O sector privado teve esta semana um discurso de mão-de-ferro ao rejeitar veementemente a oferta do fundo de recuperação da economia por parte do Governo, via banca comercial, na sequência da recente destruição e saque de que foi alvo no quadro da violência eleitoral. Foi uma atitude assertiva. Geralmente alinhado com o Governo, o lobby empresarial chegou a um ponto de não retorno.
Com a economia em contracção e uma tradição de indisponibilidade de dinheiro a taxas de juro acessíveis, as empresas esperavam que o Governo oferecesse dinheiro a fundo perdido, mas isso também era completamente improvável dado que o Estado, ele próprio, está completamente endividado e precisa também de dinheiro para tratar de resolver seus problemas com o sector produtivo do Estado e dar respostas às demandas sociais, muitas das quais são causa da presente tensão social.
O fundo é para ser emprestado a juros comerciais. As empresas exigem segurança primeiro e só depois poderão investir na recuperação dos seus negócios. Esta posição é completamente racional. E agora? Agora a saia justa em que se encontra o Governo de Chapo apertou um pouco mais.
A questão da segurança é um dilema. Chapo ensaiou a tónica da repressão, considerando o envolvimento das Forças Armadas na repressão do vandalismo, mas a reacção da opinião pública a esse apelo foi demasiado crítica. Isto pressupõe que qualquer saída em falso das Forças Armadas nesse exercício pode desembocar em mais violência.
Nos últimos dias, duas aparições públicas do Presidente geraram um enorme criticismo por parte dos comentadores. Num encontro que teve com os doadores, Daniel Chapo equiparou a presente violência pós-eleitoral ao terrorismo que assombra Cabo Delgado, reduzindo as demandas e a violência a uma investida de mera desestabilização proveniente do estrangeiro: a mão externa!
É óbvio que isso não cola. Mais uma vez, Daniel Chapo não consegue enxergar uma verdade óbvia: a sociedade precisa de respostas às suas demandas e não ver isso é como que usar a táctica da avestruz. É difícil perceber por que razão este presidente segue a mesma cartilha do nyussismo. Negação. Negação. Como foi com o terrorismo em Cabo Delgado.
A segunda leva de criticismo decorreu do já muito esmiuçado episódio discursivo de Cabo Delgado. O grande erro do PR foi ter usado o termo “manifestações” para se referir à vaga de violência que vai adiando o país. Ele podia ter simplesmente usado “vandalismo” e isso não seria problema. Foi na verdade um problema de assessoria.
O PR precisa de um assessor político de verdade para evitar escorregadelas discursivas como esta, que certamente reduziu sua aprovação já muito questionada na opinião pública. Em suma, ainda não temos aquele Chapo que prometeu mudar o “status quo”, mais progressista e dialogante, mais assertivo e perspicaz. Ele parece ainda uma extensão de Filipe Nyusi.
Bom, vem aí, em Abril, uma sessão ordinária do Comité Central, que vai eleger uma nova Comissão Política e aparelhar o Secretariado do Comité Central com apparatchiks operativos da cartilha da nova administração da ex-Rua Pereira do Lago em sintonia com as directivas da Casa número um do país, o imponente palácio aparelhado pelo consulado de Guebuza com patrocínio da China, como um templo de estrutura, modus operandi e voz de comando ao modelo Xi Jingpiano, de um Partido, um Governo, um Estado. Apesar do Venancismo assustador e todas as forças de subversão que o discurso belicista do PR Chapo acusa e invectiva como inimigos do Estado, que ele prometeu reformar na verve da campanha eleitoral. Há quem conjecture que só a partir daí é que Chapo terá espaço de manobra para se impor. Enquanto isso, ele seguirá dançando ao ritmo do nyussismo. (X)