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sexta-feira, 14 fevereiro 2020 05:57

CDD condena ameaças de silenciamento de jornalistas que reportam ataques armados em Cabo Delgado

O Centro para a Democracia e Desenvolvimento (CDD), uma organização da sociedade civil, condena, com veemência, as ameaças contra a liberdade de imprensa, proferidas pelo PCA da Empresa Nacional de Parques de Ciência e Tecnologia, Julião João Cumbane, na sua conta pessoal do Facebook, contra o Jornal “Carta de Moçambique”, devido à publicação de informações relacionadas com os ataques militares, na província de Cabo Delgado.

 

Julião Cumbane, ex-membro do famigerado “G40” – um grupo de “choque” criado pela Frelimo para diabolizar qualquer cidadão que pensa diferente – publicou, na passada terça-feira, 11, na sua conta do Facebook, um post, no qual exige ao Estado Maior General das Forças Armadas de Defesa de Moçambique (FADM), o Comando Geral da Polícia da República de Moçambique (PRM) e o Serviço de Informação e Segurança do Estado (SISE) a conjugarem “inteligência e acções enérgicas – mesmo as extra-legais! – contra as ‘notícias’ miserabilistas que desmoralizam as Forças de Defesa e Segurança (FDS), que combatem os ataques por procuração nas regiões Norte e Centro de Moçambique”.

 

No seu post, o solícito académico, que em Maio de 2019 acusou, através daquela rede social, o ex-Presidente da República, Armando Emílio de Guebuza, de “apadrinhar” os ataques que se verificam na província de Cabo Delgado, afirma que as pessoas que “vendem informações ao Marcelo Mosse (Director do Jornal) ou ao seu jornal, Carta de Moçambique, sobre o que se passa no norte de Cabo Delgado, não são patriotas” e que a “brincadeira para ganhar dinheiro à custa do sofrimento dum povo não deve ser permitida e tampouco tolerada”.

 

“Dizer isto, não é estar contra que se informe o povo sobre os ataques que ocorrem no Norte ou no Centro deste país. Longe disso. Estou, é contra o retrato miserabilista que nos é passado por tais pessoas, via "Carta de Moçambique". É MUITO MAU, porque desmoraliza quem tem o DEVER de defender a Pátria e glorifica os atacantes da mesma”, diz Cumbane, neste seu regresso aos “grandes palcos”, desde a sua nomeação, em Novembro de 2019.

 

Segundo o CDD, o Governo “não deve continuar a ignorar o comportamento de um servidor público que tem um enorme desprezo pelo Estado de Direito Democrático” e que “mostra uma compreensão problemática sobre a democracia”.

 

No seu comunicado de imprensa, a que “Carta” teve acesso, no início da tarde desta quinta-feira, a organização dirigida por Adriano Nuvunga solidariza-se com os jornalistas da “Carta de Moçambique”, a quem os incentiva a continuarem a informar os moçambicanos e o mundo em geral sobre os ataques em Cabo Delgado e desafia os órgãos estatais, responsáveis por assegurar a independência dos órgãos de comunicação social, a condenarem publicamente as ameaças de silenciamento de jornalistas através de meios “extra-judiciais”.

 

“O mesmo desafio vai também para as Forças de Defesa e Segurança, no sentido de demarcarem-se de quaisquer actos que violem os direitos e as liberdades fundamentais dos cidadãos”, defende.

 

No documento, de duas páginas, o CDD lembra que esta não é a primeira vez que Julião Cumbane faz uma incursão contra as liberdades de expressão e de informação. Sublinha que, em Agosto de 2018, dois juristas e membros da Frelimo, nomeadamente Teodoro Waty e Teodato Hunguana, foram vítimas de ameaças à integridade física e de morte proferidas por Julião Cumbane.

 

“Os dois reputados juristas foram ameaçados simplesmente porque rebateram, em artigos de opinião separados, as decisões da CNE que afastaram as candidaturas de Venâncio Mondlane (pela Renamo) e de Samora Machel Jr. (pela AJUDEM) das eleições autárquicas na Cidade de Maputo”, descreve aquela organização da sociedade civil, realçando que os visados (Teodoro Waty e Teodato Hunguana) escreveram à Procuradora-geral da República, solicitando a sua intervenção para a tomada de diligências que julgasse convenientes ao caso, porém, sem sucesso.

 

“Esse comportamento aumenta a convicção de que os responsáveis pelos assassinatos, raptos e torturas de activistas, académicos e jornalistas têm a protecção do Estado”, considera a fonte. Referir que, para além das redes sociais, Julião João Cumbane notabilizou-se em debates públicos, onde aparecia defendendo, com “unhas e garras”, as políticas do Governo, assim como as acções do partido Frelimo, num tom de ódio contra os que manifestavam opiniões contrárias. É PCA da Empresa Nacional de Parques de Ciência e Tecnologia desde Novembro do ano passado. (Carta)

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