Uma denúncia anónima submetida à Procuradoria-Geral da República (PGR), ao Tribunal Administrativo (TA) e ao Gabinete Central de Combate à Corrupção (GCCC) acusa a Administradora das Finanças, Alice Gove, e o director de Contabilidade, Manuel Muchanga, de práticas ilícitas, má gestão financeira e corrupção na Rádio Moçambique (RM), empresa pública, a mais antiga e maior estação radiofónica no país.
De acordo com o documento, Alice Gove é descrita como tendo uma conduta paradoxal, sendo apontada como a principal arquitecta de actos de corrupção que corroem os pilares da Rádio Moçambique. Ela também é acusada de arrogante e ao mesmo tempo em que desvia fundos da RM em proveito próprio e do aliado Manuel Muchanga.
Segundo o documento, a influência e as conexões da acusada são notórias, sendo descrita como amiga de longa data da presidente do Conselho de Administração (PCA) do Instituto de Gestão das Participações do Estado (IGEPE) Ana Coanai. Mais grave ainda, ela é acusada de manter um relacionamento amoroso com o director de Contabilidade, com quem colabora nos esquemas de desvio de fundos. Segundo a denúncia, logo após as transferências ilícitas dos fundos da RM para suas contas pessoais, o “casal” celebrava os desvios em pensões e hotéis durante o horário normal de expediente.
O documento refere-se ainda a desvios “agressivos” de verbas da UNICEF, supostamente justificadas com a apresentação de documentos falsos.
Para se proteger, a Administradora Alice Gove vangloria-se de ter “costas quentes” na PGR, no GCCC e no TA. A mesma, aponta a denúncia, faz questão de garantir que os auditores externos sejam amigos do Director de Contabilidade, controlando-os por meio de subornos avultados, principalmente em auditorias que envolvem a sua área.
Alice Gove e Manuel Muchanga supostamente controlam o Director Administrativo, tendo abafado o escândalo do roubo de combustível. Entre os meses de Abril e Junho, é relatado que ambos autorizaram o pagamento de um “bónus de amizade” no valor de 50 mil meticais por ano. De 2020 até à presente data, todos os funcionários envolvidos em desvios que não integravam a rede da Administradora Gove teriam sido demitidos ou despromovidos. Exemplos disso incluem casos em Nampula (Jorge Gremo e Celestina Bento) e despromoções em Sofala (Joana Simango e o Delegado). Por outro lado, os que faziam ou fazem parte de sua rede gozavam de protecção.
O denunciante solicita a realização urgente e célere de uma investigação para que se conheça a verdade e os responsáveis sejam exemplarmente punidos.
“Carta” tentou sem sucesso contactar a PCA do IGEPE. Também procurou ouvir a Rádio Moçambique, mas, até ao fecho desta edição, ainda estava por ser identificada a pessoa que pudesse comentar o assunto.