Assustados, traumatizados e com medo de voltar a embarcar num transporte de passageiros de longo curso é como estão alguns dos sobreviventes do acidente de viação ocorrido na noite do último sábado, no distrito da Manhiça, província de Maputo, que matou 32 pessoas (31 no local do sinistro) e feriu outras 28, das quais 12 com gravidade.
Este sentimento foi manifestado à “Carta” por algumas vítimas daquele trágico acidente, que continuam internadas na Ortopedia do Hospital Central de Maputo (HCM), a maior unidade sanitária do país. No total, o HCM internou 11 vítimas da tragédia da Manhiça, entre as quais, uma criança de dois anos de idade, que se encontra internada na Cirurgia Pediátrica. O Departamento de Ortopedia conta com quatro pacientes deste sinistro.
Um dos sobreviventes do acidente e que já está fora do perigo é Osvaldo Crimildo, que reside na cidade da Maxixe, província de Inhambane. A vítima conta que regressava da cidade da Beira, capital provincial de Sofala, e o seu destino era o distrito de Matutuine, concretamente a Reserva Especial de Maputo, seu local de trabalho.
À “Carta”, Crimildo disse sentir-se melhor em relação aos dias anteriores até porque tem sido bem tratado pelos profissionais da saúde, porém, ainda traumatizado devido ao cenário que viveu naquela noite do dia 03 de Julho.
Quem também não se esquece do que aconteceu naquela noite é Manuel João, residente na cidade de Maputo, e que agradece a Deus por lhe ter protegido do pior. “Agradeço a Deus por termos sobrevivido, mas o acidente não sai da minha cabeça. O motorista estava cansado, conduziu sozinho durante todo o percurso e à alta velocidade”, explicou a fonte, que se encontra internada junto com a sua esposa e filho.
“Eu estou assustada, estou traumatizada, estou com medo, o que vi nunca havia visto, se hoje estou de óculos é porque vários estilhaços de vidro entraram nos meus olhos”, conta Vânia Muchanga, residente na cidade da Beira, e que vinha a Maputo para realizar algumas consultas médicas.
“Diante de tudo que vi, não consigo acreditar que hoje estou aqui. Tenho amigas que estão numa situação pior”, sublinhou.
O Director do Departamento de Ortopedia do HCM, António Da Costa, garante que nenhum dos quatro internados naquele local corre risco de vida, porque o pior foi controlado durante a cirurgia.
Refira-se que, devido ao acidente ocorrido no distrito da Manhiça, o Governo decretou dois dias de luto nacional (com efeitos a partir de ontem) e decidiu criar uma Comissão de Inquérito Independente e Multidisciplinar, com o objectivo de apurar as causas do sinistro e propor medidas para travar os acidentes de viação em Moçambique. (Marta Afonso)