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Maputo -

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10 de June, 2025

“Azgo” fazer uma nova cidade!

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“Um dos resultados dos 50 anos da independência é a degradação das cidades e vilas do país e a capital o símbolo dessa degradação”. Assim fui recebido por um taxista ao entrar no seu veículo. A fala fora a propósito do espectáculo de urina que corria aos cântaros pelo asfalto numa das principais artérias da Cidade de Maputo, a capital moçambicana.

Depois que me acomodara no seu veículo, o taxista, visivelmente agastado, conta o que fora, no seu tempo de mocidade, a então Lourenço Marques e hoje Maputo, na sua primeira década da independência, o tempo do pico da sua juventude. Pessoalmente, tenho a vaga noção desses laurentinos tempos dourados dos registos audiovisuais e escritos, e das vivências de infância da primeira década pós-independência.

“Neste país não há ricos”. Prossegue o taxista. Para ele um rico não vive numa cidade nas condições em que se encontra Maputo. Esta fala até lembrou-me o escritor Mia Couto que disse, certa vez, que em Moçambique não havia ricos mas sim endinheirados.

Até então eu estava calado e aproveitei a lembrança da deixa do Mia Couto para entrar na onda das lamentações do taxista e disse: se os nossos endinheirados fossem ricos, já teriam feito novas e modernas centralidades, incluindo cidades. O taxista secundou, dando o exemplo do que acontecera na África do Sul do pós-Apartheid quando os que detinham (ainda detêm) a riqueza saíram do centro de Johannesburg e fomentaram novas centralidades/cidades.

A corrida já ia a meio do percurso. Ao longo do trajecto, a tragédia de uma cidade vista do velho táxi que aos solavancos também reclamava do estado da urbe. Chegado ao destino, e porque a conversava animava, convidei o taxista para um café.

No café continuamos a onda das lamentações até sermos interrompidos por uma senhora que do sotaque e aparência a certeza de ser uma latina, que disse: ” Maputo não está assim tão ruim. Até que tem coisitas interessantes”.

Para o nosso espanto e curiosidade quisemos saber da latina que coisitas interessantes ela se referia. E ela conta que na sua vida só tinha visto ao vivo a “pollita” do seu marido e que em Maputo via em média diária uma dúzia delas nas artérias da cidade.

No final da conversa, e com ar conclusivo, a latina disse que começava a desconfiar que o fenómeno das “pollitas” a céu aberto nas artérias da cidade era parte de um programa municipal de atracção turística. Nesse instante, o taxista e eu, em simultâneo dissemos: “Azgo” fazer uma nova cidade!

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