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sexta-feira, 11 setembro 2020 05:58

Henriques Dhlakama entra na política pela mão de antigo “espião” português

De acordo com o Africa Intelligence (AI), o nascimento político de Henriques Dhlakama (primeiro filho do falecido líder a Renamo, Afonso Dhakama), recebe o aconselhamento de uma pequena empresa de consultoria e lobbyng portuguesa, de nome IntellCorp, fundada por Ruben Miguel Ribeiro, aka Mark Ribeiro, um antigo “executivo” do departamento africano dos serviços de inteligência portugueses, o Serviço de Informações Estratégicas de Defesa.

 

A Intellcorp tem estado a servir a família Dhlakama há mais de um ano, fornecendo aconselhamento, “intelligence” e serviços de comunicações. O “debut” de Henriques aconteceu há 10 dias, com um discurso publicado no Facebook, o qual passou quase despercebido na opinião pública, não tendo levantado ondas favoráveis nem contrárias no seio da Renamo.

 

Ele projectou-se sobretudo como um conciliador entre as diversas “facções partidárias da Renamo”: “Assumo o compromisso de participação activa na vida política partidária e nacional, em prol do interesse nacional, e face aos pedidos insistentes por parte de actores políticos e sociais, nacionais e internacionais, bem como diversos elementos das facções partidárias na RENAMO”. Hoje, Henriques apresenta-se como sucessor de Ossufo Momade e candidato da Renamo para as presidenciais de 2024 (Ler Destaque).

 

Quem é Ruben Miguel Ribeiro?

 

Num artigo no jornal português “Observador”, de Setembro de 2016, Ruben Ribeiro foi desmascarado. “O ex-espião que fundou a empresa de segurança IntellCorp e que se apresenta como um “ex-oficial do Serviço de Informações Estratégicas de Defesa (SIED)” terá sido apenas técnico-adjunto ou técnico auxiliar da “secreta” que trata das ameaças externas, nunca tendo desempenhado qualquer função dirigente. Ruben Miguel Ribeiro, assim se chama o ex-analista e ex-operacional, não é licenciado. Logo, nunca conseguiu reunir os requisitos para ser promovido à categoria de quadro superior dos serviços de informações portugueses. Chegou a frequentar três cursos universitários, como Ciência Política, por exemplo, mas nunca os concluiu”.

 

De acordo com o jornal, Ruben Ribeiro terá sido militar miliciano no Exército, chegando à patente de sargento, antes de se candidatar a um curso de admissão nos serviços de informações. Feita a formação, terá passado por diversos departamentos do SIED, tendo estabilizado no Departamento de África como analista mas também como operacional.

 

“Conhecido pelos antigos colegas por usar regularmente um jeep clássico da marca britânica Range Rover, foi em missões em África que Ruben Miguel Ribeiro ficou conhecido como Mike R. — nickname que ainda hoje utiliza no twitter. Tendo tido várias missões de contacto com fontes humanas em diversos países de língua oficial inglesa, como o Zimbabwe, terá preferido usar um nome operacional naquela língua para facilitar a integração no teatro de operações”.

 

De acordo com as mesmas fontes da comunidade de intelligence, terá sido no Zimbabwe que Ruben Ribeiro teve problemas de natureza pessoal que levaram à sua retirada de uma missão por decisão da direção do SIED liderada por Jorge Silva Carvalho. Contactado pelo Observador, e sem revelar em que países esteve como operacional, Ruben Ribeiro desmente que tenha sido retirado de alguma missão. “Isso é um rumor de corredor e um disparate. Não houve nenhuma polémica e permaneci sempre no terreno”.

 

Ruben fez ainda questão de dizer que, apesar de formalmente ter sido sempre técnico-adjunto no SIED, desempenhou “desde sempre funções de técnico superior por falta de pessoal”. Apesar de ter tido diversas missões no terreno, garante ter desempenhado essencialmente funções de analista. Em 2014, acabou por sair do SIED.

 

As dúvidas estendem-se à IntellCorp

 

No site oficial da empresa são apresentadas cinco moradas e contactos telefónicos: uma sede em Lisboa, no Parque da Nações, e escritórios em Brasília, Nova Iorque, Dubai e Maputo. Uma busca pelas moradas apresentadas redundam todas no mesmo resultado – trata-se de escritórios virtuais, uma forma de determinadas empresas poderem ter uma morada em vários locais sem lá estarem presentes fisicamente. (Carta)

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