A “ordem” que emergiu depois do pleito eleitoral de outubro passado começa a roçar a tranquilidade da normalidade. A via pública tem sido o palco privilegiado em que a nova ordem se faz mais sentir, com destaque para o comportamento dos automobilistas no trânsito. Ganhar tempo no trânsito é a regra do momento.
Há dias, usufruindo o transporte público semicolectivo, vulgo Chapa, deparei-me com a nova ordem em pleno coração da Cidade de Maputo, concretamente na Av. Eduardo Mondlane: entre o cruzamento da Av. Karl Marx e o da Av. Amílcar Cabral, as quatro faixas do meio, sendo duas para cada sentido, estavam todas preenchidas, em direcção a Av. Julius Nyerere.
Por acaso, no transporte em que eu seguia, o motorista, para a minha surpresa, não alinhou na nova ordem. Mesmo diante da insistência de alguns passageiros para que ele transpusesse a faixa lateral e ganhasse tempo junto a outros veículos que passavam a sua classe nas faixas centrais.
“Eu não sou Chapo” foi a recorrente resposta do motorista diante da insistência de cada vez mais passageiros, que reclamavam que atrasariam por culpa do motorista que teimava em respeitar as regras da velha ordem.
E para deixar claro a sua resposta, o motorista foi ao detalhe: “Malta Chapo é que não param no semáforo, não respeitam a velocidade recomendada, andam em sentido contrário e ainda maltratam os nossos tímpanos “.
Depois desta intervenção do motorista – sublinhar que foi com recurso a uma das línguas locais do sul – o silêncio tomou conta do velho “Coaster”. O cobrador, que até então não se metera no duelo entre o motorista e o grosso dos passageiros, tomou a palavra, e lá descarregou algo assim: isso de “Xitsungo” não é de hoje!
PS: Por conta do remate do cobrador, recolhi a minha atenção para uma questão conexa e antiga que é a de saber sobre os reais proveitos do tempo ganho no trânsito. Em um dos textos anteriores (Tempo ganho em vão) aventei que, da avaliação dos resultados da governação do país, facilmente se conclui que o tempo ganho no trânsito não nos leva a lugar nenhum.