Está cada vez mais claro que a Polícia da República de Moçambique (PRM) não está preparada para lidar com a multidão e muito menos manter segurança e ordem pública durante as manifestações. Se não inviabiliza manifestações pacíficas, esta opta para disparar contra a população, como medida para conter a fúria dos cidadãos.
Na última terça-feira, os homens da “lei e ordem” recorreram à poderosa arma de fabrico russo, a AK-47, também conhecida como Kalashnikov, para dispersar a população do Posto Administrativo de Coromana, no distrito de Molumbo, província da Zambézia, que se insurgiu contra a proibição do uso da moeda malawiana kwacha nas transacções comerciais, naquele ponto do país.
Porém, no lugar de disparar para o ar, a Polícia apontou o gatilho para os cidadãos, tendo matado dois dos manifestantes e ferido outros, sendo que um se feriu com gravidade. A informação foi avançada ontem pelo Jornal Notícias e confirmada pelo Comandante Provincial da PRM na Zambézia, Aquilasse Manda.
Segundo Aquilasse Manda, citado pelo Notícias, a carga policial que se verificou em Molumbo visava proteger a integridade física dos funcionários do Estado, depois de os manifestantes terem montado barricadas e ateado fogo. Quatro pessoas foram detidas.
Lembre-se que, há dias, uma manifestação idêntica teve lugar no Posto Administrativo de Xinavane, distrito da Manhiça, província de Maputo, onde trabalhadores da Açucareira de Xinavane vandalizaram a residência do Chefe do Posto e o Posto Policial local em protesto à detenção dos seus colegas, que reivindicavam aumentos salariais. Porém, não houve óbitos.
De acordo com o Notícias, desde 1990 que a população de Molumbo recorre ao kwacha para realizar as trocas comerciais. Aliás, trata-se de uma realidade que se vive em todos os distritos transfronteiriços de Moçambique, onde a moeda estrangeira é mais usada, em detrimento da moeda nacional. (Carta)