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4 de Março, 2025

O voto secreto: a arma secreta do eleitor ou um outro vilão das eleições?

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Há tempos e em época de campanha eleitoral estava de visita a um distrito na região norte do país. Na família que me acolhera, a anfitriã despontava na comunidade pelo seu total e abnegado apoio ao partido no poder, e o marido conhecido pela sua neutralidade política, amiúde posta em causa, a ponto de localmente ser alcunhado de ”Neutrão-oposicionista”.

Durante a minha estadia o distrito vivia tempos de agitação política e de forma surpreendente o marido da minha anfitriã estava, desta vez, com a vestimenta vermelha e muito empenhado em auxiliar a mulher nos afazeres da logística e propagandística. Este empenho levou a um conhecido dele a perguntá-lo se teria mudado, e a resposta não tardou: ”Afinal o voto não é secreto?!”

A resposta levou-me a contar aos que estavam na conversa uma minha experiência com eleições, no caso as de uma associação estudantil. Nestas eleições, a lista que eu apoiava incumbiu-me de mobilizar uma turma a partir de um estudante influente da mesma turma.

No dia da votação, logo à saída da cabine da urna, este estudante fez-me um sinal que transmitia um categórico e retumbante ῎já está!῎ que imediatamente informei a liderança da lista. Adiantar que este ”já está!” era extensivo ao combinado sobre a mobilização da turma.

Uns anos depois, mais de década e meia, cruzo-me com ele numa festa à conversa com outros ex-colegas. O papo eram eleições no país, tendo rapidamente desembocado em lembranças da citada eleição estudantil. Que se diga, a única por mim participada, incluindo as municipais e nacionais, que se aproxima ao lema oficial: Eleições livres, Justas e Transparentes.

De regresso à conversa: em certo momento, e provavelmente sem que se tivesse apercebido da minha presença, o ”influente mobilizado” confessa que enganara piamente o pessoal de uma das listas concorrentes, que por acaso era a que eu apoiava e que perdera as eleições.

Destas duas experiências, e as do contexto geral das eleições em Moçambique, retenho, em jeito conclusivo, que: não será o voto secreto uma arma secreta nas mãos do cidadão eleitor? Ou, no mínimo, um vilão que também concorre para as causas dos conflitos pós-eleitorais no país.

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