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terça-feira, 06 abril 2021 09:38

Nova Aliança da Maxixe uma lenda que não volta mais

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Era uma fogueira com intensas labaredas. Desafiava as fortes chuvas que vinham de Maputo e Nampula e Xinavane e Sofala e de dentro da sua zona de influência. A precipitação caía em catadupa sobre o coração dessa lareira, que entretanto, no lugar de desvanecer, ressurgia. E triunfava nos combates. A equipa do Gomes da Maxixe, como  também vai ser conhecida esta formação, tornou-se um elo. Unia todos os bitongas e todos os vathswa e todos os vatchopi e todos os vandawu que desciam de Mambone e Inhassoro para festejar a grandeza de um conjunto de mito.

 

Mesmo assim, ainda alguém tentou contrariar o rumo vertiginoso de um conjunto que tinha um patrão forjado para as sagas. Reuniram-se dirigentes e antigos jogadores de futebol nascidos em Mucucune (arquipélago discreto  localizado à ilharga da cidade de Inhambane),  e o obejctivo central era reformular a equipa local para, com todas as armas possíveis, obstruir as “brincadeiras” dos maxixenses. Estávamos nos meados da década de oitenta, e o futebol era na verdade o ópio de todos..

 

Tocaram-se trombetas em toda a província, anunciando o grande jogo que vai colocar frente a frente o Nova Aliança da Maxixe e o Mucucune, numa luta em que a equipa da Maxixe tinha que ganhar para se manter no Campeonato Nacional, e os “ilhéus” também precisavam da vitória para ascenderem à panóplia dos grandes. No fundo o Mucucune tinha bons executantes, capazes de alimentar as expectativas, é por isso que o Gomes da Maxixe passou noites sem dormir, enquanto o jogo não se realizasse.

 

A província inteira borbulha porque, como se propala pela voz do povo, alguém vai  morrer. Foi convidado um grupo de zorre para abrilhantar a festa que se espera impetuosa. O farfalhar dos trazeiros das mulheres,  libertados na dança, segundo se diz por aqui, é um forte incentivo para os espíritos e para o público que vai abarrotar o campo. E como se isso não bastasse, vem aí a orquestra de Timbila ta Mwaneni e a sua louca matxatxulani, que vai nos mostrar o feitiço das coxas e das ancas.

 

Os locutores da Rádio Moçambique não páram de anunciar a realização da partida, e em todo o lado a conversa é essa, ninguém sabe o que na verdade vai acontecer porque esses tipos de Mucucune podem fazer das suas. Outros ainda diziam, agora é que o Gomes vai sentir o sabor do sal. E o sal vem de Mucucune. Mas a equipa da Maxixe venceu uma grande partida, derimida sobre o fio da navalha.

 

O Nova Aliança da Maxixe era a lenda dos bitongas, um desiquilibrador dos prognósticos. Não é por acaso que no seu logotipo vamos ter uma gaivota ( nhalégwè em bitonga). Significa que é uma equipa concebida para atravessar mares e oceanos. Não há vento que o desvie do seu azimute. É como se todas as suas realizações fossem feitas a partir do topo, de onde já não se pode ir a mais nenhum lugar, ou melhor, de onde só se pode partir para a levitação.

 

Eles eram a glória da Maxixe, e de toda a província de Inhambane, até ao dia em que o motor  de toda a gravitação, o Gomes da Maxixe, deu o último suspiro. Aí tudo começou a desmoronar, até entrar em derrocada. Mas o que mais nos entristece é que até hoje nunca ouvimos, a nível oficial, nada sobre uma homenagem a um homem que deu tudo de si e da sua fortuna, para alegrar o povo. Agora a  gaivota já não voa. E o mais provável é que sucumba de vez. O que seria muito lamentável!

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