Os corpos que eram transportados por uma viatura do Município de Maputo, na última quarta-feira (05), vandalizada por populares, apresentavam suturas que resultam normalmente da realização de autópsias, disse a médica legista do Ministério da Saúde (MISAU) Stela Ouana.
Ouana reagia a um vídeo que gerou indignação e debate nas redes sociais no fim do mesmo dia, quando a população interpelou uma viatura municipal transportando corpos suturados do pescoço até a barriga.
Ela explicou que os hospitais possuem morgues internas, onde os corpos dos falecidos são colocados dentro das enfermarias de forma provisória. A especialista explicou também que existem situações em que essas mortes precisam ser investigadas e para tal são realizadas autópsias.
Essas autópsias não ocorrem apenas para falecidos dentro da unidade de saúde, mas também para corpos que chegam de fora, em casos de suspeita de violência (como agressões físicas, homicídios e outros), em que é necessário esclarecer factos relevantes para a justiça.
Neste contexto, são realizadas autópsias médico-legais, que têm como objectivo não apenas determinar a causa da morte, mas fornecer elementos para os órgãos de administração da justiça, a fim de que o caso tenha o devido acompanhamento.
“Importa referir que, a nível da MISAU, não existe nenhuma lei aprovada para a doação de órgãos. Não existe em Moçambique nenhum acesso a órgãos de nacionais para qualquer finalidade”, afirmou.
Nesse caso, as autópsias são realizadas de forma minuciosa.
“É preciso abrir todo o corpo, fazer a análise de todas as partes e esse processo é realizado por técnicos capacitados e treinados para isso. Quando o processo termina, o corpo é fechado por meio de uma sutura para ser devolvido à sua família”, explicou.
Entretanto, Ouana esclareceu que em Moçambique não se faz a doação de órgãos, mas, nos países onde é feita a extracção para posterior doação, isso deve ocorrer enquanto a pessoa ainda estiver viva, pois, após a morte, esses órgãos já não têm valor.
“As células devem estar vivas para poderem ter o efeito desejado no corpo do receptor. Após a morte do indivíduo, não é possível. As autópsias são realizadas em cadáveres, observando-se todas as estruturas, e depois o corpo é fechado com sutura”, enfatizou.
A fonte falava esta quinta-feira em conferência de imprensa conjunta entre o Ministério da Saúde e o Conselho Municipal de Maputo. Por outro lado, a Vereadora do Pelouro de Saúde do Município de Maputo, Alice de Abreu, esclareceu que a edilidade possui morgues nos Hospitais Central de Maputo, Geral José Macamo e Psiquiátrico de Infulene, bem como nos Centros de Saúde da Katembe e Inhaca, além da morgue anexa ao Cemitério Municipal de Michafutene.
No entanto, o que aconteceu na quarta-feira foi que, durante a actividade normal do município, os corpos foram organizados para serem transferidos para a morgue anexa ao Cemitério de Michafutene, como é habitual, considerando que a morgue do HCM estava lotada e não tinha capacidade para garantir a conservação de mais corpos.
Durante o processo, populares agrediram o motorista e vandalizaram a viatura do Município, expondo em vídeo, os corpos que estavam sendo transportados. “Isso para nós é uma situação muito grave de desrespeito ao munícipe e ao ente querido que estava sendo transportado”, afirmou.
“Tivemos o apoio da polícia, que escoltou a viatura e conseguiu chegar à morgue de Michafutene, onde os corpos foram conservados. Eles estão lá à espera que as famílias possam finalizar o processo administrativo para, posteriormente, realizar o enterro dos seus entes queridos.”
“Desde a abertura da morgue de Michafutene, temos feito a transferência de corpos, não só do Hospital Central, mas também de outros hospitais, pois a morgue de Michafutene tem mais capacidade de conservação. Além disso, este é o cemitério onde são sendo realizados a maior parte dos enterros”, salientou. (M.A)