A – Assembleia da República, simboliza um dos três poderes do Estado democrático. Órgão legislativo que discute e aprova leis. Mais se confunde, às vezes com uma casa em que representam a tudo e a todos, menos o povo. Em termos gerais e com rigor, na maioria das vezes os 250 deputados que dizem representar o povo são unânimes a aprovar as suas regalias, o seu tacho e subsídio de sono ao longo da legislatura.
B – Burocracia, falando em linguagem simples é o nome dado ao processo pelo qual os processos andam rápido, devagar, estagnam ou são arquivados pelo aparelho. A nossa máquina é sinonimo de burocracia, morosidade e obsoletismo.
C – Corrupção, a matequenha que corrói os membros inferiores e compromete a locomoção. Aquele bichinho que entra pequeno e vai crescendo e, num estágio avançado pode ter como consequência a amputação.
O nosso Estado está infestado de matequenhas, que sugam recursos e paralisam a nossa capacidade de avançar. E aos poucos viramos um Estado coxo.
D – Desenvolvimento, é tudo aquilo que aspiramos enquanto país. Sonhamos com um equilíbrio entre a riqueza que temos de forma natural e o bem-estar da nossa população. Sonhamos ser autossuficientes, produzir parte do que consumimos, ter refeições à mesa, educação, saúde, segurança e infraestruturas que possam ligar, de forma eficiente e segura, os nossos pontos cardinais.
E – Economia, a relação entre produção e consumo, oferta e demanda, picos de escassez e de abundância, hoje ela deve olhar para a pobreza e dar-nos soluções.
A grande questão é entender como um país rico como Moçambique, consegue estar posicionado entre os mais pobres do mundo. E no ano dos 50 anos de independência devemos encontrar respostas para esta questão.
Empoderamento e Emancipação, têm ganho muita força principalmente quando se analisam as desigualdades e assimetrias do género. É preciso emancipar e empoderar a mulher e a rapariga, para que possamos falar em igualdade de oportunidades isso é essencial para alavancar o nosso desenvolvimento como país.
F – Flores, as crianças foram apelidadas de flores que nunca murcham, pelo saudoso Presidente Samora Machel.
O tempo passou e hoje as nossas flores parecem estar a murchar. Estão a murchar porque o Estado parece ter-se demitido do seu papel de jardineiro destas flores. Murcharam com as passagens automáticas, com a falta de educação, de saúde e de muito mais.
G – Governação, quando ela é boa, gera boa impressão pois os anseios do povo são minimamente respondidos e há um fio condutor entre a demanda popular e a oferta do governo. Mas, quando ela é má, gera uma onda de descontentamento e convulsões sociais.
Na nossa função trigonométrica da governação, o seno da vontade política mais os cossenos das realizações esbarram com a tangente da inoperância.
H – Hemisférios da desigualdade, a Geografia usou-se do movimento e forma da terra para dividir o globo em hemisférios. Temos o Sul e o Norte, divididos pela linha equatorial.
A Economia, a Sociologia, e outras ciências sociais basearam-se nas assimetrias existentes entre o sul e norte, e denominaram de sul global, e norte global aos países do centro. E agora todo o debate gira em torno do Sul (África, América Latina e Ásia do Sul), e, Norte (Europa Central e América do Norte).
I – Independência, meio século nos separa da mítica noite de Junho de 1975. Nestes já quase 50 anos, para além de substituir o domínio colonial pelo poder nacional, inventamos um sol de Junho e cantamos que para sempre brilhará. De Junho a Junho temos sim sol, mas parece que ilumina apenas as elites que surgem a cada ciclo legislativo.
No ano do Jubileu, deveríamos ter motivos de celebrar efusivamente essa que já foi uma grande conquista. Hoje, ela é uma conquista sim, que nos enche de jubilo, mas tem um sabor agridoce.
J – Japanese car, ou carros do Japão, também conhecidos como “dubaizinhos”. São as máquinas que inundaram as nossas estradas e tornam o nosso parque automóvel caótico. Vale acrescentar que, ouvimos recentemente que os “nossos dubais” são responsáveis pelos buracos nas estradas.
K – Kagamé, amigo de um grupo de moçambicanos. Vestiu capa de salvador com a sua chegada triunfal a Cabo Delgado e sua propaganda gloriosa ao afirmar que estancaria a insurgência e o terrorismo em questão de dias.
Hoje encaixa milhões de dólares do gás, das gemas, e das comissões militares.
Se isto fosse Xadrez … Kagamé seria o Kasparov.
K – Kadoda, nova tendência chegada das terras do Rei Mataka e da Rainha Achivanjila. Uma dança forte, bonita e bastante cadente.
L – Lixo, é um dos principais cartões de visita da nossa pátria amada, ensombrando edifícios majestosos como a “estacão Ka-Mpfumo”, o edifício do Município de Maputo, a Sé Catedral, a Igreja da Polana e outros.
O lixo abunda e pulula as nossas ruas, e de tanto se normalizar, tornou-se quase um elemento decorativo urbano. Se fosse para termos museus do lixo éramos já uma referência obrigatória no Hulene e na darling.
M – Mega Projectos, designação dada aos grandes projectos que chegam com capa de desenvolvimento, mas que depois se beneficiam de isenções fiscais, sugam nossos recursos e empobrecem o país.
De mega eles só tem a magnanimidade da corrupção, do empobrecimento e da delapidação.
Madjermanes, marcham há décadas a reivindicar por seu dinheiro descontado para o fundo de pensões. E quando regressaram ao país, nem fundo, nem pensão nem dignidade. Assistimos a marchas sem sagacidade, pois já lhes falta voz e pegada na sola dos sapatos.
N – Nhonga, viva a nhonga, assim se cantou num dos hits mais populares. Entendi para além do bit, da melodia e da força dos likes. A nhonga é a palavra de ordem nos negócios formais e informais; é a expressão local para as comissões e percentagens.
Até as adjudicações e concursos públicos, estão ensombrados pela nhonga, e da forma que ela se institucionalizou, a mim não irá espantar, acordar e ouvir que a a bacia do Rovuma está à venda, e com boa nhonga de recompensa.
O – ONG, organizações de economia social que levantam a bandeira da ajuda externa e apoio ao desenvolvimento. Tem forte presença em países em vias de desenvolvimento e são o garante da continuidade da presença das grandes potencias nas antigas colónias.
Muito conotadas pelo regime e seus sequazes quando a ideia é diabolizar o pensamento diferente e o falar sem amarras. Igualmente elogiadas e veneradas quando abrem os cordões da bolsa para apoio ao orçamento.
P – Parlamento, também conhecido como parlatório, lugar onde os eleitos pelo povo desfilam seus fatos completos. O nosso mais se parece com um dormitório, junta um pouco de tudo, desde alguma juventude e alguma terceira idade.
Pela sua importância, deveria estar melhor composto e representado. Mas a qualidade deixa muito a desejar e cada legislatura assiste-se a uma nova capa para o mesmo filme.
Quelimane, a capital da Zambézia, bafejada pelo Rio dos bons sinais, hospeda parte do vale do Zambeze. É a terra conhecida como o pequeno Brasil em Moçambique pela boa gastronomia, beleza natural e bom folclore carnavalesco.
Foi lá onde o insólito aconteceu … e ainda assim conseguiu perder.
Terra do mano Mané, político astuto de uma resiliência notável. Com a sua inconfundível camisa azul, faz seu eleitorado vibrar, cantar e dançar.
R – Rua Araújo, quem por la passou, não se esqueceu. É zona boémia por excelência já desde os tempos laurentinos.
Os pecados que lá se cometem, ficam por lá. Na posteridade, um dia partilhamos com um vinho à mesa, bem longe dos ouvidos mais sensíveis.
S – Suruma, também conhecida por canábis sativa, é a erva e medicamento milenar usado pelos nossos ancestrais; é o nosso anestésico social, e a erva da paz para a comunidade Jah. Siku ni siku fumar a suruma é um acto religioso para quem frequenta as colombias, as bocas de fumo onde misturam a erva, o Ash, o nhaúpe, a cola de sapateiro, a benzina e outros estupefacientes que funcionam como autênticas sentenças para os consumidores.
T – Toque, o dedo que assusta muitos homens. Em nome da masculinidade e da inviolabilidade do orifício anal, adiamos e evitamos o toque que pode salvar vidas e acabamos na lâmina.
Nos círculos de amigos próximos gritamos que dedo nunca. É preferível sempre ser enrabado sem gel nem vaselina pelas elites governativas a fazer o toque. Precisamos desconstruir estes medos e estas masculinidades falsas para salvar vidas.
U – UIR, Unidade de Intervenção Rápida, que de rápida só tem algum boçalismo e força para violentar indiscriminadamente. Tornou-se célebre por cumprir na integra as chamadas “ordens superiores”, ainda que para isso tivesse de ceifar a vida de quem também por eles marchava.
V – Venâncio, também chamado de vagabundo, tsunami e cabeludo.
É um nome a se ter em conta no actual contexto. Falar de política em Moçambique hoje, é falar também deste actor que desconstrói muitas narrativas e grangeia simpatia do xitsungo, seu principal aliado.
Ousar negligenciá-lo é perder de vista os sinais que se precisam operar no e para o povo que o segue de forma nunca vista. Herói ou Vilão, a história irá consagrá-lo.
W – Washington DC, a capital do mundo para uns. Centro de elevado significado para os políticos e diplomatas. Sonho de alguns que anseiam bazar para as terras do Tio Sam. O sonho americano ainda controla o desejo desenfreado de bazar daqui e ir ser feliz em outro lugar.
X – Xipamanine, mercado tradicional e icónico. Carrega vários fragmentos da nossa história de opressão e libertação. Lá encontramos um pouco de tudo e é caracterizado pela sua azafama e multidão vibrante desde o amanhecer até ao anoitecer, tem também muito lixo ambulante, poeira, amigos do alheio e alguns bons preços.
É la onde vamos partir a coluna quando o assunto é dzudza – a roupa doada que seduz a todos amantes da boa moda a baixo custo e alta qualidade. Lá todos nos encontramos e não há vergonha porque ser de Moz é a cena maningue nice.
Dizem os mais ousados, que com alguma sorte acertas roupa íntima maningue good. E porque a dignidade já não vale muito, o que muitos não veem, fica mesmo para poucos.
Xxxxxx, sites pornográficos tornaram-se os novos “templos de evasão” para muitos adolescentes, jovens e até idosos.
Com a massificação das redes sociais, virou um negócio lucrativo e igualmente degenerativo para a sociedade.
Y – Youth, ou juventude em português, é o maior braço etário e demográfico em África no geral e em Moçambique em particular. Isto significa em termos governativos, que grande parte da ação governativa e da elaboração de políticas públicas deve ter sempre este grupo etário. Falar da nossa pirâmide demográfica e etária sem olhar a juventude pode trazer consequências catastróficas.
Z – Zodíaco, o lugar que quase todos visitamos para consultas astrológicas. É também conhecido como tarot, ou magia branca. Procuramos saber do taco, do love, e de alguma coisa não revelada pelo universo ordinário. Como vem lá do Ocidente, confiamos cegamente e mandamos à fava as pedras dos nossos nhangas e mandingos. O zodíaco é a palhota do curandeiro acessível pelo telemóvel.