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sexta-feira, 24 abril 2020 07:31

Nyusi consegue irritar Ramaphosa

O presidente sul-africano, Cyril Ramaphosa, ficou surpreendido com a recente contratação, por parte do governo moçambicano, de uma empresa de segurança privada da África do Sul, para operações nalguns distritos da província de Cabo Delgado.

 

É que as negociatas com a firma privada, Dyck Advisory Group (DAG), decorreram nas costas de Cyril Ramaphosa, numa altura que continua sem resposta o pedido formulado em fevereiro pelo governo moçambicano, visando apoio no combate aos insurgentes dos ‘Sem Rosto’.

 

O Africa Intelligence (AI) afirma que o contrato com a DAG tem a duração de dois meses, ou seja, abril e maio.

 

O que mais terá irritado, embaraçado, o governo da África do Sul, foi ter visto helicópteros da DAG sobrevoarem o território moçambicano, no quadro de um negócio realizado e fechado sem o conhecimento do executivo de Pretória, num momento que este tem mãos pedido de ajuda do governo de Filipe Nyusi contra os insurgentes.

 

 Agência sul-africana de Segurança do Estado (SAA) ficou consternada com os vídeos que dia 8 de abril circularam nas plataformas sociais, mostrando três helicópteros militares, incluíndo dois Gazelles, sendo que um deles serviu as forças armadas britânicas.

 

As aeronaves sobrevoavam a costa marítima moçambicana, em direcção a Cabo Delgado, província onde os insurgentes ganham avanço. Trata-se de aeronaves paramilitares rearmadas que se envolveram em operações na província moçambicana, tendo uma delas sido atingida durante ataque a uma base de apoio dos insurgentes, dia 10 de abril. O helicóptero foi derrubado, mas a tripulação escapou ilesa, imediatamente socorrida pelos colegas da segunda aeronave.

 

A AI acha que a secreta sul-africana, SSA, liderada por Loyiso Jafta, ordenou a tripulação a colocar fogo na aeronave danificada. Jafta suspeita que o especialista em segurança privada, Dyck Advisory Group (DAG), tenha atacado, no passado, o aeroporto Wonderboom, perto de Pretória.

 

Com efeito, segundo a AI, a aviation at Work registou uma das Gazelles avistadas recentemente em Moçambique, no aeroporto de Wonderboom, em dezembro do ano passado, mas Frikkie Boltman, quando contactado, afirma que a empresa de que é presidente havia vendido a aeronave, resposta sem confirmação da Autoridade de Aviação Civil da África do Sul.

 

Em agosto de 2019, duas ex-gazelles, do exército francês, foram remilitarizadas nas cabides da Warbird Aircraft Services, empresa também sediada perto da pista de pouso Wonderboom, a 25 km da sede da SSA, o Complexo Musanda.

 

As aeronaves foram parar em Cabo Delgado para ajudar as Forças Armadas de Defesa de Moçambique (FADM) e a força policial. Foi o Grupo Consultivo Dyck, presidido por Max Dyck, filho do ex-coronel da Rodésia Lionel Dyck, que ainda lidera a ala militar do grupo, que orquestrou esse backup militar.

 

O episódio das aeronaves sul-africanas em Cabo Delgado, de acordo com a AI, perturbou a SSA e envergonhou o governo sul-africano, por estas alturas em busca de formas de apoiar Moçambique na sua luta contra a insurgência de Cabo Delgado.

 

“Ter aeronaves militarizadas sul-africanas privadas, no auxílio ao exército moçambicano, colocou Pretória em uma posição embaraçosa”, escreve a AI.

 

A velocidade com que a insurreição moçambicana vem crescendo nos últimos meses pode vê-la invadir o solo sul-africano.

 

De tal modo que o ministro de Relações e Cooperação Internacionais da Africa do Sul, Nalendi Pandor, está actualmente a analisar o assunto. Em fevereiro, ainda a AI, a diplomacia moçambicana pediu apoio à África do Sul, mas o presidente Filipe Nyusi ainda não recebeu uma resposta final do seu homólogo sul-africano, Cyril Ramaphosa, ainda que o sul-africano tenha destacado a situação de segurança em Moçambique, falando na cúpula da União Africana (UA), 9 de fevereiro, quando da sua nomeação para presidente da instituição.

 

Os esforços do governo moçambicano para garantir apoio militar dos membros da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC) até agora não foram ouvidos. O chefe de estado do Zimbabwe, Emmerson Mnangagwa, que Maputo também solicitou apoio, ainda não deu a sua resposta, ao contrário do seu homólogo angolano. (AI)

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