O Conselho Municipal da Cidade de Maputo decidiu encerrar o Mercado Grossista do Zimpeto hoje e amanhã para dar lugar a trabalhos de limpeza e reorganização, o que está a gerar controvérsia e insegurança entre os vendedores.
De acordo com um comunicado da edilidade, as actividades irão consistir na desobstrução das vias de acesso, remoção de resíduos sólidos e de viaturas em estado de abandono, delimitação das áreas ocupadas por cada vendedor e nivelamento das zonas propensas a inundações.
Entretanto, algumas fontes ouvidas pela “Carta” são unânimes em afirmar que o mercado precisa urgentemente de uma limpeza profunda para tentar voltar à normalidade, mas não acreditam que isso possa ser feito em apenas dois dias, dado o estado avançado de imundície.
“É pura mentira dizer que se pode organizar aquele mercado em dois dias. Esta é uma forma que o Município de Maputo encontrou para nos pressionar a pagar as taxas diárias que, desde as manifestações convocadas pelo ex-candidato presidencial Venâncio Mondlane, são pagas por uma minoria, enquanto a maioria foge”, disse Hélio Simões Malate, um dos vendedores de batata e cebola a grosso.
Por seu turno, Ana Luísa Nhatsave, vendedeira de laranjas, considera a iniciativa positiva, mas receia que surjam novos operadores no local e que os antigos percam os seus espaços. “O Município costuma agir assim quando quer colocar as suas pessoas. São esquemas que já conhecemos. Fazem isso quando surgem pessoas à procura de espaço ou quando querem instalar os seus empreendimentos. Oxalá que o Município esteja a agir de boa-fé, porque o lixo, as águas estagnadas e o cheiro nauseabundo fazem com que só permaneçamos lá por causa do dinheiro. Caso contrário ninguém estaria a vender neste Mercado”, conta.
Já Hamina Loforte, também vendedeira, considera a iniciativa louvável, mas receia que, durante os dois dias, alguns colegas possam perder os seus produtos, dado que ao domingo há pouco fluxo de clientes e os produtos podem deteriorar-se.
Revendedores lamentam o encerramento, mas reconhecem a necessidade
Ruth Massango, residente no bairro Guava, no município de Marracuene, e revendedora de produtos adquiridos no mercado, lamenta o encerramento em plena segunda e terça-feira, considerados dias com maior movimento.
“Acho que esta limpeza podia ter sido programada para sábado e domingo, pois a maior parte de nós, os revendedores, compramos produtos até sexta-feira para vender ao longo do fim-de-semana. Na segunda-feira, voltamos a abastecer. Assim, como ficamos? O que vamos vender nestes dois dias? ”, questionou a fonte.
Cacilda Macuácua, outra revendedora, também lamenta o encerramento em dias úteis, mas congratula a iniciativa. “Sou cliente fiel deste mercado há mais de 10 anos. Vou ao Mercado Grossista todas as segundas, quartas e sextas, mas nos últimos tempos temos passado por situações lamentáveis. O mercado é uma lixeira, com um cheiro insuportável, e o número de roubos aumentou. Além da limpeza, o Município devia organizar os jovens que carregam as nossas mercadorias. Há roubos diários. Muitas mulheres saem de casa com 2.000 meticais e voltam de mãos vazias porque alguém desapareceu com os seus cestos. O mercado precisa de mais segurança e melhor organização ”.
Ambientalista acredita ser possível limpar e organizar o mercado em dois dias
O ambientalista Rui Silva acredita que é possível limpar e reorganizar o mercado em dois dias por uma razão: embora já não vá ao Mercado Grossista do Zimpeto há algum tempo, a última vez que lá esteve ficou assustado.
Avançou que a acção não se trata apenas de limpeza e reorganização, mas também de uma forma de sensibilizar os próprios vendedores para a mudança de comportamento. Defende ainda que esta pode ser uma oportunidade para os vendedores reflectirem sobre os seus actos. “Se nós, enquanto cidadãos, não mudarmos a forma como descartamos os resíduos, será difícil acompanhar qualquer tentativa de melhoria por parte do Município”, concluiu.
“Carta” tentou sem sucesso ouvir a Direção de Mercados e Feiras para perceber um pouco mais sobre as actividades que serão realizadas durante os dois dias. Para além da imundície, a criminalidade atingiu níveis alarmantes naquele mercado, desde que em Novembro foram vandalizados dois postos policiais (da Polícia de Protecção e da Polícia Municial).
Entretanto, parte dos vendedores que não concordaram com o encerramento do mercado bloquearam na última sexta-feira, a Estrada Nacional Número 1 por um período de 30 minutos, o que obrigou a intervenção da Unidade de Intervenção Rápida para dispersar os manifestantes.
O Mercado Grossista do Zimpeto, inaugurado a 28 de Maio de 2007, foi criado com o objectivo de centralizar a venda grossista de produtos, deslocando os vendedores de outros mercados, como o da Malanga. Apesar da intenção inicial, o mercado também passou a albergar vendedores retalhistas, o que se tornou uma característica marcante e tem levado a problemas de organização e higiene, como a acumulação de lixo (mau cheiro) e falta de manutenção de infraestruturas.
O Município de Maputo tem implementado medidas para reestruturar o mercado, incluindo a construção de alpendres para melhorar as condições de venda e organização.