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quinta-feira, 17 agosto 2023 10:52

Financiamento ao desporto em Moçambique (2): onde estão os torniquetes do Zimpeto?*

zimpeto portoes min

Em 2011, o Estado moçambicano usou dinheiro dos contribuintes e gastou 4 milhões de Meticais (com o USD ao câmbio de 30 Mts) para instalar torniquetes e controlar-se o acesso ao Estádio do Zimpeto, numa exigência da FIFA, trazendo também transparência na contagem de bilhetes. Nada foi instalado! Um litígio arrasta-se longamente nos tribunais.

 

Em 2020, já na vigência do actual Governo e do actual Secretário de Estado Desporto, Gilberto Mendes, e numa exigência da CAF, que havia banido o Estádio do Zimpeto, o Governo alocou, através do Fundo de Promoção Desportiva (FPD), 31 milhões de Meticais para a instalação de torniquetes. Em 4 de Abril de 2020, Mendes dizia na imprensa que a instalação dos torniquetes “era uma questão de dias”, que o Estado não gastaria um único centavo e que tudo seria coberto pelo empreiteiro chinês. Mas até hoje, o Zimpeto está sem torniquetes.

 

Nas próximas edições, “Carta” trará um artigo de investigação sobre a saga dos torniquetes Parte II.

 

Sobre a Parte I (referente aos torniquetes de 2011) e para avivar a memória dos leitores e trazendo o “big picture” de uma gestão caótica do financiamento ao desporto, segue uma crônica de Marcelo Mosse, publicada em 2 de Agosto de 2014, na sua página do Facebook:

 

Amanhã, quando formos ver o jogo da seleção nacional de futebol, jogando contra a Tanzânia e o Mart Nooj, vamos reparar numa coisa: nós nos empurrando para atravessarmos aquela cerca de ferro e arame, bilheteiras vendendo aos tardios e cobradores e agentes cinzentinhos e camarários lutando para rasgaram os canhotos dos bilhetes (o que só acontece quando o portador exige porque, caso não, eles preferem ficar com o papel inteiro para revenderem-no logo a seguir). É a pequena corrupção nos tirando sono e nos roubando algumas quinhentas.

 

Mas, no caso vertente, os pilha-galinhas estão a colher as migalhas deixadas pelo peixe-graúdo. Aquele cenário vergonhoso só tem lugar porque nós todos, nós contribuintes deste país, fomos vítimas da grande corrupção. O Estado gastou, em 2011, mais de 4 Milhões de Meticais para a instalação de torniquetes para controlar o acesso no Zimpeto, uma exigência da FIFA.  Torniquete é uma portinhola automática que se abre quando o código de barras do bilhete é introduzido numa ranhura.

 

O Ministério da Juventude e Desportos nos tempo do Ministro Pedrito, num processo dirigido pelo Secretário Permanente João Loforte, pagou esse valor a uma empresa de nome Hitron, mas esta nunca chegou a instalar nem uma das 16 torniquetes (4 para cada escadaria) previstas. E a Hitron diz que não montou nada porque o negócio valia 13 milhões de Meticais e não os 4. 

 

Ambos, Ministério (Loforte) e Hitron (Luís Pereira) se responsabilizam agora. Loforte diz que a Hitron deve devolver os 4 e Luís Pereira diz que o MJD deve pagar os 13 para fazer todo o trabalho. E nós nos empurrando sempre que joga a seleção; e nós privados do conforto da portinhola que dispensa a cabritada e o Zimpeto correndo o risco de ser banido, se a FIFA descobrir. E 4 milhões sumidos dos cofres do Estado. E ninguém é responsabilizado nem suspenso. E dizem que é tolerância zero.

 

*Marcelo Mosse, 2 de Agosto de 2014, no Facebook 

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