O Presidente da República garante estarem abertas as “portas” da província de Cabo Delgado, em particular dos distritos afectados pelos ataques terroristas, para qualquer jornalista que quiser realizar o seu trabalho, em torno daquele assunto. A garantia foi dada esta segunda-feira, a partir da cidade de Pemba, capital provincial de Cabo Delgado, durante o lançamento da Agência de Desenvolvimento Integrado do Norte (ADIN).
“Tenho estado, nos últimos dias, inocentemente a assistir algumas afirmações de quem está, de facto, deslocado da realidade que se chama Moçambique. O palco operativo de norte não está fechado e nem vedado a nenhum membro da comunicação social. Está aberto. Pode-se ir. Naturalmente, é uma zona de guerra, onde é imprevisível e a comunicação é fundamental. Mas, está aberto como se estivesse aberto todo tipo de... O país está aberto, não está fechado e nem está vedado alguma zona”, disse Filipe Nyusi, durante o lançamento da ADIN, uma instituição que visa promover o desenvolvimento social e económico naquela parcela do país.
A posição do Chefe de Estado surge dias depois de as críticas em torno do “blackout” do Governo à cobertura dos ataques terroristas, por parte dos órgãos de comunicação social do país, ter subido de tom, após a televisão pública portuguesa (RTP África) ter exibido uma reportagem exclusiva feita no quartel de Mueda, naquela província. A situação veio reforçar a ideia já cristalizada de que o Governo prioriza os órgãos de comunicação social estrangeiros que nacionais, devido a sequência de eventos que foram tornados públicos, em primeira mão, pela imprensa estrangeira.
“Estamos agora perante o terrorismo. Não podemos dizer luta de 16 anos, não tem nada de comparação”
Num outro desenvolvimento, o Chefe de Estado disse não haver comparação entre os ataques terroristas que se verificam na província de Cabo Delgado com a guerra de 16 anos, que opôs a Frelimo e a Renamo, após a independência nacional.
“Quero, perante os moçambicanos, como o fiz no ano passado – sem querer comparar com os processos de paz passados porque não são iguais: estamos agora perante o terrorismo. Não podemos dizer luta de 16 anos, não tem nada de comparação, a coisa está clara aqui, o terrorismo é uma nova experiência para o povo moçambicano – que o meu governo tudo fará para assegurar a ordem e prestação de famílias moçambicanas. Que fique claro que qualquer ameaça, ataque ou tentativa de desestabilização de qualquer ponto do país, usando qualquer método subversivo constitui um atentado à coesão e unicidade ao povo moçambicano e, como tal, reagiremos como povo uno e indivisível. O povo está atento e nunca perderá a razão. A nossa prioridade inalienável é a nossa soberania sem contemplações. Não vamos admitir que uma única franja da sociedade invoque o sofrimento do povo moçambicano para colheita de interesses de grupos. Temos consciência das nossas limitações materiais e históricas, mas não se pode confundir com ausência de energia e sobretudo como falta de predisposição para nos defendermos em todo território nacional contra qualquer tipo de inimigo”, disse Filipe Nyusi, também durante o discurso de lançamento da ADIN.
Para Filipe Nyusi, já não há dúvidas de que estamos perante uma agressão terrorista, com raízes externas, porém, com cúmplices no território nacional. “No princípio apresentavam-se como uma desordem pública, perpetrada por criminosos, que tinham em vista saquear bens da população e explorar de modo descontrolado recursos que jazem no solo pátrio. O seu modus operandi foi modificando e sabemos hoje que fazem parte de uma rede internacional que tem por objectivo claramente agredir o nosso Estado e tem contado com algumas ligações internas, que os garantem penetração comunitária. Hoje, de modo nítido e seguro, já podemos afirmar que fazem parte de uma rede terrorista, que de forma progressiva enverada por actos de Estado moçambicano.
Para obter sucesso, diz Nyusi, o grupo recruta jovens, explorando sua condição de pobreza, com promessas de vida melhor e alegadamente com o cumprimento de preceitos de fé, levando-os a revoltarem-se dos seus próprios irmãos e das instituições do Estado.
Refira-se que a insurgência já causou cerca de 250 mil deslocados e a morte de centenas de cidadãos, entre nacionais e estrangeiros, assim como entre civis, elementos das Forças de Defesa e Segurança e integrantes do grupo, para além do grupo já ter sequestrado dezenas de mulheres e crianças. (A. Maolela)