Bruno Evans Tandane Langa sentou-se, esta quinta-feira, no banco dos réus para contar ao Tribunal e ao país a sua versão dos factos no esquema que culminou com a contratação ilegal de 2.2 mil milhões de USD, que levaram o país à sarjeta.
No lugar de explicar aos moçambicanos o seu nível de envolvimento no caso, este acusou a Procuradoria-Geral da República (PGR), na pessoa do actual Vice-Procurador-Geral, Alberto Paulo, de o ter coagido a mentir durante a sua audição na fase da instrução preparatória do processo.
Langa afirmou que fora ameaçado pelo magistrado do Ministério Público para admitir a sua participação no esquema, alegando que o ia prender. O mesmo diz ter acontecido no Tribunal, quando foi ouvido pelo Juiz de Instrução, Délio Portugal. Aliás, afirma não ter prestado qualquer declaração ao Tribunal no dia da sua detenção, pois, só esteve no local durante cinco minutos e, nesse tempo, não houve qualquer conversa cordial com Portugal, além de discussões. Acrescentou ainda ter sido falsificada a sua assinatura.
Mas porquê acusar a PGR de o ter coagido a mentir?
Tudo começou quando Bruno Langa foi confrontado pela magistrada do Ministério Público, Ana Sheila Marrengula, com as declarações que proferiu durante a fase da instrução preparatória do processo, assim como com o documento de contestação (da sua condição de arguido), submetido pelo seu anterior advogado um dia antes da sua audição na PGR.
O facto é que, durante a sua audição, Bruno Langa entrou em contradição com as informações prestadas à PGR durante a fase de instrução preparatória. Disse, por exemplo, não ter recebido e nem entregue, ao seu amigo Armando Ndambi Guebuza, qualquer brochura do projecto da Privinvest. Porém, na fase de instrução preparatória afirmou que tinha recebido o referido documento das mãos de Teófilo Nhangumele para que este fizesse chegar ao amigo o documento, para que aquele arguido pudesse consultar o pai sobre o assunto.
Aliás, o Ministério Público exibiu uma contestação apresentada pelo seu anterior advogado, relatando todos os factos constantes da acusação. Porém, disse não ter conhecimento do documento. Também disse não ser proprietário do email que usou para receber comunicações de Teófilo Nhangumele, assim como comunicar-se com Ndambi Guebuza. O email, assim como o conteúdo das conversas com os co-arguidos Teófilo Nhangumele e Ndambi “Cinderela” Guebuza foram extraídos dos seus aparelhos, porém, disse desconhece-los.
Também foi confrontado com o relatório da viagem a Abu Dhabi, em Janeiro de 2012, elaborado por Teófilo Nhangumele, tendo dito que o documento lhe era estranho. O facto é que Bruno Langa disse ter viajado para Abu Dhabi apenas com Teófilo Nhangumele e que se cruzou com Ndambi Guebuza e António Carlos do Rosário naquela cidade do Golfo Pérsico. Disse também que cada um dos integrantes ia tratar seus assuntos. Porém, o relatório da viagem prova que todos faziam parte da mesma delegação e que todos iam tratar do mesmo propósito.
Mesma contradição está na viagem para Alemanha, em Dezembro de 2011. Disse ter viajado apenas com Teófilo Nhangumele e não com Ndambi Guebuza, tal como disse o seu amigo. Disse ter encontrado “Cindy” naquele país europeu, tal como António Carlos do Rosário. O propósito também era diferente dos outros integrantes da viagem.
O comerciante que prestou consultoria imobiliária a uma construtora naval
Bruno Langa apresentou-se ao Tribunal como comerciante, quando questionado sobre as suas qualificações profissionais. No entanto, não especificou o tipo de negócio que desenvolvia.
Disse ao Tribunal ter sido apresentado à Privinvest por Teófilo Nhangumele, em 2010, que falou da sua pessoa a Jean Boustani, executivo daquele grupo. Não revelou que qualidades Jean Boustani apreciou nele, mas afirma que o libanês ligou para si a manifestar interesse da Privinvest, uma construtora naval, de investir no ramo da imobiliária e da hotelaria.
Por essa razão, viajou para Alemanha e depois para Abu Dhabi, onde foi assinar contrato de consultoria com a empresa, na qualidade de Engenheiro Mecânico à Diesel. Não conseguiu explicar as razões que o levaram a declarar as falsas qualidades, pois, não foi ele quem tratou os documentos. Também não conseguiu provar ao Tribunal, em acções, a consultoria prestada à Privinvest, além dos 8.5 milhões de USD que recebera da empresa.
Disse também que o contrato assinado era individual, porém, o Ministério Público provou que este assinou um contrato colectivo com Teófilo Nhangumele. O Ministério Público mostrou também que o seu contrato versava sobre a Zona Económica Exclusiva e não sobre o sector imobiliário e hoteleiro.
“Aqui não é o local para destilar má educação” – Juiz ao Bruno Langa
Tal como Armando Ndambi Guebuza, Bruno Langa optou pela estratégia de “não sei”, “não me recordo” e “não vou responder”, sempre que era questionado sobre os seus investimentos, assim como em torno das provas que o ligam ao caso.
Em alguns momentos, demonstrava tiques de arrogância, tal como “Cinderela”, facto que lhe mereceu também uma repressão por parte do juiz Efigénio José Baptista. “Aqui não é o local para destilar má educação”, disse o magistrado judicial a Bruno Langa.
Langa não quis responder acerca dos seus investimentos, também não quis abordar a viagem privada que efectuou com Teófilo Nhangumele e Ndambi Guebuza para Abu Dhabi a bordo do voo da Privinvest. (A.M.)