A directora-executiva do Centro de Aprendizagem e Capacitação da Sociedade Civil (CESC), Paula Monjane, considera que os cortes do actual Governo dos Estados Unidos da América à ajuda internacional respondem a um novo paradigma assente no conceito de que o apoio deve ter como contrapartida as oportunidades de negócios e não o mero altruísmo.
“Há uma conjuntura muito mais virada para guerras e para negócios, cujo impacto resulta na redução de recursos que eram canalizados para o apoio humanitário internacional (…)”, afirmou Monjane, em declarações à “Carta”.
“Aqui, em Moçambique, há embaixadas que alteraram a composição do seu staff (preenchendo com pessoal mais vocacionado para a projeccão dos interesses económicos e empresariais dos seus países e não para a ajuda ao desenvolvimento)”, avançou.
Nesse sentido, as ordens executivas de Donald Trump, de desmantelar a Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID), seguem a tendência de diminuição ou mesmo retirada de apoio internacional por razões geoestratégicas, prosseguiu.
“Há uma tendência clara, ao nível mundial, de redução de recursos, desde 2010 a 2011. A ajuda é em função do interesse nos negócios. Todos os financiadores, à excepção da União Europeia, e não sabemos até quando, estão a reduzir os seus recursos. O Reino Unido anunciou que vai reduzir, depois desta ordem executiva de Donald Trump, mas já vinha reduzindo, e o mesmo sucede com os Países Baixos e a Finlândia”, afirmou a directora-executiva do CESC.
No caso do corte da ajuda norte-americana, o impacto é mais devastador, porque os EUA alocavam recursos colossais, sobretudo em áreas como saúde e educação, prosseguiu Paula Monjane. “Como organizações da sociedade civil, vamos ter de lutar para encontrar alternativas e manter a nossa missão, porque o efeito da redução de recursos é significativo”, enfatizou Monjane.