Para muitos, a diabetes parece uma doença controlável. Basta reduzir o açúcar aqui, tomar um medicamento ali, e a vida continua. Mas quem conhece bem esta enfermidade sabe que ela é traiçoeira — silenciosa, progressiva e, se mal gerida, fatal. O corpo vai-se habituando aos excessos até que, um dia, os órgãos começam a falhar.
Moçambique vive a sua própria diabetes económica. Temos abundância de “açúcar”, os recursos naturais — gás, carvão, madeira, minerais, terras férteis, uma costa invejável. Mas, em vez de gerir essa riqueza com equilíbrio e visão, entregámo-nos ao doce imediato do consumo fácil e da dependência externa.
Tal como o diabético que não resiste ao excesso, o país habituou-se a importar tudo o que consome, enquanto exporta matéria-prima bruta, vendendo barato o que poderia ser fonte de verdadeira transformação. Alimentamos a economia com soluções rápidas, créditos externos e investimentos que parecem vantajosos, mas que, no fundo, só aumentam a fragilidade do organismo económico.
Os sintomas estão à vista:
- Uma indústria nacional fraca e desprotegida.
- Uma agricultura que sustenta poucos e depende de condições precárias.
- Jovens sem oportunidades porque não há inovação, nem valorização da produção interna.
- E um Estado refém de megaprojectos que enriquecem poucos e empobrecem muitos.
O mais perigoso da diabetes é que, durante muito tempo, o paciente sente-se “bem”. Continua a consumir, a circular, a viver como se nada estivesse errado. Mas o dano é interno, invisível — até que surgem as amputações inevitáveis: perda de soberania económica, desemprego em massa, fome disfarçada de estatísticas e uma dívida pública que cresce como uma infecção sem controle.
Moçambique precisa urgentemente de uma reeducação económica, tal como o diabético precisa de mudar de dieta e hábitos de vida. Isso passa por:
- Industrializar com inteligência, aproveitando os nossos recursos para gerar valor dentro do país.
- Reduzir a dependência das importações, incentivando o consumo de produtos nacionais.
- Criar políticas que fortaleçam o pequeno produtor, o empreendedor, e as indústrias locais.
- E, acima de tudo, deixar de vender o futuro em troca de um presente ilusoriamente doce.
Porque o açúcar dos recursos, quando mal gerido, não alimenta — ele destrói, lentamente, até que a economia já não consiga sustentar-se de pé.
A pergunta que fica é:
Vamos continuar a saborear este doce veneno até que o colapso nos obrigue a amputar o pouco que resta? Ou teremos disciplina para reequilibrar a nossa economia antes que seja tarde demais?
A diabetes não perdoa o descuido. E a economia de Moçambique já dá sinais de que a glicose está perigosamente alta.