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quinta-feira, 12 março 2020 03:44

Ataques em Cabo Delgado: FDS passam “pente fino” a cidadãos e militares nos nove distritos afectados

É uma situação que, tal como os ataques – que vêm destruindo vidas, na província de Cabo Delgado, desde Outubro de 2017 – está a deixar as pessoas que trabalham e circulam pelas estradas que cruzam alguns distritos alvos da “barbárie” com um certo desconforto.

 

Em causa está uma suposta “rusga” levada a cabo pelas Forças de Defesa e Segurança (FDS) contra todos os cidadãos residentes nos nove distritos afectados pelos ataques (Macomia, Muidumbe, Quissanga, Palma, Mocímboa da Praia, Nangade, Mueda e Ibo e Meluco), assim como a todos os indivíduos que cruzam aqueles distritos.

 

Uma fonte das FDS confidenciou à “Carta” que a operação visa dificultar a circulação de informações sobre os ataques. Em concreto, garantiu a fonte, o objectivo é impedir que a imprensa e as pessoas saibam sobre a real situação que se vive naquela província do norte do país.

 

Conta a fonte que a “rusga” incidiu, principalmente, nos colaboradores de Organizações Não-Governamentais (ONG), que fazem trabalhos nos referidos distritos. Estes, assegura a fonte, são submetidos a uma vasculha minuciosa e, de seguida, são interrogados. Neste processo, caso se constate alguma mensagem, áudio, contacto “estranho”, grupos de WhatsApp, publicações no FacebookTwitter ou vídeos reportando algo sobre os ataques, o indivíduo é detido.

 

Na semana finda, um grupo de colaboradores de uma ONG viveu um autêntico terror, quando foi interpelado por elementos das FDS, no momento em que seguia viagem para mais um dia de trabalho. Segundo conta um colaborador da referida ONG, as FDS ordenaram que todos os ocupantes da viatura entregassem os telemóveis e os respectivos códigos de segurança.

 

“Ficamos a ser investigados por mais de quatro horas e a perguntarem qual era o nosso objectivo e o que íamos fazer naquela zona”, narrou a fonte, sublinhando estar a ser difícil trabalhar em Cabo Delgado, pois, “para além do medo de sermos atacados, o grande problema está em quem confiar, uma vez que as FDS nos tratam desta forma. Nós estamos a apoiar as comunidades recônditas em diferentes áreas e eles nos fazem isso”, desabafou.

 

A “rusga”, segundo a fonte militar, está em curso também nas fileiras das FDS, onde se desconfia que haja fuga de informação acerca do problema, que já causou mais de 350 óbitos e afectou aproximadamente 160 mil pessoas. Relata haver, inclusive, detenções de militares, devido à suposta fuga de informação.

 

A fonte acrescenta ainda haver problemas de rendição nas forças nacionais. Conta que há alguns meses que não se verifica a substituição de militares no teatro das operações, tal como acontecia no passado.

 

“O cenário não está bom. Triste é ver alguém ser enterrado sem consentimento da sua família. Quem informa a família, basta ser descoberto já era”, afirma a fonte.

 

Refira-se que esta situação surge numa altura em que a Polícia da República de Moçambique (PRM), em Nampula, apresentou 77 jovens, oriundos de diferentes pontos daquela província. Segundo o Secretário de Estado, na província mais populosa do país, Mety Gondola, os jovens eram “recrutas” das fileiras dos insurgentes. Aliás, o Presidente da Assembleia Provincial de Nampula, Amisse Mahando, disse, na semana finda, que “há jovens que saem de Moma para apoiar terroristas em Cabo Delgado”. (Carta)

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