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segunda-feira, 23 maio 2022 06:41

Tanzânia estará a “boicotar” combate ao terrorismo em Cabo Delgado?

O Chefe da Missão da Tropa da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC), em Moçambique, Mpho Molomo, esteve na Universidade Joaquim Chissano, na última sexta-feira, a falar sobre a cooperação internacional para o combate ao extremismo violento em Moçambique.

 

Na sua intervenção, o diplomata tswana esclareceu como está a organização territorial das tropas da SADC na província de Cabo Delgado, tendo saltado à vista o facto das tropas da Tanzânia e do Lesotho estarem a controlar o distrito de Nangade, enquanto o contingente do Botswana está no distrito de Mueda e o da África do Sul em Macomia.

 

“Cada um de nós tem uma área de actuação. As tropas da Tanzânia e do Lesotho estão implantadas em Nangade, o contingente do Botswana encontra-se em Mueda e da África do Sul em Macomia, sendo que a tropa do Ruanda está na área de Palma e Mocímboa da Praia. Nós trabalhamos em coordenação, os nossos generais planificam juntos”, disse o Chefe da Missão da Tropa da SADC.

 

As revelações de Mpho Molomo vieram, por um lado, clarificar as responsabilidades de cada país da missão da SADC no combate ao terrorismo e, por outro, levantar questões sobre a qualidade/eficácia da intervenção de cada uma destas forças no terreno, em particular das tropas tanzaniana e do Lesotho que combate o terrorismo no distrito de Nangade.

 

O facto é que o distrito de Nangade, que faz fronteira com a República Unida da Tanzânia, tornou-se, nos últimos meses, o principal bastião dos terroristas na província de Cabo Delgado, depois de a Missão da SADC ter anunciado bons resultados naquele ponto do país, com a desactivação de algumas bases e abate de alguns líderes terroristas.

 

Com um contingente de 277 militares, a Tanzânia apresenta-se, em Cabo Delgado, como a maior força militar da SADC, facto que, no princípio, causou estranheza na opinião pública devido às relações “amargas” que mantinha com Moçambique. Agora, o facto cria preocupação, pois, é no território do maior contingente da SADC, onde os terroristas demonstram a sua musculatura.

 

Em Nangade, os terroristas controlam quase a totalidade das aldeias do distrito. Passeiam a sua “classe” perante a “incapacidade” das tropas tanzanianas de repelir os ataques. Aliás, nas suas incursões, deixam avisos à população para abandonar voluntariamente as aldeias.

 

Tanzânia, lembre-se, chegou a ser considerada cúmplice dos ataques terroristas em Cabo Delgado, por albergar algumas bases dos insurgentes, por um lado, e por permitir a entrada e saída de insurgentes que atacam a província de Cabo Delgado, por outro. Aliás, alguns ataques terroristas, como a invasão à vila de Palma, foram feitos por insurgentes que partiam da margem norte do rio Rovuma.

 

Mpho Molomo garante haver cooperação entre as forças que se encontram no terreno, embora não haja acordos formais. “Eles perceberam que havia necessidade de trabalhar lado-a-lado para evitar constrangimentos. Temos de cooperar para garantir que se um ataca deste lado, os outros possam bloquear do outro”, disse.

 

Para além de ter albergado algumas bases dos insurgentes, Tanzânia também recusou acolher moçambicanos que fugiam dos ataques terroristas. Dados da Agência da ONU para Refugiados (ACNUR) revelam que, entre Janeiro e Junho de 2021, o país que albergou guerrilheiros da Frente de Libertação de Moçambique recusou perto de 10 mil pedidos de asilo de moçambicanos que fugiam da guerra, em Cabo Delgado.

 

Refira-se que o comportamento da Tanzânia sempre esteve associado a uma suposta cobiça aos investimentos de gás que estão a ser feitos na bacia do Rovuma, o rio que divide os dois países. Recorde-se que Moçambique acolhe, neste momento, os maiores investimentos de exploração de gás natural de África, avaliados em mais de 20 mil milhões de USD.

 

Devido a incapacidade das tropas da SADC, a força ruandesa expandiu sua área de actuação, combatendo também no distrito de Macomia e Nangade. (Carta)

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