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segunda-feira, 25 janeiro 2021 14:47

Meios de Comunicação Social em África: fontes ocidentais dominam a forma como a história de África é contada

Um terço de todas as histórias africanas relatadas pelas agências noticiosas do continente é obtido através de serviços de notícias estrangeiros, de acordo com um novo relatório da Africa No Filter (www.AfricaNoFilter.org). O relatório “How African Media Covers Africa” (Como é que os Meios de Comunicação Social Africanos Cobrem as Notícias de África) destaca o facto de as histórias sobre África continuarem a ser contadas através dos mesmos estereótipos persistentes e negativos, com especial incidência nas questões relacionadas com a pobreza, a doença, os conflitos, a fraca capacidade de liderança e a corrupção.

 

A equipa responsável pelo estudo inquiriu 38 editores africanos e analisou conteúdos de 60 agências noticiosas africanas de 15 países (Botswana, África do Sul, Zâmbia, Zimbabué, RDC, Egito, Tunísia, Tanzânia, Etiópia, Quénia, Ruanda, Uganda, Gana, Nigéria e Senegal), entre setembro e outubro de 2020. Além disso, foram criados quatro grupos de enfoque, orientados por um facilitador, com 25 editores de meios de comunicação social africanos, editores de agências noticiosas pan-africanas e correspondentes internacionais.  Os resultados confirmam os desafios e as experiências que toda a gente reconhece dentro do setor: as receitas de publicidade e as salas de imprensa estão a diminuir, influenciando o tipo de notícias que os africanos leem, e as notícias são, na sua grande maioria, negativas e repletas de referências a conflitos.Os principais resultados do relatório mostram que as fontes de obtenção de notícias nos países africanos são problemáticas, que os conteúdos resultantes continuam a alimentar antigos estereótipos, e que, frequentemente, a qualidade do jornalismo local não possibilita a existência de relatos contextualizados, com todas as nuances, fundamentais para contar o que se passa nos 54 países que compõem o território africano.

 

  • 63% das agências noticiosas inquiridas não têm correspondentes noutros países africanos.  
  • 1/3 de toda a cobertura de notícias sobre África é proveniente de fontes não africanas, e as histórias da AFP e da BBC representam ¼ de todas as histórias encontradas nas agências noticiosas africanas que falam sobre outros países africanos.  O contributo das agências noticiosas africanas é mínimo.  
  • 81% das histórias foram classificadas como “hard news” (notícias duras), ou seja, notícias sobre conflitos e crises decorrentes de certos eventos - além disso, na sua grande maioria, as notícias encontradas eram de natureza política.   
  • 13% das notícias concentravam-se, especificamente, em situações de violência política, de agitação social e de conflitos armados.  
  • A África do Sul e, imediatamente a seguir, o Egito, foram os países que apresentaram uma cobertura mais diversificada e não necessariamente associada a eventos noticiosos, o que significa que esses dois países são, provavelmente, os “mais conhecidos” do continente.

 

“Os meios de comunicação social têm uma influência incrível na definição da agenda e na determinação das narrativas sobre África”, declara Moky Makura, diretor executivo da Africa No Filter.  “O estudo mostra claramente que, apesar de já terem muitos anos de independência, os africanos continuam a não ser quem controla a ‘caneta’ utilizada para escrever as nossas histórias.  E o que é mais importante, continuamos a promover as narrativas que falam de África como um continente falido, dependente e com falta de boa gestão, através das histórias que partilhamos nos meios de comunicação social uns sobre os outros. Precisamos de recuperar o controlo da ‘caneta’.”A Africa No Filter é uma organização sem fins lucrativos que foi constituída o ano passado com o objetivo de ajudar a mudar as narrativas prejudiciais e estereotipadas sobre África, através de trabalhos de pesquisa, de iniciativas de defesa de interesses e da concessão de subsídios a quem conta as histórias.  É financiada pelas seguintes entidades: Ford Foundation, Bloomberg, Andrew W. Mellon Foundation, Luminate, Open Society Foundation, Comic Relief,  Hilton Foundation e British Council.Makura acrescenta:  “Ironicamente, 50% dos editores inquiridos consideravam que a cobertura que faziam dos outros países africanos não continha estereótipos. Isso mostra, claramente, que temos algum trabalho a fazer no que se refere a educarmo-nos quanto ao papel que desempenhamos na perpetuação de estereótipos ultrapassados sobre nós próprios.   A narrativa é importante e comporta implicações que ultrapassam o simples relato de histórias, uma vez que afeta o investimento em África, os jovens e as oportunidades que as pessoas consideram existir nos seus países em termos de migração, criatividade e inovação”, declara Makuta.Em resposta a este relatório, a Africa No Filter está a proceder ao lançamento da primeira e única agência de notícias do continente, que concentrará os seus esforços no tratamento de histórias sobre criatividade, inovação, arte e cultura e interesses humanos, a fim de preencher a lacuna que existe no mercado. Descarregue o relatório “How African Media Covers Africa”: http://bit.ly/AfricaNoFiltern  (Carta)

 

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