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30 de May, 2025

A Diabetes Económica: Quando o Açúcar dos Recursos nos Mata aos Poucos

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Para muitos, a diabetes parece uma doença controlável. Basta reduzir o açúcar aqui, tomar um medicamento ali, e a vida continua. Mas quem conhece bem esta enfermidade sabe que ela é traiçoeira — silenciosa, progressiva e, se mal gerida, fatal. O corpo vai-se habituando aos excessos até que, um dia, os órgãos começam a falhar.

Moçambique vive a sua própria diabetes económica. Temos abundância de “açúcar”, os recursos naturais — gás, carvão, madeira, minerais, terras férteis, uma costa invejável. Mas, em vez de gerir essa riqueza com equilíbrio e visão, entregámo-nos ao doce imediato do consumo fácil e da dependência externa.

Tal como o diabético que não resiste ao excesso, o país habituou-se a importar tudo o que consome, enquanto exporta matéria-prima bruta, vendendo barato o que poderia ser fonte de verdadeira transformação. Alimentamos a economia com soluções rápidas, créditos externos e investimentos que parecem vantajosos, mas que, no fundo, só aumentam a fragilidade do organismo económico.

Os sintomas estão à vista:

  • Uma indústria nacional fraca e desprotegida.
  • Uma agricultura que sustenta poucos e depende de condições precárias.
  • Jovens sem oportunidades porque não há inovação, nem valorização da produção interna.
  • E um Estado refém de megaprojectos que enriquecem poucos e empobrecem muitos.

O mais perigoso da diabetes é que, durante muito tempo, o paciente sente-se “bem”. Continua a consumir, a circular, a viver como se nada estivesse errado. Mas o dano é interno, invisível — até que surgem as amputações inevitáveis: perda de soberania económica, desemprego em massa, fome disfarçada de estatísticas e uma dívida pública que cresce como uma infecção sem controle.

Moçambique precisa urgentemente de uma reeducação económica, tal como o diabético precisa de mudar de dieta e hábitos de vida. Isso passa por:

  • Industrializar com inteligência, aproveitando os nossos recursos para gerar valor dentro do país.
  • Reduzir a dependência das importações, incentivando o consumo de produtos nacionais.
  • Criar políticas que fortaleçam o pequeno produtor, o empreendedor, e as indústrias locais.
  • E, acima de tudo, deixar de vender o futuro em troca de um presente ilusoriamente doce.

Porque o açúcar dos recursos, quando mal gerido, não alimenta — ele destrói, lentamente, até que a economia já não consiga sustentar-se de pé.

A pergunta que fica é:

Vamos continuar a saborear este doce veneno até que o colapso nos obrigue a amputar o pouco que resta? Ou teremos disciplina para reequilibrar a nossa economia antes que seja tarde demais?

A diabetes não perdoa o descuido. E a economia de Moçambique já dá sinais de que a glicose está perigosamente alta.

 

Sir Motors

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