Investigações sobre as formas como os eleitores reagem à propaganda política e campanhas políticas tem grandes implicações para estrategas políticos, arquitectos do financiamento político e engenheiros do voto. Nos Estados Unidos, as pesquisas recentes focalizam mais sobre efeitos imediatos dos meios de comunicação de massa sobre as intenções de voto. Porém, quão longos são estes efeitos? Esta é uma questão pouco trabalhada tanto lá como cá em Moçambique.
Para determinar o poder persuasivo das campanhas político-eleitorais os pesquisadores Seth J. Hill, James Lo, Lynn Vavreck e John Zaller das universidades de Califórnia, Mannheim, Los Angeles respectivamente analisaram os dados sobre os efeitos de propaganda política sobre a intenção de voto para as eleições presidenciais de 2000 e 2006 bem como as eleições locais.
Para a eleição de 2000, eles usaram um conjunto de dados que consistem em 12.000 entrevistas telefónicas colectadas pela National Annenberg Election Survey (NAES) entre 01 de Setembro e o dia da votação. Os dados para as eleições de 2006 vieram do Cooperative Congressional Election Study (CCES) de uma pesquisa conduzida pela Internet ao longo de Outubro e Novembro de 2006. Essas pesquisas, combinadas com os dados de votação permitiram os autores explorar os efeitos a curto e longo prazo de publicidade e propaganda política sobre a preferência do candidato e se ela se traduziu ou não em alguma acção política; portanto, eleição do candidato.
Dentre tantas conclusões, o estudo concluiu o seguinte:
Os autores observam que os resultados têm uma série de implicações práticas. A curta duração dos efeitos de persuasão significa por outro lado a limitação do poder do dinheiro para comprar indefinidamente um grande número de votos que alguns considerariam positivo.
O título não é originalmente meu. É do economista e psicólogo americano, Herbert A. Simon, um dos primeiros académicos a descrever com precisão a relação entre informação e atenção.
Todos os dias – e já não é novidade dizer isso, somos inundados com informações. Do controle remoto à pesquisa do Google; do Twitter ao Facebook; dos jornais eletrónicos ao aplicativos variados; do WhatsApp ao Instagram, é tudo uma miríade de informação que circula à velocidade estonteante, potenciadas pela internet.
Na economia de informação em que nos encontramos, somos ou compradores ou vendedores de informação, ou mesmo as duas coisas, ou, na pior das hipóteses, recetores ou difusores da mesma. Fazemos isso de graça, à custo próprio.
Num artigo publicado em 1997, Simon já notava naquela altura de que “... a informação consome a atenção dos seus destinatários. Assim, quanto maior for a informação recebida, menor é a atenção prestada”. O que o autor queria dizer era que para que a informação fosse decifrável e compreensível, é preciso que os indivíduos dediquem tempo e atenção para decifrá-la e compreendê-la.
Simon, prossegue, “atenção é a ferramenta psicológica que usamos para descartar informações irrelevantes, de modo a que possamos nos concentrar no que é importante para nós. À medida que os nossos recetores não param de receber informação diversa e de forma intrusiva, a nossa atenção se torna cada vez mais tensa e desafiada” [cf: Simon, H. A. (1971) "Designing Organizations for an Information-Rich World" in: Martin Greenberger, Computers, Communication, and the Public Interest, Baltimore. MD: The Johns Hopkins Press. pp. 40–41].
A atenção é um poderoso ativo em todos os relacionamentos que deve ser gerida com atenção acrescida. Devemos aplicar alguma disciplina a forma como gerimos a informação ou enfrentar o risco de ter nossa atenção e nossos relacionamentos, sequestrados pela força de maus hábitos.
Li no jornal a Carta um longo texto da autoria de um tal Edgar Barroso, tentando desmontar um texto meu intitulado Reflexão em torno do atual Pânico moral no qual, a partir do conceito cunhado pelo sociólogo sul-africano Stanley Cohen, tento transpor à situação e ao atual humor social. Não irei repetir a descrição, dado pode ser acedido a partir do seguinte endereço: http://bit.ly/2Xi3fVB
"Pânico moral" é um conceito de sociologia cunhado por Stanley Cohen, em 1972 – [cf: Cohen, S. (2011). Folk devils and moral panics. Routledge.], para definir a reação de um grupo de pessoas baseada na falsa ou empolada perceção de que o comportamento de um determinado grupo, normalmente uma minoria ou uma subcultura, é perigoso e representa uma ameaça para a sociedade no seu todo. O termo tem sido amplamente adotado tanto pelos meios de comunicação de massa quanto no uso cotidiano para se referir à reação social exagerada causada pelas atividades destes determinados grupos e/ou indivíduos, invariavelmente vistos como grandes preocupações sociais e a reação da mídia amplia esse "pânico" que os cerca.
Existem, de acordo com o Cohen, quatro fases para a construção do pânico moral, nomeadamente:
Mais ainda, Stanley Cohen mostrou que os órgãos de comunicação de massa eram a principal fonte de conhecimento do público sobre comportamentos desviantes e problemas sociais. Ele argumentou ainda que o pânico moral dá origem ao diabo público, através da etiquetagem das ações e dos indivíduos.
De acordo com Cohen, a comunicação social (e agora as redes socais também) desempenham uma ou todas três principais funções para a consolidação do pânico moral.
Para terminar, importa falar das características do pânico moral. São cinco, nomeadamente:
EPIFENÓMENO: fenômeno secundário que ocorre ao lado ou paralelamente a um fenômeno primário, ou simplesmente, subproduto de um fenómeno.
Às vezes, e para o nosso caso (moçambicano), os pânicos morais manifestam-se em forma de epifenómenos, caracterizados por “ondas de indignação” coletiva ou mesmo seletiva, que de forma sucessiva se substituem, à medida que elas vão caindo no esquecimento.
Enquanto grande parte do debate público e de movimentos de advocacia ancorar-se à volta de “pânicos morais” e epifenómenos, dificilmente estes chegarão a lado algum, senão a letargia e resignação. O pânico moral anda de mãos dadas com a etiquetagem e o medo.
O advento das redes sociais propicia a difusão do pânico, do medo, de rumores e de notícias falsas, levando a que as pessoas tomem atitudes congruentes a essas mesmas notícias em tempo real, mesmo que posteriormente tais notícias ou pânicos se revelem falsas.
A característica mais perigosa com a qual o mundo cibernético deve agora lidar chama-se decadência da verdade, caracterizada pela supremacia da opinião sobre os factos: o cinismo, o anti-intelectualismo bem como a emergência de subculturas e contraculturas; crescente divergência sobre factos e interpretações analíticas sobre os mesmos, indefinição da linha entre opinião e facto, abundância em termos de quantidade e disponibilidade e consequente maior influência da opinião e experiência pessoal sobre facto e o declínio da confiança em fontes e factos anteriormente respeitados.
Isto tudo contribui para que os cidadãos não sejam capazes de pensar fora do âmbito de emergência em que se encontram, contribuindo para uma esfera pública em permanente ebulição.
Referências
Arbesman, S. (2012). Truth decay: the half-life of facts. New Scientist, 215(2883), 36-39.
Cohen, S. (2011). Folk devils and moral panics. Routledge
Rich, M. D. (2018). Truth decay: An initial exploration of the diminishing role of facts and analysis in American public life. Rand Corporation.
Compreender os moçambicanos é uma tarefa que ainda não iniciou
É minha forte intuição que a academia moçambicana, principalmente dos ramos da psicologia, comunicação e ciência política ainda não dedicaram a necessária atenção para compreender a cosmovisão dos moçambicanos. Este pode, provavelmente, ser a causa que justifique o desencontro entre a academia e sua produção com a política e suas respostas.
- A propósito do drama humano causado pela infeliz combinação do ciclone IDAI e cheias
Excelentíssimo Senhor Presidente da República,
Em primeiro lugar, felicito-o por ter chegado, em tempo oportuno, à conclusão de que o não cancelamento da Visita de Estado ao Reino de Eswatini, e que iniciou poucas horas depois de o ciclone IDAI fazer estragos na cidade da Beira e noutros pontos do centro do país e do extremo norte da província de Inhambane, não fora uma decisão feliz. É próprio de pessoas responsáveis se reconciliarem consigo mesmas quando se apercebem de que “meteram água”.
O facto de ter saído do Eswatini directamente para o sobrevoo das regiões afectadas sugere, por um lado, que se o Senhor Presidente da República tivesse tido noção, em tempo oportuno, da real dimensão da tragédia que estava iminente, muito provavelmente não teria abandonado o país e, por outro lado, que se não coibiu de agir como Chefe do Estado e, por essa via, cuidar da superintendência das operações.
A realização da última sessão do Conselho de Ministros na cidade da Beira foi, quanto a mim, uma decisão feliz do Senhor Presidente da República. Sobre a não participação do representante eleito dos beirenses nesse encontro, Daviz Simango, naturalmente como convidado, ainda não tenho opinião formada, havendo “informações contraditórias” quanto ao que terá concorrido para isso. Mas se o Senhor Presidente tiver tomado a decisão de o marginalizar, não o convidando, saiba que terá perdido uma extraordinária oportunidade de se posicionar como Presidente da República de todos, sem “cor partidária” no que aos assuntos de Estado diz respeito.
Excelentíssimo Senhor Presidente da República,
Como bem sabe, a gestão de eventos extremos no país tem sido plataforma para os malandros colocarem em prática os seus apetites criminais e animalescos. E esses malandros acham-se presentes em várias esferas, desde a esfera pública à privada, passando pelas igrejas e associações de vária índole, sem pôr de lado as acções desenvolvidas por grupos informais de titulares de direitos (cidadãos aqui inclusos!), sejam eles moçambicanos ou não.
Quando foi das cheias de 2000, por exemplo, uma avaliação especializada à resposta dada às mesmas, como o Senhor Presidente há-de estar recordado, chegou à conclusão de que houvera muitos malabarismos, incluindo o “misterioso desaparecimento”, do Instituto Nacional de Gestão de Calamidades (INGC), de pouco mais de 100 barcos que tinham sido doados ao país. No mesmo contexto, negligência ou imperícia gerencial ou outra coisa fizera com que toneladas de mantimentos apodrecessem nos armazéns sob a égide do INGC, havendo gente extremamente necessitada. Alguns gestores de topo do INGC foram até julgados por um tribunal de Maputo.
Sobre o INGC, não será exagerado recordar as palavras de Leonardo Simão, na altura ministro dos Negócios Estrangeiros e Cooperação (que tutelava na altura o INGC), sobre a mudança de nome de DPCCN (Departamento de Prevenção e Combate às Calamidades Naturais) para INGC, proferidas numa conferência no Hotel Rovuma, em Maputo: “Concluímos que a imagem do DPCCN estava muito gasta, devido a problemas de gestão e até fraudes, daí a mudança de nome”. Entretanto, o chefe máximo foi mantido, não tendo havido evidências de mudanças substanciais nos sistemas de gestão.
Excelentíssimo Senhor Presidente da República,
A observância de uma gestão transparente, inclusiva e profissional da resposta ao desastre humanitário, que constitui o leit motiv desta missiva, pode nos ajudar, como país, a maximizar os esforços tendentes à mitigação dos impactos negativos do mesmo (desastre humanitário). Nisso, a centralidade do Governo de que o Senhor Presidente da República é chefe constitucional é mais do que óbvia.
Como bem sabe, o Senhor Presidente da República disse, quando proferia o seu ´Discurso Oficial de Investidura´, ali na Praça da Independência, em Maputo, a 15 de Janeiro de 2015, a dado passo do mesmo, que “...promoverei uma governação participativa fundada numa cada vez mais confiança e num efectivo espírito de inclusão”, pouco depois de ter referido, na mesma ocasião, que “O meu compromisso é o de respeitar e fazer respeitar a Constituição e as leis de Moçambique”.
Por falar em leis, no quadro da promoção de uma gestão transparente, inclusiva e profissional da resposta ao desastre humanitário essencialmente pelo centro do país, temos, há já sete anos, um diploma legal que nos ajudaria a promover uma situação tal, nomeadamente a Lei número 7/2012, de 8 de Fevereiro, que estabelece as bases gerais da Organização e Funcionamento da Administração Pública, também conhecida por LEBOFA.
A referida lei, que se aplica aos órgãos e instituições da Administração Pública, bem assim às autarquias locais e demais pessoas colectivas públicas, como o INGC, possui um artigo interessante sobre a participação do cidadão na gestão da coisa pública (artigo 14), que a seguir o transcrevemos na íntegra:
“Artigo 14
(Participação do cidadão na gestão da Administração Pública)
1. Os órgãos colegiais da Administração Pública promovem a integração da sociedade civil interessada na sua composição.
2. Para os efeitos do disposto no número anterior, são considerados membros da sociedade civil os representantes de associações, sindicatos, organizações não-governamentais ou quaisquer outras formas de organização colectiva legítima, cujo objecto esteja relacionado com as atribuições de determinado órgão ou instituição da Administração Pública.
3. O disposto nos números anteriores não é extensivo aos partidos políticos.”
A democratização de órgãos colectivos da Administração Pública e de outras pessoas colectivas públicas, a partir dos seus órgãos colegiais, seria, Senhor Presidente, uma boa notícia para a nossa jovem democracia. E, atentos ao causado pelo ciclone IDAI e cheias, bem assim às lições de um passado (relativamente) recente, aplicar a fórmula de inclusão sugerida pela LEBOFA ao INGC afigura-se mais do que urgente. E, a partir dali, expandir a outras entidades públicas, como os Conselhos de Administração da Rádio Moçambique (RM) e da Televisão de Moçambique (TVM), que, em mais um ano eleitoral, precisam de ser factor de estabilidade e não o contrário.
Obrigado por qualquer atenção dispensada, Senhor Presidente da República.
Ericino de Salema, aos 21 de Março de 2019