O país do General Mutupi estava em guerra. Os jovens morriam inocentemente nos campos de batalha. A cada combate, almas jovens eram paridas para o além. Os malfeitores eram seguidores fiéis das seitas satânicas. Durante três anos, o General Mutupi teve que gerir, no seu escritório, várias histórias e sonhos de jovens que tombaram nos campos de batalha. A dor era tanta. O coração e a consciência já não suportavam, pelo que tinha que se fazer alguma coisa.
Usando das suas competências plenas, o General Mutupi decide colocar um plano em curso, uma vez que as causas da guerra não faziam nenhum sentido. Nas fileiras chefiadas pelo General Mutupi, um Coronel havia sido rebaixado e atirado para o avesso. O Coronel estava tão furioso porque algumas crianças estavam a chefiá-lo, mesmo com mais de 40 anos nas fileiras e vários combates e guerras travadas. A situação não estava boa. Informações de que o inimigo era alimentado pela logística das fileiras do General Mutupi corroía, cada vez mais, o manso coração do patriota e defensor da soberania. Algo tinha de ser feito!
A guerra tinha outras facetas. A outra parte do exército havia assumido o controlo de tudo no combate contra o alegado inimigo. Os resultados e abates eram anunciados semanalmente, com contradições que faziam manchetes diárias nos jornais, rádios e televisões. As redes sociais vibravam com os comunicados que traziam números e nunca fotografias, vídeos ou mesmo apresentação dos cabecilhas capturados em combate. A fábula e a falsidade eram tantas que acabaram por criar uma doença crónica a General Mutupi. O homem decidiu apresentar a sua demissão, mas o chefe máximo não aceitou.
A gestão da guerra demonstrava que o papel do General Mutupi e dos seus pupilos já não faziam sentido. Ensaiou-se um plano conjunto, uma vez que todos estavam no campo de batalha. “Combatemos juntos, mas os outros é que aparecem em tudo. Melhor é que nos retiremos e deixarmos que eles continuem a combater, porque não fazemos falta alguma”, resmungavam os aliados do General Mutupi.
Em meio a tanta tensão e raiva, desenhou-se um plano de retirada de todos os elementos dirigidos directamente pelo General Mutupi. (In)felizmente como em qualquer grupo extenso há sempre um Mavura (traidor), eis que o plano chegou a um comissário político que responde por um sector militar e defesa que, sem analisar, rapidamente apresentou o plano a quem o nomeou. A informação não agradou ao chefe!
“A ajuda não é caridade” disse certa vez um ex-Primeiro-Ministro do Canadá a propósito da ajuda (externa) concedida pelos países desenvolvidos aos menos desenvolvidos. Lembro-me da citação sempre que ocorrem animosidades nas relações entre Moçambique-Tanzânia e Moçambique-África do Sul e na (provável) hesitação de Moçambique em pedir/receber a ajuda do exterior para combater o terrorismo.
Acontece que nas relações entre Moçambique e a Tanzânia e sempre que Moçambique toma uma medida que não seja do agrado da Tanzânia, como foi a da expulsão de garimpeiros tanzanianos ilegais, os tanzanianos lembram aos moçambicanos de que estão a ser ingratos, isto tomando em conta a ajuda dada por eles na libertação de Moçambique. E Moçambique, já independente, e por ter ajudado o ANC, hoje o partido no poder na África do Sul, na sua luta contra o Apartheid, aviva a memória dos sul-africanos sempre que eles, por exemplo, expulsam moçambicanos sob capa de ilegais. Assim, tanto a Tanzânia (em relação a Moçambique) como Moçambique (em relação a África do Sul) reclamam benefícios ou privilégios eternos por terem sacrificado os respectivos países no quadro da (suposta) ajuda/solidariedade prestada.
Neste diapasão, o acto de pedir/aceitar a ajuda de outros acarreta implicações, e muitas vezes indesejáveis, que se arrastam por tempo indeterminado. Talvez por isso, e para fechar, este seja um problema/dilema na demora da decisão e/ou efectivação da ajuda do exterior no combate ao terrorismo em Moçambique. Aliás, e decorrente da experiência das relações com a Tanzânia e a África do Sul bem como o facto de Moçambique ser um crónico dependente da ajuda externa, o alcance de que “A ajuda não é caridade” não é estranha ao país e é, certamente, do pleno (e doloroso) domínio dos decisores da mártir Pérola do Índico.
PS: Ainda sobre pedir ou não ajuda, cito um exemplo de um meu amigo. Este, em tempos e perante um problema pessoal bicudo, recusara a pronta ajuda de um seu primo, alegando de que era preferível explorar ou esperar por outras soluções, próprias ou de terceiros (e mais discretas), mesmo que isso acarretasse mais e maior sofrimento, no lugar de ouvir do tal primo e pelo resto da sua vida e de gerações vindouras de que ele o ajudara. Estará ao alcance da Pérola do Índico semelhante e ousada decisão?
Todos pareciam estar hipnotizados, mas não; era apenas espuma de uma grande onda que invade alguns chefes e direcções do nosso sistema de ensino e administrativo - a desorganização.
Era Sábado, 06 de Janeiro, no lendário distrito de Ka-Lhamanculo, na cidade de Maputo; um "insólito" aconteceu em todas as escolas secundárias gerais, onde alunos da 12ª classe foram submetidos aos exames finais do ano passado, 2020. O que estava no tabuleiro do espanto era o exame da disciplina de biologia, marcado a nível nacional para as 10h30; nesse distrito a informação que se distribuía era a de que iniciava às 08h.
Naquele belo dia, os alunos chegaram cedo para combater o exame com a espingarda da caneta. Todos estavam ansiosos e motivados. Os alunos não esperavam que seriam bonificados ou trancados nas salas devido ao tempo de realização do exame que em todo país os outros cumpriram 120 minutos; e os alunos de Ka-Lhamanculo tiveram a super-benção de decifrar os ossos do exame de biologia em 240 minutos. Esse foi o drible encontrado para não abalar a incompetência dos dirigentes do sector a nível do distrito.
Os alunos suportaram 04h30 de exames, sem água e nem um lanchinho devido a um erro estranho dos gestores da educação no distrito de Ka-Lhamanculo. Ninguém podia sair da sala para evitar um vulcão de fuga de respostas.
O lapso dos gestores é um acto insólito que poderia ter causado um caos de propensões babilónicas e ressuscitar o velho fantasma que persegue o sector da educação - o vazamento de exames e as respectivas correcções. Trata-se de um negócio já oficial na praça: vender molhos de exames e respostas em canecas.
Ninguém percebeu o erro (what?). Nem as estruturas máximas do distrito, assim como as estruturas pedagógicas e administrativas. Nenhum chefe lembrou-se de que a hora oficial para a realização dos exames, a nível nacional, era 10h30 e não 08h.
Recuemos para o dia em que o filme da desorganização foi filmado; os alunos chegaram aos seus júris e foram distribuídos os exames e começou o processo de examinar os futuros doutores. Eram 09h quando uma equipa da inspecção foi alertada que no Ka-Lhamanculo, os anciãos de alguns rapazes tinham hipnotizado todos dirigentes e que o exame estava a ser realizado. “Mas como, sim?”, tiraram as línguas para fora os inspectores.
“Quem marcou o exame a esta hora?, será que vocês não receberam o calendário nacional?”, foi a direcção distrital da educação que marcou... E qual é a solução?. Não deixem nenhum aluno sair da sala até às 12h30. Assim evitamos o pior!
Preparar bem as crianças de agora implica, de maneira lógica, em ter uma sociedade melhor no futuro. É pensar o porquê actualmente, diante de grandes índices de violência, tantos menores de idade estão nessas estatísticas. É pensar que essa criança, esperança do futuro, vê-se numa encruzilhada vital tão cedo: trabalha forçado, atravessa frequentemente a rua ou morre.
Segundo dados da OTI, Moçambique tem mais de 780 mil crianças trabalhando com idade entre 08 e 17 anos. Segundo esses dados, 56,63% nada recebem por seu trabalho. Eis o roubo do direito de ser criança.
Retiram-lhe, de maneira violenta, esse direito tão essencial comprometendo os factores biológicos, psicológicos, intelectuais e morais, numa fase de extrema importância da vida. Ao invés de carrinhos, bonecas, brinquedos. Pais, que talvez quisessem educar, precisam ensinar o trabalho. Note bem a diferença entre educar e ensinar. Falta dinheiro para comprar comida, roupa, bonecas, carrinhos. Alguns, talvez munidos de sua educação mais privilegiada, hão de pensar que não configura motivo para a delinquência o facto de trabalhar desde cedo, afinal o trabalho é dignificante. O trabalho é digno quando é exercido de forma digna. Não existe dignidade sem educação de qualidade e, não há dignidade em crianças de 10 anos trabalhando em meios insalubres, perigosos, em jornadas diárias superiores a 12 horas. Não há filhos de médicos, advogados, empresários trabalhando assim. Portanto, se fosse digno, todos desde a infância assim trabalhariam.
O que se vive nos mercados das cidades moçambicanas, em destaque para o Mercado Grossista do Waresta e Mercado Central, ambos na Cidade de Nampula, é de tirar lagrimas. As crianças são submetidas ao extremo da sua capacidade, elas madrugam nos mercados para vender sacos plásticos e carregar produtos dos clientes em troca de 5,00MT. Ai Meu Deus! Quando vai parar isso!
Crianças devem ser crianças. Esse tipo de trabalho não pode nem deve ser alternativa aos menores de idade porque marginaliza, tira deles um direito essencial de maneira tão violenta quanto àqueles que com uma faca roubam dez meticais. Por isso, lutemos todos por uma sociedade onde a criança e os seus direitos são amplamente respeitas, uma sociedade justa, de compaixão, amor ao próximo, respeito mutuo e igualdade social. Cuidem-nos como crianças do presente e adultos do futuro.
Legalmente as crianças hoje têm garantido o direito a um nome e nacionalidade, à saúde e à educação. Dentre os direitos da criança estabelecidos na nas leis e normas, destaco o brincar como uma necessidade da criança, um jeito gostoso de aprender e se divertir.
Pesquisas têm revelado que as brincadeiras ao ar livre, em parques e praças públicas deixam as crianças mais felizes. No entanto, as crianças estão cada vez mais distantes do sol, da grama, das pedras, da areia, da água, da natureza...
Para os pais, já não é mais possível deixá-las brincando na rua com os vizinhos. O trânsito e a tecnologia tiraram esta oportunidade. Em alguns quintais não se preveu a necessidade e o direito dos pequenos de brincar. Diante desta necessidade, eles brincam só confinados numa sala da casa, com tecnologias e nada de brinquedos essenciais e amigos de verdade, não virtuais.
Nas escolas infantis encontramos pátios cimentados, brinquedos inadequados à faixa etária das crianças e, logo, embargados pelos órgãos competentes. Pensem numa creche em que as crianças “olham” para o escorregador, o balanço, o gira-gira e não podem brincar. Elas existem. Pensem no período escolar de uma criança de cinco, seis, sete anos de idade, onde não há nem espaço (área verde), tempo para brincar. Eles existem.
Nos espaços públicos encontramos praças abandonadas, sujas, brinquedos quebrados. Imaginem uma praça, um domingo de sol, crianças ávidas para correr, pular, dançar, movimentar-se ou simplesmente olhar as plantinhas, passarinhos, sentir o vento... As crianças “olham” para os destroços do que um dia foi um brinquedo, desistem de brincar ou então arriscam-se. Elas existem. Falta segurança, água potável, banheiros públicos, dignidade para exercer o direito de brincar.
As crianças são o que existe de mais precioso e precisam da atenção dos mais velhos para viver dignamente esta fase da vida que chamam de infância. Como estão olhando para nós crianças nos demais dias do ano? Infelizmente, os nossos pais, professores, governantes etc. - não estão conseguindo prover à nós criança o direito de brincar e ser feliz.
Zinaida João Faque, aluna da 10a Classe na Escola Secundaria de Napipine em Nampula, activista social, membro do Parlamento Infantil da cidade de Nampula, pesquisadora social nas áreas dos direitos e deveres das crianças. Nascida aos 11 de Dezembro de 2005, na cidade de Nampula.
O conto “Nhinguitimo” faz parte da primeira obra literária de Luís Bernardo Honwana, Nós Matamos o Cão Tinhoso, publicado, pela primeira vez, em 1964. Edições subsequentes aconteceram aqui e no mundo. Esta integra o cânone curricular de ensino da língua portuguesa, nas escolas secundárias moçambicanas. Tem sido referência obrigatória para diferentes gerações do pós-independência.
Nhinguitimo ou vento sul, na língua ronga, são ventos que antecipam a chegada do Verão. Ocorrem entre os meses de Agosto e Setembro. Velozes e poeirentos, eles simulam um falso Outono, desconforto generalizado e inúmeras alergias. Necessários, porém, indesejados.
Os ventos representam o ar em movimento, resultante das variações da pressão atmosférica entre as diferentes regiões de maior pressão, para as de menor pressão. Como qualquer fenómeno da natureza, os povos sempre encontram justificações e analogias para explicar o seu surgimento. Assim, estes ventos têm sido sujeitos à interpretação popular, bem como a mitos e crenças.
Nos dias que correm, e considerando a propagação da COVID 19, Nhinguitimo pode ser, analogamente, comparado à propagação do coronavírus. Aliás, Sara Jona Laisse, no livro “Entre margens” considera que o coronavírus pode bem ser comparado aos vários cães tinhosos que semeiam luto e desgraça.
Licínio Azevedo, conceituado realizador nacional, dos mais galardoados que a indústria cinematográfica nacional, alguma vez, conheceu, decidiu adoptar este conto para filme. Uma curta metragem de um clássico moçambicano que, faz tempo, era merecedor de um filme. Vários filmes. O filme será rodado este semestre, 2021. Uma produção em tempos pandémicos.
O personagem principal é Alexandre Vírgula Oito Massinga. Jovem nativo que trabalhava como empregado dos agricultores comerciais brancos. Vive cultivando, tal como seus concidadãos, as machambas dos seus patrões. Mas, ele tem, também, a sua própria. Reduzidas proporções, com milho como substrato, porém, assegurava uma safra segura e razoável para o sustento familiar.
Esta prática tipificava as relações do campesinato no período colonial. Estas pequenas machambas serviam para o auto-sustento, mas, igualmente, para que os agregados familiares pagassem os tributos. Tal como acontecia com as machambas dos outros trabalhadores agrícolas locais, a machamba de Vírgula Oito estava excluída das extensas áreas demarcadas pelos colonos portugueses.
Vírgula Oito via a possibilidade de sua pequena plantação obter uma colheita satisfatória. Ele se guiava pelo provérbio que dizia “o que faz andar o barco não é a vela enfunada, mas o vento invisível”. O seu vento ele enxergava, com certeza que nenhum Nhinguitimo prejudicaria sua colheita.
Essa certeza derivava do facto de sua pequena machamba estar localizada do lado oposto do rio, que dividia a machamba do seu patrão. Esta localização era beneficiada pelas árvores que faziam a pequena barreira de segurança e protegeriam a sua área. Assim, o Nhinguitimo somente, atingia as plantações dos brancos.
A narrativa de Luís Bernardo Honwana que integrou o “African Writers Series”, nos anos 60, é marcada pela consciencialização da exploração, pela revolta e, também, por algum comodismo e medo. O norte de Moçambique já vivia a luta armada de libertação nacional que atiçava a consciência de sectores importantes da sociedade.
Alexandre Vírgula Oito vislumbrava, não apenas essa boa colheita, mas, o sonho de, um dia, se transformar em patrão, adquirindo alfaias agrícolas, aumentando as áreas de cultivo e, enfim, perspectivando seu casamento e a melhoria das suas condições de vida.
Sucedeu, porém, que a sua pequena propriedade passou a ser cobiçada pelo seu patrão. Não tardou e Vírgula Oito foi expulso das suas terras, com toda a sua família. Desfaziam-se, assim, seus sonhos e as inflacionadas intenções de prosperidades. Esta anexação gerou um certo borbulhando. Os bares fizeram, deste assunto, a conversa do momento. Um dos bares servia de ponto de encontro para os homens da vila, os brancos.
Até o administrador ficou ao corrente das desavenças. Solicitou justificação aos seus conterrâneos. Os argumentos não se fizeram esperar. Doía o coração dos brancos ver terras tão férteis sendo desperdiçadas pelos negros. Com as verdades manipuladas e as pretensões desfeitas, a clarividência do Administrador antevia período conturbado. O seu sexto sentido era infalível.
Os brancos se respaldavam no argumento da capacidade e suas incomparáveis habilidades para produzir e administrar terras. Aos negros competia trabalhar como empregados dos brancos. Aquelas terras confiscadas estavam desperdiçadas e improdutivas. Eles dariam um novo destino.
Luís Bernardo Honwana é pródigo, nesta narrativa, em rever expressões de pretensões das suas gentes, os momentos conturbados e os sinais de injustiça. Alias, este conto representava já uma fase efectiva da literatura que romperia com essa visão cultural eurocêntrica. O autor se esforçou para redefinir o “ser moçambicano” denunciando a segregação e exploração pela qual passam os nativos.
Vírgula Oito, nosso personagem, em função das reclamações, foi rotulado de louco e subversivo. Recusava a exploração e a humilhação a que havia sido submetido. Não aceitou ser um mero objecto manipulado. Porém, ele não logrou estruturar essa revolta colectiva. Assumiu o ónus para si próprio. Seus companheiros defendiam que nada poderia ser feito, os brancos continuariam roubando as terras e, ninguém, poderia dizer nem fazer nada.
Vírgula Oito, banhado de ódio, propalou a sua revolta. Incitava seus amigos à revolta. A passividade conduziria a todos à pobreza. Ele mesmo, até então passivo, mudara de postura ante as exploração e humilhação sofridas. Da raiva e revolta, Vírgula Oito consome o crime. No calor das discussões com seus companheiros, ele mata um deles.
O seu patrão entra, novamente, em cena. Faz um apelo inusitado aos restantes agricultores nativos. Pede que eliminem Vírgula Oito, antes que ele os matasse a todos. Vai mais longe e pede, inclusivamente, que se peguem em armas, para abater o criminoso, antes que todos fossem mortos. Se isso não acontecesse, algo de mais grave, aconteceria a vila.
“Nhinguitimo”, denunciou a exploração que serviu de estímulo à revolução. Mas o Nhinguitimo continua um vento presente. Não dá tréguas. Somos assolados por muitos ventos e cães tinhosos. Covid-19 e a instabilidade devastam esta paz tão duramente conquistada. Licínio Azevedo quer retomar ao Nhinguitimo de outros tempos.
Há uns dias, um amigo perguntou-me se eu já tinha feito um teste na internet - denominado de “Prova de Saúde” - que avalia a qualidade de saúde. Respondi de que não e de que mal sabia da existência de tal teste. Ele passou-me o link e contou-me, bem preocupado, que o resultado dele foi uma pergunta que o questionava se estava vivo. Isto porque dos dados fornecidos e analisados pela aplicação não era possível que ele estivesse vivo. E antes que eu iniciasse o teste, fiquei curioso em saber o tipo de dados solicitados. Imagino que o leitor também esteja curioso e nada melhor, sobretudo em tempos de pandemia, que aferir a qualidade da nossa saúde.
Por acaso os dados são corriqueiros (nome, idade, habilitações, profissão, hobbies, contactos, endereço, alimentação, segurança, rendimentos, referências, etc), entre os quais destaco os relacionados com a alimentação, segurança e referências que, por coincidência, segundo o meu amigo, possam ter contribuído para o resultado obtido (a possibilidade de ele ser um óbito). Já sensibilizado com os dados, avancei para o teste. E no lugar dos meus dados inseri os de Moçambique. Nome: República de Moçambique; Idade: 45 anos; Contacto: + 258…; Renda: 400/500USD per capita; Alimentação: Mutxotxo; Segurança: Terroristas e Nyongo; Referências: Idai, Chalane e Eloise. E bem antes de terminar, a aplicação pergunta se eu estava numa UCI (Unidade de Cuidados Intensivos).
Perante o meu repentino silêncio (não respondi) e bem ao fundo (usava auscultadores) ouvi: “Deve ter entrado em coma”. Felizmente, salvo melhor opinião, o país (Moçambique) não se encontra numa UCI, nem morto e nem em coma. Contudo, tal não significa que goze de boa saúde e recomenda-se que se, face aos sintomas conhecidos, que dirija, quanto antes, a uma unidade de saúde mais próxima.