

O grupo relata que há muita humilhação aos estudantes, que são chamados de burros de carga e tratados como lixo.

 

No documento, o grupo fala da carga horária desumana. “Depois de um dia cheio na enfermaria temos de fazer 12hrs de urgência das 20 às 8h e, no dia seguinte, ficar de novo até 14hrs ou mesmo 17hrs. Não há lugar para descanso nem há direito à comida. Sem ter em conta que mesmo assim temos de ficar de estômago vazio para engolir humilhações, ofensas e assédio”.

 

Com vista a apurarmos a veracidade da informação e saber o que de facto está a acontecer naquela instituição de ensino, "Carta" contactou o Director da Faculdade de Medicina, Jahit Sacarlal, que reagiu nos seguintes termos: “não posso dizer nada sobre o assunto e recomendo a investigar mais e apresentar provas para que possa comentar”.

 

Sacarlal disse ainda que este assunto é antigo e várias pessoas vêm há anos copiando esta informação e passando para os outros.

 

Contactamos ainda o Bastonário da Ordem dos Médicos, Gilberto Manhiça, que prontamente afirmou que não podia comentar sobre o assunto porque não receberam nenhuma reclamação dos estudantes.

 

“Não sabemos quem são as pessoas, não sabemos até que ponto essas informações são verdadeiras, o que este grupo podia fazer é reunir-se com a Ordem para abordar esta situação de modo que se privilegie o melhor ambiente possível”, explicou. 

 

Entretanto, o Hospital Central de Maputo emitiu um comunicado na tarde desta quinta-feira, onde manifesta o seu sentimento de repúdio em relação ao que foi relatado pelos estudantes e garante já ter encetado diligências junto das partes envolvidas para melhor entender e colmatar o problema. (Marta Afonso)

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