As boas acções também precisam de ser destacadas. A SIR Motors, um grupo empresarial que nasceu em 1949 (para o ano comemora 70 anos) esteve sempre ligado à assistência técnica automóvel mas, para quem não sabe, ela tem uma relação umbilical com nosso sector madeireiro. Nasceu como Serração Irmãos Roby (SIR) naquele já longínquo ano.
É uma empresa familiar agora gerida de forma abnegada por sua terceira geração, onde a cara mais visível é o bonacheirão do Amad Camal, que já foi deputado na AR pela Frelimo, uma daquelas vozes integrantes de uma camada de militantes afastados das hostes mas capazes de dizerem coisas assertivas quando se trata de puxar as orelhas ao regime.
Bom, a SIR não é propriamente uma caçadora de poses nas tindzavas das redes sociais ou de se atrelar na boleia da vulgar pasquinada que circula na capital. Quando o boom do carvão de Moatize irrompeu, ela se abalou de Maputo e foi lá viver para as terras tórridas do alto zambeze, captando as benesses do chamado conteúdo local, muito antes do nosso patronato exigir uma Lei específica sobre o assunto. Ganhou o dinheiro que conseguiu, no meio das incertezas pontuais no carvão que levaram à fuga da Rio Tinto e ao actual desempenho negativo da Vale, fornecendo transporte às mineradoras nos padrōes certificados que elas exigiam, nomeadamente em matéria de “safety”.
Agora, a Sir Motors, gerida sempre por mocambicanos e hoje com 800 trabalhadores, esfrega novamente as mãos para também agarrar uma fatia do bolo logístico no gás do Rovuma. Não precisa de se pendurar na preferência local por esses 15% em futuras joint-ventures. Sem Lei proteccionista, ela se foi safando aqui e ali – apertou o cinto e elevou os standards do seu transporte de passageiros, servindo com eficiência, segurança e pontualidade, como agora se prova com o Metrobus na Maputo metropolitana.
Hoje, enquanto muitos espreitam sentadinhos nos muros do tráfico de influências a partir de gabinetes reluzentes, a SIR se permite a um golpe de charme no terreno: aprofundar sua filantropia. No meio da crise, é um abanão no pessimismo. A SIR Motors, que ao longo dos anos sempre teve uma incursão por actos de responsabilidade social corporativa ligada à cultura, ao desporto e aos media, acaba de firmar um compromisso com o FUNDE, uma pequena fundação para o desenvolvimento da Educação, adstrita à Universidade Politécnica. O Grupo vai atribuir, por três anos, 15 bolsas de estudos aos melhores estudantes dos distritos de Tete, enquadrados num programa de reforma do ensino técnico-profissional virado para a formação de nível médio. Vai igualmente premiar anualmente a melhor escola e erguer em cada uma dessas premiadas uma sala modelo, equipada com recursos de formação modernos.
Na passada quinta-feira, a Directora-Geral da Sir Motors, Sheila Camal, rubricou o acordo com Narciso Matos, um veterano do dirigismo do ensino superior, agora à frente da Politécnica, fundada nos anos 90 pelo prolífico linguista zambeziano Lourenço do Rosário. Matos usou o momento para dizer meias palavrinhas para bom entendedor: “Não é o gás, o petróleo, as praias ou a agricultura. É a educação que vai garantir que os moçambicanos usem ou transformem estas coisas para encher os nossos estômagos e os nossos corações, e criar felicidade”. A aposta da SIR é como quem coloca uma cereja por cima do bolo. Lucrou o que conseguiu num recurso esgotável, o carvão, e por cima desse bolo planta agora as raízes para a multiplicação de um recurso inesgotável: a educação. Não é obra?