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20 de Setembro, 2023

José Belmiro: testemunho, por isso escrevo…

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Chegamos ao segundo texto, porque hoje é quarta-feira. Ainda nos restam mais textos enquanto não conseguirmos transformar esses dias em quartas-feiras de cinzas da desonestidade. É claro que continuo com uma espécie de espinho na garganta impedindo-me de engolir alguns assuntos. Estamos no segundo texto, pois os espinhos vão fazendo uma espécie de oásis na minha garganta e eu vou enxotando estes espinhos a cada texto, a cada parágrafo e a cada ponto que coloco.

 

Escreverei todas as quartas-feiras, esses textos, com a mesma força das senhoras impacientes quando mergulham carimbos em almofadas de tintas nos conservatórios, com a mesma coragem nocturna de um gato atravessando, às cegas, um arame farpado e com a mesma integridade que faz a desonestidade de José Belmiro. Escreverei porque a cada dia sou atirado um saco cheio de motivos, porque a cada dia vejo-me incapaz de compreender o movimento dos dados da insensatez neste grande tabuleiro chamado desonestidade. Escreverei até que José Belmiro saiba que ser um pouco honesto, um pouco só, é mais importante do ser um simples açambarcador de capitais.

 

Falo de honestidade, mas podia usar uma outra palavra: troca-tintas. Como disse: não façam fé em mim, porque, também, às vezes, tenho sido um verdadeiro trapaceiro. Mas digo-vos, meus senhores, é horrível quando uma pessoa como José Belmiro, rodeado de seus ilustres advogados e juristas, constituem sobre a sua desonestidade uma carruagem de troca-tintas. Um troca-tintas é um indivíduo que está sempre a mudar de palavra, um indivíduo áspero, um indivíduo que está sempre a atarraxar os outros, pois a qualquer momento muda de cor, muda de tinta, muda de assobio, mas nunca deixa as suas biqueiras descerem da escadaria da desonestidade.

 

José Belmiro é um troca-tintas com altas qualificações, é um indivíduo que passa o tempo todo a assarapantar os que por algum milagre conseguem descobrir a sua desonestidade, é um indivíduo tão honesto dentro da sua desonestidade sincera, é um oleiro que pega no barro, desenha a forma e diz que vai fazer um copo; e depois faz um pote e quando põe o barro a secar diz que fez uma tigela. E quando o objecto parte-se diz que estava a fazer um relâmpago. É evidente que muitos pensam que não se pode ser honesto com esses magalas, como eu, que nasceram como ratos nos subúrbios. Ninguém é totalmente honesto neste mundo, mas ninguém tem o dever de ser totalmente desonesto.

 

Não escrevo sobre os episódios que recebo todos os dias no meu telemóvel sobre José Belmiro, não escrevo sobre fofocas: escrevo sobre o que vivi, sobre o que estou a viver com esse grande jornalista. Como bem disse o meu xará: “participei, por isso testemunho”; e eu digo: “testemunho, por isso escrevo”.

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