Morreu esta manhã em Lisboa, vítima de, paragem cardiorrespiratória, o advogado e político moçambicano, Máximo Dias (antigo número 2 do Gumo, de Joana Simeão). Gumo foi fundado depois do 25 de Abril de 74, visando reclamar a luta pelo poder, mas, como se sabe, a Frelimo não abriu espaço. Exilou-se em Lisboa, foi co-fundador do Centro Moçambicano em Lisboa (Centro de Cultura, Desporto e Mútuo Socorro).Quando Moçambique abraçou o multipartidarismo em 1992, Dias criou o Monamo, através do qual concorreu à Presidente da República em 1994.
Conceituado advogado, ele retirou-se em 2017, depois de cerca de 50 anos de exercício, deixando a advocacia com algumas críticas ao sistema, denunciando casos de corrupção e sentenças condicionadas a valores monetários. “Há magistrados sérios que merecem o nosso grande respeito. Há magistrados que se deixam vender e fazem sentenças de acordo com o dinheiro que recebem, isso é que é vergonhoso” disse.
Numa entrevista à VOA realçou que os casos maus não são muitos, mas são uma grande mancha para o sistema. “Quando falamos de corrupção nos tribunais, não é o juiz que vai bater à porta. É o advogado que bate à porta do juiz a oferecer isto ou aquilo, é o escrivão que nos procura para fazermos corrupção e isso é grave, muito grave” disse.
Nessa entrevista, Máximo Dias faz um breve balanço das cinco décadas de exercício: mais de três mil processos, alguns bastante polémicos, como o desfalque do BCM, no qual defendeu um dos acusados. Em termos de resultados, ganhou mais de 75% de processos.
Político polémico, declarou-se, numa entrevista ao Notícias, como um dos fundadores da Renamo, juntamente com André Matsangaice, o que lhe valeu severas críticas de renamistas como João Cabrita. Foi em 2007, Dias era deputado na AR pela União Eleitoral. Ele revelou ainda que André Matsangaissa pode ter sido morto pela própria Renamo, enquanto movimento de guerrilha, por alegadamente nunca ter aceite a forma como os seus companheiros de luta conduziam a guerra que dilacerou o tecido económico e social moçambicano.
Segundo suas afirmações, metade dos 32 anos da independência nacional foram gastos com a gestão da guerra dos 16 anos, movida pela Renamo contra a governação da Frelimo.
“Metade dos 32 anos da independência foi com a guerra civil, eu sou um dos responsáveis da guerra e assumo a responsabilidade. Eu fui um dos fundadores da Renamo, juntamente com André Massangaissa e outros companheiros”, revelou, esclarecendo, por outro lado, que Afonso Dhlakama não é membro fundador daquele antigo movimento de guerrilha. (Carta)