A Hidroeléctrica de Cahora Bassa organizou esta quarta-feira (21), em Maputo, uma Conferência Internacional no âmbito da comemoração do 50º aniversário da empresa que se assinala a 23 de Junho próximo. Falando à margem do evento, inaugurado pelo Presidente da República (PR), Daniel Chapo, o Presidente do Conselho de Administração da HCB, Tomás Matola, disse que a falta de chuvas nos últimos anos está a afectar severamente a produção de energia e proporcionalmente nas vendas e nas receitas.
“Estamos a passar por uma seca severa jamais vista desde a criação da HCB, que baixou significativamente o nível de armazenamento. Mas esse não é um problema só da HCB, abrange também as barragens a montante que exploram a bacia do Zambeze, como Kariba e Cafué no Zimbabwe e na Zâmbia. Estamos numa situação crítica, mas a gestão que estamos a fazer nos traz conforto e intensificaremos medidas para continuar a produzir e satisfazer minimamente os nossos clientes e assegurar o nível de armazenamento sustentável”, afirmou Matola.
Por consequência da seca, o PCA disse que a HCB tem reduzido a produção. No ano passado, por exemplo, a empresa reduziu cerca de 15 mil gigawatts por hora para 10.3 mil gigawatts. Lamentou que, por conta disso, a empresa reduziu os níveis de oferta de energia à África do Sul, mas mantendo a oferta interna através da Electricidade de Moçambique (EDM) e ao Zimbabwe.
“A redução de produção de energia em 2024 foi de cerca de 33% e proporcionalmente na receita. Ainda assim, o lucro cresceu de 13.2 mil milhões de Meticais em 2023, para 14.1 mil milhões de Meticais em 2024, graças à boa gestão dos activos financeiros, nomeadamente, a gestão cambial”, afirmou Matola.
Perante incertezas impostas pelas mudanças climáticas, o Chefe de Estado disse na ocasião ser urgente embarcar na implementação do plano de investimento que visa a reabilitação e modernização dos principais equipamentos da cadeia de produção e transporte de energia de modo a garantir maior disponibilidade e fiabilidade do sistema e, mais tarde, embarcar em outras iniciativas de incremento da capacidade como parte da estratégia de fazer de Moçambique o hub energético da região.
Para a diversificação de fontes de produção, Chapo disse que estão em fase avançada as consultas comunitárias para a construção da Hidroeléctrica de Mphanda Nkuwa, um empreendimento energético desenvolvido pela HCB e a EDM, que vai acrescentar mais 1.500 MW de disponibilidade para o país e para a região, sem contar com as barragens de Boroma, Lupata, Chemba e outras sobre o rio Zambeze, que concentra cerca de 80% da capacidade hidro-energética de Moçambique com impactos estruturantes sobre as economias locais.
O Chefe de Estado mencionou outras iniciativas de produção de energia como sejam a central Norte de Cahora Bassa, centrais térmicas, eólicas e fotovoltaicas, um pouco por todo o país, dada a disponibilidade dos recursos naturais, níveis de incidência solar e ventos que são favoráveis em algumas províncias deste nosso belo Moçambique.
“Sentimos que estamos a testemunhar uma expansão significativa em todo o sector energético, com um foco crescente numa variedade de fontes renováveis, incluindo biomassa, energia hídrica, solar e eólica. Essa diversificação energética é considerada crucial para garantir a sustentabilidade e a resiliência do sector nos próximos anos, reduzir o impacto da indisponibilidade de uma ou outra fonte de produção e garantir a permanente existência da fonte primária de industrialização, que é a energia”, afirmou Chapo.
Com base nos referidos projectos, o PR disse que Moçambique será responsável por 20% da produção energética do continente africano até 2040 e o país poderá integrar a lista dos 10 maiores produtores do recurso no mundo, com projecções indicando que poderá gerar até 187 Gigawatts de energia até 2040, provenientes de uma variedade de fontes. Aliás, lembrou que está em construção uma central eléctrica em Temane, na província de Inhambane, para a produção de 450 MW através do gás, que é a maior central depois da independência.
A conferência de um dia reuniu mais de 300 personalidades e especialistas do sector energético, nacionais e estrangeiros, para reflectir sobre “o papel das centrais hidro-eléctricas no desenvolvimento das economias da região” e “os desafios da produção hidro-energética no contexto de mudanças climáticas geradoras de eventos climáticos extremos”. O encontro decorreu sob o lema “HCB: Ontem, Hoje e o Futuro – Empresa Estruturante e Estratégica”.