Perto de uma dezena de bairros, nos municípios de Maputo e Matola, estão sem água potável há pelo menos quatro meses. A situação é tão grave que alguns munícipes da Matola tiveram de abrir uma cova e cortar o tubo geral que leva água para algumas residências, para poderem ter acesso ao líquido precioso. Já em Maputo, os residentes pedem água em algumas empresas.
Letina Mazive, residente no bairro da Mafalala, na capital moçambicana, afirma que a água não jorra na torneira de sua casa há mais de quatro meses. Ao longo deste período, as facturas das Águas da Região Metropolitana de Maputo (AdrM) não param de chegar, mas ela é obrigada a acordar às 03h00 para pedir o líquido precioso numa das empresas localizadas na Avenida Joaquim Chissano.
“Não jorra água nas nossas casas há quatro meses. Já reportamos ao FIPAG, mas eles nada fazem e não dão uma explicação plausível para o problema. O mais engraçado é que esta situação ocorre apenas numa parte do bairro. Estamos a sofrer”, relata.
“O mais chato é que o proprietário da empresa onde pedimos água já não nos quer oferecer e criou condições para fechar a torneira, mas os meus vizinhos costumam invadir as instalações e tirar água à força”, afirmou.
Situação semelhante é vivida no bairro Urbanização, também na cidade de Maputo. José Simbine comenta: “Não sai água há mais de três meses, nem para lavar a loiça. Não temos alternativa, pois nas torneiras não sai água. Todos os dias somos obrigados a fazer longas filas em algumas residências onde jorra água, mas isso tem de ser feito a partir das 03h00, porque depois disso não conseguimos mais água”.
“Não temos água, mas não paramos de receber facturas fantasmas há mais de quatro meses e não sabemos que tipo de leituras são feitas pelos funcionários do FIPAG. Quando vamos reclamar, dizem para pagar e depois reclamar”, explicou.
No bairro Luís Cabral, também na cidade de Maputo, próximo à portagem de Maputo, muitas famílias relatam que passam o dia nas residências dos vizinhos onde há água. Quando eram 12h00 desta segunda-feira, surpreendemos Laurinda Manguele com um balde de 25 litros de água na cabeça. Com sentimento de tristeza e cansaço, ela limitou-se a dizer: “Se o FIPAG tem dificuldades em nos dar água, porque não retira as torneiras nas nossas casas”, questionou.
“Não me lembro da última vez que vi água jorrar na torneira da minha casa. Lembro-me que, quando tudo começou, éramos obrigados a passar a noite com as torneiras abertas na esperança de ter um pouco de água ao amanhecer. Mas isso nunca acontecia, o que demonstra que em nenhum momento a água jorrou das torneiras. Hoje vivo andando de casa em casa, tentando buscar água, e os vizinhos só aceitam que a gente tire entre quatro a oito baldes, sendo que alguns pedem ajuda para compartilhar as facturas. No meio de tudo isto, o mais agravante é o facto de estarmos a receber facturas todos os meses”, relatou.
Facto semelhante é relatado por Aida Nhamtumbo, residente no bairro do Matola-H, no município da Matola. Ela afirma que não jorra água na torneira da sua casa há mais de um mês, e neste período recebeu uma factura de mais de 1.000 Mts.
“É estranho recebermos facturas com esses valores absurdos, sendo que, mesmo em dias normais, a água sai das 03h00 da madrugada às 08h00 da manhã. Neste período, não é possível consumirmos água de mais de 1.000 Meticais para uma família de três a quatro membros. Mas estas facturas são recorrentes, até em momentos em que a água não jorra”, destacou.
“Assim, para termos acesso à água, tivemos de cortar o tubo geral que leva água para as nossas residências e, mesmo assim, somos obrigados a acordar às 03h00 da madrugada, porque há filas longas no local”.
Em entrevista concedida na última segunda-feira à TV Miramar, o director provincial das Águas da Região Metropolitana de Maputo, Francisco Tamele, esclareceu que quem fixa o preço da água é o Conselho de Regulação de Águas, entidade que estuda as dinâmicas do ponto de vista do nível de vida e da capacidade para o pagamento. A AdrM apenas cumpre e aplica esses preços.
Entretanto, para os casos em que os consumidores reclamam de tarifas altas, a fonte afirmou que isso se deve a uma fuga nos contadores, o que agrava o consumo nas residências.
Sobre a obrigação de pagar a factura e depois reclamar, Tamele esclareceu que esta medida não é correcta. “Cada factura alvo de reclamação deve ter o pagamento suspenso imediatamente, para que o problema seja esclarecido”, detalhou.
Quanto aos casos em que a água não sai das torneiras, mas o consumidor é obrigado a pagar, Tamele disse: “a taxa que os consumidores pagam, mesmo sem água nas torneiras, é a de disponibilidade de serviço. Isso significa que, se o cliente tem o furo de água da AdrM, mesmo sem consumir, deve pagar a taxa fixa, que não é determinada pela AdrM, mas sim pelo Conselho de Regulação, podendo ser de 220 Meticais para os consumidores da categoria social”. (M.A.)